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Homilia de Dom Geraldo Lyrio Rocha na Solenidade de Corpus Christi, em Mariana, aos 26 de junho de 2016.
A Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Jesus Cristo, neste ano, ganha especial relevo, pois, com esta celebração, nós nos colocamos em sintonia com o XVII Congresso Eucarístico Nacional, que se realizará de 15 a 21 de agosto, em Belém do Pará, que neste ano comemora o IV Centenário de sua fundação e do início da evangelização da Amazônia brasileira. Terá como tema EUCARISTIA E PARTILHA NA AMAZÔNIA MISSIONÁRIA e o lema: “Eles o reconheceram no partir o pão” (Lc 24,35).
O texto-base preparatório para esse Congresso se inicia com uma bela citação das Catequeses de São Cirilo de Jerusalém, no século IV, que afirma: “Na noite em que foi entregue, nosso Senhor Jesus Cristo tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e deu-o a seus discípulos dizendo: ‘Tomai e comei: isto é o meu corpo'. Em seguida, tomando o cálice, deu graças e disse: ‘Tomai e bebei: isto é o meu sangue'. Tendo, portanto, pronunciado e dito sobre o pão: ‘Isto é o seu corpo', quem ousará duvidar? E tendo afirmado e dito: ‘Isto é o meu sangue', quem se atreverá ainda a duvidar e dizer que não é o seu sangue? Recebamos, pois, com toda a convicção, o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo. Porque sob a forma de pão é o corpo que te é dado, e sob a forma de vinho, é o sangue que te é entregue. Assim, ao receberes o corpo e o sangue de Cristo, tu te transformas com ele num só corpo e num só sangue. Deste modo, tornamo-nos portadores de Cristo; tornamo-nos, como diz São Paulo, participantes da natureza divina”.
SENHOR, DÁ-NOS SEMPE DESTE PÃO
O texto-base apresenta reflexões teológico-pastorais como uma “peregrinação” por lugares carregados de sentido teológico: Jerusalém, Emaús, Belém da Judeia e Nazaré na Galileia.
Vamos a Jerusalém, onde Jesus instituiu a Eucaristia: Quando estava para ser entregue, em Jerusalém, Jesus antecipou, na instituição da Eucaristia, sua entrega de amor, selado na Cruz e na Ressurreição, dando à Igreja a responsabilidade de torná-lo presente, até sua vinda no final dos tempos.
A instituição da Eucaristia, celebrada no contexto da ceia pascal judaica, tem caráter sacrifical. Nela, Jesus antecipa o Sacrifício da Cruz e a vitória da ressurreição. A Eucaristia, banquete sacrifical, sacramento do sacrifício da cruz é, pois, memorial, comunhão e presença. Disse Jesus:
“EU SOU O PÃO VIVO DESCIDO DO CÉU”.
Sigamos para Emaús, onde os dois discípulos reconheceram Jesus na fração do pão. Estavam tristes e abatidos pela tragédia da morte do Mestre. Quando chegaram perto do povoado para aonde se dirigiam, Jesus fez de conta que ia mais adiante. Eles o convidam dizendo: “Fica conosco, porque é tarde e o dia já declina”. Jesus aceitou o convite. Ao partir o pão, os olhos deles se abriram, pois estavam como que impedidos de reconhecer o Senhor. E Jesus desaparece no momento em que os dois discípulos o reconheceram. E disseram um ao outro: ”Não ardia o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras”? “Eles o reconheceram no partir do pão”.
FICA CONOSCO, SENHOR!
Vamos a Belém, que significa Casa do Pão, a terra de Davi, onde ele nasceu e cresceu até tornar-se rei de Israel. Daí veio o Messias, aquele que um dia iria dizer: “Eu sou o pão da Vida. Este pão é o que desce do céu. O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo” (cf. Jo 6, 48-51). A Eucaristia, “pão vivo descido do céu”, é a mais bela expressão da presença amorosa de Cristo, celebrada como memorial e realidade viva e sacramental do Senhor no meio de nós.
Como Belém da Judeia, também Belém do Pará significa Casa do Pão. A fundação daquela cidade, há quatrocentos anos, marca o início da Evangelização da Amazônia. Para celebrar condignamente esse evento, Belém acolhe o XVII Congresso Eucarístico Nacional, “festa da partilha do Pão da Vida que é Jesus, a fim de que daí brote vida nova, nascida do Altar, para nossa Pátria”, que vive momentos difíceis em sua história. Que Belém seja sempre a “casa do Pão” para todos os seus filhos. Que aí se realize cada dia o milagre da multiplicação do pão da justiça, da solidariedade, da verdade, da fraternidade e da paz. Diante da fome, miséria, sofrimento e das carências de tantos irmãos e irmãs necessitados, coloquemos em prática a palavra que hoje o Senhor nos dirige:
“DAI-LHES VÓS MESMOS DE COMER”
Nossa peregrinação se encerra em Nazaré, na Galileia, onde Jesus viveu, trabalhou e fez a experiência da família. A Nazaré menosprezada de onde se perguntava: “De Nazaré pode sair algo de bom?” (Jo 1, 46). A Galileia onde Jesus passou a maior parte de sua vida e de seu ministério. A Galileia sem importância, que levou os fariseus a declarar a Nicodemos: “Estuda e verás que da Galileia não surge profeta”.
Na Galileia, Jesus foi confrontado, questionado, incompreendido, desacreditado e perseguido, a ponto de fazer esse desabafo: “Em verdade vos digo que nenhum profeta é bem recebido em sua pátria” (cf. Lc 4,24). Após a Ressurreição, o Senhor ordenou aos discípulos que voltassem àquela região: “Ide anunciar a meus irmãos que vão para a Galileia. Lá me verão”. Vamos à Galileia da missão nas situações desafiadoras de nosso tempo. Não podemos ficar reclusos ao ambiente aconchegante do Cenáculo. Temos que ser uma Igreja “em saída”, na expressão do Papa Francisco, para a Galileia das periferias geográfias e existenciais. A Galileia das encruzilhadas, das populações mestiças, dos pagãos. A Galileia das contradições, dos desafios, das incompreensões, das oposições, do desprezo e dos desencontros nos aguarda para o anúncio profético. “O XVII Congresso Eucarístico Nacional quer suscitar a partilha missionária para um novo impulso evangelizador na grande região amazônica”, conforme proclama o lema deste Congresso:
EUCARISTIA E PARTILHA NA AMAZÔNIA MISSIONÁRIA
Vivamos a Eucaristia com espírito de fé, de oração, de perdão, de reconciliação, de misericórdia, de júbilo comunitário, de solicitude pelas carências de tantos irmãos e irmãs necessitados. Pela força da Eucaristia, na prática das obras de misericórdia, neste Ano Santo, instituído pelo Papa Francisco, sejamos reanimados na certeza de que o Senhor cumprirá aquilo que nos prometeu: “Quem comer a minha carne e beber o meu sangue terá a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6, 54). Amém!
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