Arquidiocese de Mariana
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Depende do nosso olhar...


João Batista levava uma vida austera. Vivia no deserto, fazia jejum, pregava com ardor e coragem. Mesmo assim, houve gente pra dizer que ele estava possuído pelo demônio. Jesus Cristo gostava de estar no meio do povo, sem preconceito ou qualquer discriminação. Tomava refeição com os outros, participava de festas, visitava as famílias. Disseram que era um comilão e um beberrão (cf. Mt 11,18-19).


Sua preocupação era acolher bem a todos, dar carinho, orientar, curar, despertar esperança, ajudar a pessoa a encontrar um sentido para a vida, oferecer a salvação, revelar o rosto misericordioso do Pai. Contudo, muitos não conseguiam perceber isso. Só queriam saber se ele estava cumprindo os preceitos da Lei nos seus mínimos detalhes (cf. Mc 3,1ss).


Jesus olhava uma prostituta, um cobrador corrupto, uma mulher que já estava no sexto ‘casamento' e via ali dentro um coração capaz de amar, de fazer o bem, de evangelizar. Muita gente olhava para Jesus, que andava “por toda parte fazendo o bem” (cf. At 10,38) e via nele um transgressor, alguém que precisava ser apedrejado e expulso, que merecia ser crucificado.


Dom Luciano Mendes, exemplo de pastor, sempre foi um homem de Deus. Quem o conheceu e pôde conviver com ele sabe da sua humildade, despojamento, opção radical pelo menor, pelo excluído. Pôde testemunhar sua capacidade de se doar, perdoar, sacrificar-se pelo outro. Mas alguém teve a ousadia de dizer que ele e tanto outros parecidos com ele “erraram de caminho”.


O mundo é mesmo assim. É a diversidade e a limitação humana. Há muita gente que se depara com um pântano mau cheiroso e consegue descobrir ali flores lindas e perfumadas. Por outro lado, como dizia Leon Tolstoi, “há quem passe por um bosque e só veja lenha para a fogueira”.


Nosso querido para Francisco tem sido um sinal bonito do Bom Pastor. Exemplo de humildade, abertura, respeito, coragem profética, sensibilidade. E isso já vem de muito tempo. Não tanto nos discursos, mas na postura. Mesmo assim, tem muita gente incomodada e irada. De olho pra ver se dá um pequeno escorregão. Querendo apanhá-lo em alguma palavra ou gesto para desmoralizá-lo.


Talvez seja essa uma das muitas razões que o levaram a começar seu pontificado nos convidando a expressar nossa fé com mais alegria do que cobranças e ameaças, a fazer da Igreja uma casa que acolhe, ao invés de alfândega que cobra e fiscaliza; e agora nos convida a ser “misericordiosos como o Pai”.


O Ano da Misericórdia é um convite a olhar o mundo com os olhos de Deus; ver as pessoas com o olhar de Jesus Cristo e avaliá-las com os mesmos sentimentos do seu coração. Assim, iremos experimentar ou “redescobrir a alegria da ternura de Deus”, que perdoa e tem compaixão de todos, sobretudo dos mais frágeis e pecadores. Um Deus cujo poder se revela na capacidade de perdoar, e que nos ama, não porque merecemos, mas porque sem ele nada somos, e porque “eterna é a sua misericórdia” (Sl136). Ao fazer essa experiência, certamente nos tornaremos também mais humanos e sensíveis, mais compreensivos e misericordiosos, enxergando o outro além das aparências, perdoando como Deus nos perdoa, torcendo pra ver o outro feliz.


Padre José Antônio de Oliveira




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