Arquidiocese de Mariana
Atingidos pelo Rompimento das Barragens

09/set/2014
Manifesto pede o fim da violência na região de Mariana

14-09-09 - Seminário violência

Preocupados com o avanço da violência, representantes das sete paróquias que compõem a forania de Mariana e moradores de toda a região se reuniram, no Colégio Providência, para discutir o tema “Por uma cultura de paz e pelo fim da violência”.  O encontro, que contou com exposições do pároco da Igreja de Nossa Senhora da Assunção, Cônego Nedson Pereira de Assis, do padre Wander Torres, assessor arquidiocesano da Pastoral da Juventude e do professor da Universidade de Viçosa, Geraldo Emery, teve a participação de cerca de 170 pessoas.

Segundo padre Nedson, é preciso ver o problema com profundidade antes de enfrenta-lo, por isso o seminário foi um passo importante dado pela comunidade marianense. “O que desejamos para a vida dos cidadãos de Mariana e para nossas famílias? Desejamos que a vida humana seja respeitada. E para isso é urgente e indispensável encarar o problema da violência com sinceridade para tomarmos consciência das formas e dimensões que ela assume entre nós. Não basta somente olhar para o problema, é preciso antes de tudo olhar e combater as causas”, explicou o padre.

Ao final do encontro, foi aprovado um manifesto, onde os participantes, entre outras coisas, apelam ao poder público que se dedique na construção de uma cultura de paz. “Fazemos chegar aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário nosso veemente apelo a que dediquem o melhor de seu tempo e de seu trabalho a construir caminhos que levem à paz. Nossas famílias, nossas crianças, nossos jovens, nossos idosos não podem mais viver acuados pelo medo ou reféns da incontrolável violência que nos atinge a todos”, afirmam os participantes no texto.

O problema da violência na região também será tratado em Audiência Pública que acontecerá no dia 25 de setembro, às 18h, no Centro de Convenções de Mariana, que fica na Praça JK, ao lado da Prefeitura.

Manifesto do Seminário “Por uma cultura de paz”

 

Convocados pelas paróquias do município de Mariana, nós, os participantes do Seminário “Por uma cultura de paz e pelo fim da violência”, realizado no Colégio Providência no dia 4 de setembro de 2014, em Mariana-MG, vimos manifestar nosso compromisso com a construção de uma cultura de paz em nossas famílias e comunidades, rejeitando todo tipo de violência que agride a dignidade humana, ceifa vidas e espalha insegurança.

A paz é obra da solidariedade e da justiça, como nos lembra o salmista: “justiça e paz se abraçarão”! (Sl 85, 10b), mas também da fraternidade. Com o papa Francisco afirmamos que a paz “só pode ser conquistada e usufruída como melhor qualidade de vida e como desenvolvimento mais humano e sustentável, se estiver viva, em todos, ‘a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum’. Isto implica não deixar-se guiar pela avidez do lucro e pela sede do poder. É preciso estar pronto a perder-se em benefício do próximo em vez de explorá-lo, e a servi-lo em vez de oprimi-lo para proveito próprio”.

Rejeitamos toda acusação que aponta os pobres como responsáveis pela violência. Isso também é violência.  É preciso ter claro o que disse o papa Francisco: “sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há de provocar a explosão”. E ainda: “Quando a sociedade – local, nacional ou mundial – abandona na periferia uma parte de si mesma, não há programas políticos, nem forças da ordem ou serviços secretos que possam garantir indefinidamente a tranquilidade”. Sabemos que o atual sistema social e econômico, injusto na sua raiz, leva à violência e não contribui para a paz (cf. Evangelii Gaudium 59). 

Apelamos aos que praticam a violência a olhar o outro como irmão e irmã. Fazemos nosso o pedido do papa Francisco: “naquele que hoje vocês consideram apenas um inimigo a abater, redescubram o seu irmão e detenham a sua mão! Renunciem a via das armas e vão ao encontro do outro com o diálogo, o perdão e a reconciliação para reconstruir a justiça, a confiança e esperança ao seu redor!” (Mensagem para o Dia Mundial da Paz, 2014, n. 7). Exortamos a todos: sejam imitadores de Deus, como filhos queridos. Vivam no amor, assim como Cristo nos amou.  Comportem-se como filhos da luz  com toda bondade, justiça e verdade (cf. Ef 5, 1. 8b. 9).

Fazemos chegar aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário nosso veemente apelo a que dediquem o melhor de seu tempo e de seu trabalho a construir caminhos que levem à paz. Nossas famílias, nossas crianças, nossos jovens, nossos idosos não podem mais viver acuados pelo medo ou reféns da incontrolável violência que nos atinge a todos. Intensifiquem-se políticas públicas que ponham fim às desigualdades sociais em nosso município e garantam a todos o acesso igualitário aos bens necessários à vida com dignidade; eliminem-se as estreitezas políticas que impedem o diálogo e a busca comum de solução para os problemas que nos afligem; combata-se tenazmente o tráfico de drogas, inimigo poderoso da paz; ponha-se fim aos privilégios e à impunidade que estimula a violência; cuide-se, de maneira prioritária, da educação, porta de entrada para a formação de cidadãs e cidadãos comprometidos com a paz; assegure-se a todos a liberdade de viver e testemunhar sua crença, rejeitando-se toda e qualquer forma de intolerância.

Acreditamos que a paz é possível quando todos nos comprometemos com sua construção. Deus nos ajude a perseguir o ideal de fazer de nosso município uma casa em que todos vivamos como irmãos e irmãs, fazendo de nossas diferenças nossa maior riqueza e caminho seguro para a paz. Então, sim, viveremos a bem-aventurança proclamada por Jesus: “Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9).

Mariana, 4 de setembro de 2014