Homilia de Dom Geraldo na missa do 23° Grito dos Excluídos

07/09/2017 às 20h47

Na Celebração Eucarística, diante do Santuário do Bom Jesus, em Congonhas, por ocasião do Grito dos Excluídos, Dom Geraldo Lyrio Rocha, Arcebispo de Mariana, fez a seguinte homilia:

VIDA EM PRIMEIRO LUGAR

POR DIREITOS E DEMOCRACIA,

A LUTA É TODO DIA!

Nesta celebração, no Dia da Pátria, quando em todo o Brasil se realiza o Grito dos Excluídos, aqui, diante do Santuário do Senhor Bom Jesus, ressoam aos nossos ouvidos e ao coração, as palavras do Apóstolo Paulo, há pouco proclamadas: “Deveis levar uma vida digna do Senhor, para lhe serdes agradáveis em tudo. Deveis produzir frutos em toda boa obra e crescer no conhecimento de Deus, animados de muita força, pelo poder de sua glória, de muita paciência e constância” (Col. 1,10). Essa força e essa constância são indispensáveis para proclamarmos: “VIDA EM PRIMEIRO LUGAR”enão desistirmos em nosso empenho“POR DIREITOS E DEMOCRACIA, A LUTA É TODO DIA”!

Como ouvimos no Evangelho, diante da palavra de Jesus, “lançai as vossas redes para a pesca” (Lc 5,4), Simão Pedro respondeu: “Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Mas em atenção à tua palavra, vou lançar as redes”. Pedro lança as redes novamente, embora aquela não fosse a melhor hora, pois, pesca em alto mar se faz na alta madrugada, quando ainda está escuro. Foi aí que se deu a pesca milagrosa!Não são as evidências humanas que nos levam a lançar as redes novamente. Perseveramos na luta porque acreditamos na palavra do Senhor: “Lançai as vossas redes para a pesca” (Lc 5,4). Não podemos desistir. Ele é quem sabe qual o momento da pesca milagrosa.

O Grito dos Excluídos, realizado pela 23ª vez, neste ano de 2017, tem como lema: “POR DIREITOS E DEMOCRACIA, A LUTA É TODO DIA”.Vivemos tempos difíceis. Direitos e avanços democráticos estão ameaçados. Celebrado aos pés do Senhor Bom Jesus, o Grito dos Excluídos deve nos estimular a continuar lançando as redes nas águas profundas de nossa realidade dura e sofrida; anos despertar para a solidariedade; anos encorajar para a organização popular; a renovar nossa esperança; a alimentar nosso compromisso cristão na luta por uma sociedade justa, fraterna e solidária. Como disse o querido e saudoso Dom Luciano, “Diante do sofrimento do povo, somos chamados mais do que nunca a assumir, de fato, o compromisso cristão a serviço da vida e da esperança” (Dizer o TestemunhoII, Paulinas, 2016, p. 200) e seguindo a ordem do Senhor, por causa de sua palavra, vamos continuar a lançar as redes (cf. Lc 5,5).Irmãos e irmãs, como diz o Papa Francisco, “não deixemos que nos roubem a esperança!”(EG 86).

No momento que vivemos, somos interpelados por uma realidade que nos apresenta enormes desafios: “A crise se manifesta na recessão, na crescente desigualdade da distribuição de renda, na desvalorização do trabalho, no aviltamento do salário e da aposentadoria e na triste marginalização de grande parte do povo. Deterioram-se as condições de saúde, moradia e educação. Aumenta a fome. Violam-se direitos dos indígenas e continua o bárbaro extermínio das crianças. A situação é agravada pela corrupção e impunidade. Aumenta o descrédito nas instituições e falta transparência nos modos de administrar os recursos provindos do povo. A raiz da crise é de natureza ética e atinge a vida econômica e política do país” (Dizer o TestemunhoII, Paulinas, 2016 p. 192).Isso foi dito, com voz profética, pelo Servo de Deus Dom Luciano, em 1991. Parece queele estava se referindo aos tempos atuais. É preciso, pois, abrir os olhos para enxergar o que está acontecendo em nosso País e regaçar as mangas para lutar pela VIDA EM PRIMEIRO LUGAR e POR DIREITOS E DEMOCRACIA. 

Em sua Mensagem para as celebrações do dia 7 de setembro, diz a Presidência da CNBB: “A sociedade brasileira está cada vez mais perplexa, diante da profunda crise ética que tem levado a decisões políticas e econômicas que, tomadas sem a participação da sociedade, implicam em perda de direitos, agravam situações de exclusão e penalizam o povo brasileiro pobre”.

A Nota publicada pelo Cardeal Dom Cláudio Hummes e Dom Erwin Kräutler, Presidente e Vice-presidente da Comissão da CNBB para a Amazônia, afirma que o decreto sobre a Reserva Nacional de Cobre e Associados, baixado pelo Executivo (que foi suspenso mas não revogado) “vilipendia a democracia brasileira, pois com o objetivo de atrair novos investimentos ao país o Governo brasileiro consultou apenas empresas interessadas em explorar a região”.Estamos , pois, diante dessa realidade que ameaça a vida e gera retrocesso diante de conquistas da sociedade brasileira.

Para que não pensemos que, apenas com nossas forças seremos capazes de construir uma nova sociedade, acolhamos a proposta da CNBB de celebrar hoje um dia de oração e jejum pelo Brasil. O Reino de Deus, que queremos ver implantado nesta terra, é dom de Deus e fruto do esforço humano.Com o Bom Jesus, depositamos nossas preces, no coração misericordioso do Pai, implorando que nos ajude com sua graça, a vencer as tormentas do momento presente e conceda paz, justiça, alegria, verdadeiro desenvolvimento e condições dignas de vida e exercício pleno da cidadania a todo o povo brasileiro.

Ao Deus de bondade, Senhor da Vida e da História, nós imploramos:

Pai misericordioso, em nossa Pátria vivemos um momento triste, marcado por corrupção,injustiçae violência. Necessitamos muito do vosso amor misericordioso, para nos ajudar a construir uma sociedade democrática e solidária onde a vida esteja em primeiro lugar.

PAI MISERICORDIOSO, NÓS VOS PEDIMOS PELO BRASIL!

Ó Pai, estamos indignados, diante de tanta violência que espalha morte e insegurança. Pedimos perdão e conversão. Que vosso amor misericordioso que nos ajude a vencer as causas dos graves problemas do País: injustiça e desigualdade, ambição de poder e ganância, corrupção, exploração e desprezo pela vida humana. 

Ó DEUS, VINDE EM NOSSO AUXÍLIO!

Senhor, nosso Deus, ajudai-nos a construir um país justo e fraterno. Que todos estejam atentos às necessidades das pessoas mais fragilizadas e indefesas. Que o diálogo e o respeito vençam o ódio e os conflitos. Que as barreiras sejam superadas por meio do encontro e da reconciliação. Que a política esteja, de fato, a serviço da pessoa e do bem comum, e não dos interesses particulares, partidários e de grupos!

DEUS DE BONDADE, SOCORREI-NOS!

Deus nosso Pai, vosso Filho Jesus nos ensinou: “Pedi e recebereis”. Por isso, nós vos pedimos confiantes: fazei que nós, brasileiros e brasileiras, sejamos artesãos da paz e construtores da justiça, iluminados pela Palavra e alimentados pela Eucaristia.

SENHOR, FAZEI DE NÓS INSTRUMENTOS DE JUSTIÇA E PAZ!

Pai de bondade, o Bom Jesus, vosso filho e nosso irmão, está no meio de nós, reunidos em seu amor, trazendo-nos esperança e força para caminhar. A Eucaristia que estamos celebrando seja fonte de comunhão fraterna e de paz, em nossas comunidades, nas famílias e nas ruas, nos movimentos sociais, na participação política e em nossa luta por direitos e democracia. Seguindo o exemplo de Maria, queremos permanecer unidos a Jesus Cristo e caminhar na força do Espírito Santo, para que a “vida esteja em primeiro lugar”.

Ó PAI, AJUDAI-NOS NA LUTA POR DIREITOS E DEMOCRACIA!

 


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