Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana
Estamos vivendo no Brasil o Ano Mariano, em preparação para a Festa de Nossa Senhora Aparecida, no ano do tricentenário do encontro de sua venerável imagem. As sábias orientações do Beato Paulo VI, em sua Exortação Apostólica Marialis Cultus, muito nos têm ajudado a aprofundar nossa reflexão sobre o culto à Bem-aventurada Virgem Maria.
“Exemplar de toda a Igreja, no exercício do culto divino, Maria é também, evidentemente, mestra de vida espiritual para cada um dos cristãos. Assim, bem cedo os fiéis começaram a olhar para Maria, a fim de, como ela, fazerem da própria vida um culto a Deus, e do seu culto um compromisso vital” (MaC 21). Mas, segundo o ensinamento do Beato Paulo VI, “Maria é modelo, sobretudo, daquele culto que consiste em fazer da própria vida uma oferenda a Deus”, e acrescenta que o "sim" de Maria é para todos os cristãos lição e exemplo, na obediência à vontade do Pai, tornando-se assim o caminho e o meio da própria santificação (cf. MaC 22). A Igreja procura traduzir em atitudes cultuais as relações que a unem a Maria: em veneração profunda, quando reflete na dignidade singular da Virgem Santíssima, que, por obra do Espírito Santo, se tornou Mãe do Verbo Encarnado; em amor ardente, quando considera a maternidade espiritual de Maria para com todos os membros do Corpo Místico; em invocação confiante, quando experimenta a necessidade de intercessão da sua advogada e auxiliadora (LG 62); em serviço amoroso, quando descobre na humilde Serva do Senhor a Rainha da misericórdia e a mãe da graça; em imitação operosa, quando contempla a santidade e as virtudes da "cheia de graça" (Lc 1,28); em admiração comovida, quando vê nela, "como em imagem puríssima, o que ela, toda ela, deseja e espera com alegria ser" (SC103); em estudo atento, quando vislumbra na cooperadora do Redentor, já participando plenamente dos frutos do Mistério Pascal, a realização profética do seu futuro pela qual anela, até ao dia em que purificada de qualquer mancha ou ruga (cf. Ef 2,27), se tornará como uma esposa adornada para o seu esposo, Jesus Cristo (cf. Ap 21,2) (cf. MaC 22).
O Beato Paulo VI conclui essa parte de sua Exortação Apostólica afirmando que a Liturgia, pelo seu proeminente valor cultual, constitui uma norma de ouro para a piedade cristã. A Igreja, quando celebra os sagrados mistérios, assume uma atitude de fé e de amor semelhante à da Virgem Santíssima. Assim, poderemos compreender quão justa é a exortação do Concílio Vaticano II a todos os filhos da Igreja, "para que promovam generosamente o culto, especialmente litúrgico, à bem-aventurada Virgem Maria" (LG 67). Exortação esta, que desejaríamos ver, por toda a parte, acatada sem reservas e posta em prática com zelo (cf. MaC 23). A seguir o Papa Paulo VI recorda que “o mesmo Concílio Vaticano II exorta a que, ao lado do culto litúrgico, se promovam outras formas de piedade, sobretudo aquelas que têm sido recomendadas pelo Magistério (LG 67). Como é bem conhecido, a veneração dos fiéis para com a Mãe de Deus tem revestido, de fato, formas multíplices, de acordo com as circunstâncias de lugar e de tempo, com a diversa sensibilidade dos povos e com as suas diferentes tradições culturais. Disso resulta que, sujeitas ao desgaste do tempo, essas formas em que se expressa a piedade se apresentem necessitadas de renovação, que dê azo a nelas serem substituídos os elementos caducos, a serem valorizados os perenes, e a serem incorporados os dados doutrinais adquiridos pela reflexão teológica e propostos pelo Magistério eclesiástico” Ora, isto põe em evidência a necessidade de se favorecer a uma genuína atividade criadora e proceder, simultaneamente, a uma diligente revisão dos exercícios de piedade para com a Virgem Santíssima” (cf.MaC 24).