Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
O mistério da solenidade da Assunção de Maria ao céu aparece claro nos textos litúrgicos desta solene festa mariana. No Evangelho a Mãe de Jesus se mostra como a humilde serva do Senhor e na primeira leitura ela é apresentada, na visão de São João, como a mulher revestida de sol e coroada de doze estrelas. A explicação desta transformação está nas palavras da saudação de Isabel. A primeira teóloga do Novo Testamento: “ Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre. E donde me é dado a graça que venha visitar-me a mãe do meu Senhor? (Lc 1,42-43) Na sua encíclica sobre a fé, intitulada Lumen Fidei o papa Francisco assim se expressou: “A Mãe do Senhor é o ícone da fé (...) Na mãe de Jesus, com efeito, a fé manifestou todo o seu fruto” (LF 58). Uma fecundidade integral bem explicada pelo Chefe da Igreja: “Na plenitude dos tempos, a Palavra de Deus foi dirigida a Maria e ela a acolheu com todo o seu ser, no seu coração”. Ela, realmente, ao dizer ao Anjo no momento da Anunciação “que tudo se faça segundo a tua palavra” se engajara ainda mais plenamente nos desígnios de Deus. Foi uma adesão total, sem condições, um sim sem disposições restritivas. Ela se colocou nas mãos de seu Senhor de corpo e alma e, porque foi uma entrega absoluta de todo o seu ser, no término de sua passagem por esta terra entrou de corpo e alma nos palácios do grande Rei, sendo com toda a justiça glorificada. Eis porque a Igreja festivamente celebra sua Assunção , ela Mãe do Redentor e de todos os redimidos. Um júbilo universal porque trata-se da exaltação de nossa Rainha cuja entrada no céu lembra aos seus filhos que ela prefigura a ressurreição de todos que a seu exemplo são fiéis a Deus. Maria, nossa mãe espiritual, nos precedeu num maravilhoso itinerário de glória. Antes de penetrar na Casa do Pai de corpo e alma, ela passou pelo Calvário a nos mostrar que é através das vicissitudes da existência terrena, suportadas com perseverança, é que poderemos um dia estar em sua companhia por toda a eternidade. Como aconteceu com ela a glória é sempre precedida pela cruz. Todos os aspectos da celebração da Assunção de Maria dizem, portanto, respeito não apenas a ela, mas a cada um de nós que deve reter lições tão preciosas de um acontecimento glorioso que não pode se cifrar numa mera comemoração. Os santos que veneramos em nossos altares compreenderam profundamente todos estes ensinamentos e caminhando para a felicidade eterna, transformando os espinhos da vida em méritos que durarão por todo sempre. Aí, portanto, o grande convite da solenidade de hoje: que cada um se entregue resolutamente ao caminho de transfiguração de seu ser, condição para a ressurreição de corpo e alma no dia do Juízo Universal. Dar como Maria um sim a Deus sem condições, uma resposta de fé ao Deus de amor. Então Ele fará na vida de cada um maravilhas como ocorreu com Aquela que hoje contemplamos já no céu de corpo e alma. A festa de hoje se torna um convite a uma total revisão de projetos, tudo adaptado ao final glorioso que será estar lá onde ela nos aguarda. Diante dos percalços do dia a dia o grande remédio contra o medo de não perseverar, perante o temor das dificuldades próprias de um exílio, é imitar a fé que esplendeu na Virgem gloriosamente elevada aos céus. Deste modo é que o cristão se torna testemunho da esperança, esclarecido pela Palavra de Deus. Maria está a nos dizer que em Jesus o cristão é um grande vencedor das insídias de satanás num mundo imerso em paixões desregradas e que passa por cima dos mandamentos sagrados de Deus. Mais do que nunca cumpre que todo cristão tenha com a graça de Deus a audácia para triunfar de tantos erros espalhados pelo mundo afora e inculcados pelos meios de comunicação social. Festejamos, porém Nossa Senhora da glória e no Novo Testamento o termo glória manifesta plenamente a mensagem de pura luz como a do sol fulgurante. Tal foi a presença de Deus em Maria: uma transparência que rebrilhou como o astro rei. Assim sendo a figura de Maria elevada aos céus nos ergue para as realidades do alto e não para as misérias terrenas. A glória desta mulher bendita já chegara ao auge desde o momento da Encarnação do Verbo de Deus ao qual se uniu ainda mais. Por isto sua morte foi qual suave sono do qual logo despertou para ser recebida triunfalmente por toda corte celeste. Tal é a glória de Maria, tal nossa glória um dia, tal a glória de toda a Igreja. Júbilo profundo irradia a festa de hoje, porque Maria que já se acha gloriosamente de corpo e alma lá no céu é o grande sinal de que se, o seu exemplo, formos fiéis às inspirações divinas estaremos junto dela por toda a eternidade na felicidade perene que Deus reserva aos que viverem não em função das realidades mundanas, mas das realidades celestes.* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.