Operários da Vinha

18/09/2017 às 11h27

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Trabalhadores contratados em diferentes horas para o mesmo serviço recebem do patrão da vinha o mesmo salário (Mt 20,1-16). Isto suscita reclamações e o contratante tem que se explicar, mostrando que pagava a cada um o que havia prometido, ou seja, um dinheiro por dia. Este estipêndio representa a vida eterna, dom precioso que Deus reserva para todos. Quando os últimos aceitam o convite para o trabalho oferecido, eles se tornam os primeiros, enquanto os primeiros corriam o risco de se tornar os últimos. Dentre as lições desta parábola aparece claro que o patrão não tolera a inatividade. Ele quer todos engajados no serviço. Magnífica a oportunidade dada aos primeiros, pois lhes era facultado trabalhar na vinha do senhor e se colocar a seu serviço colaborando com sua obra. Isto já era em si uma recompensa, não obstante todos os esforços. Entretanto, no que tange a vinha de Deus somente aquele que O ama e a seu reino compreende tal atitude. Quem é interesseiro e apenas quer servir a Deus pelo salário em si, jamais compreenderá o valor do chamado divino. a lógica de Deus é diferente da dos homens. Pelo profeta Isaías Ele já dissera: “Vossos pensamentos não são os meus pensamentos e meus caminhos não são os vossos caminhos (Is 55,8)”. Notável o que aconteceu com São Paulo que depois dizia que era a graça de Deus que agiu nele. Esta graça o transformou de perseguidor da Igreja em apóstolo das nações. Ele compreendeu que trabalhar para o Senhor é de si uma recompensa. O importante, portanto é saber sempre escutar e atender os apelos do Senhor e poder perceber a felicidade de trabalhar generosamente para o Reino dos Céus. Muitos que são chamados por último, por vezes, são mais eficientes e realizam uma obra mais admirável do que aqueles que por mais tempo laboram na seara de Deus, A iniciativa do chamado ao Senhor pertence. Através dos tempos Ele sai à procura de operários, de profetas, que queiram se colocar à sua disposição. Trata-se da instauração da mensagem do Evangelho no mundo, no coração dos homens. Isto para o bem de toda a humanidade. Ele quer generosidade e o fato de O servir já é um grande prêmio. Os notáveis missionários de todos os tempos enfrentaram a fadiga, o calor, o sofrimento, mas com olhos fixos na glória eterna e não em bens terrenos. É lá no céu que cada um, de acordo com o empenho na evangelização, perceberá o valor de sua disposição em se entregar a um apostolado consciente e eficiente O principal é deixar o julgamento de qualquer atividade evangelizadora ao Senhor. Trata-se de uma questão de absoluta confiança nele. Ele é o proprietário da vinha que espera a cooperação de cada batizado que precisa lhe dar o que tiver de melhor a seu alcance. Primeiros ou últimos todos somos iguais diante de Deus, mesmo porque o salário a que se refere a parábola é a salvação eterna. Esta pode ser obtida até na última hora como aconteceu com o Bom Ladrão lá no Calvário. Muitas vezes há um grave equívoco no que tange o viver mal e se converter no fim da vida, porque quem por mais tempo vive de acordo com os preceitos divinos e pratica as virtudes já degusta nesta terra uma porção da felicidade perene do céu. Aquele que está imerso no pecado não é nunca feliz e amarga uma existência sem a paz da consciência. Prazeres mundanos, orgias nunca trazem a verdadeira ventura para o coração. Deste modo, os operários da primeira hora já são recompensados por estarem a serviço do Reino de Deus. Trata-se de uma questão de fé e não de compromisso meramente social de um contrato de trabalho. Deste modo, o velho princípio grego não é infligido, pois “a cada um é dado segundo seu procedimento”; Muito merecimento há em si mesmo no serviço de Deus.. Numa parábola se deve, portanto, ir ao significado mais profundo da mesma e ao que ela quer ensinar. Além de tudo que foi dito, muito lamentável foi a atitude egoísta dos que reclamaram do seu patrão, mostrando que a solidariedade não estava em seus corações. Toda inveja necessita ser banida, porque o amor afasta sempre qualquer inveja. O amor fraterno é sem limites e exige muita generosidade. No caso desta parábola o dono da vinha não fez nada de ilegal, mas cumpriu o que prometera a cada um. Deus dá a todos oportunidade para atender o seu chamado e sabe recompensar.

* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos


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