PJ e PAB se unem contra a violência e o extermínio de jovens na arquidiocese

20/09/2017 às 10h09

Lançada em nível nacional pelas Pastorais da Juventude em 2009 e com o objetivo de debater sobre as diversas formas de violência contra a juventude, a Campanha contra a Violência e o Extermínio de Jovens se torna urgente e atual. Nas últimas semanas vários jovens de cidades da arquidiocese de Mariana foram vítimas da violência. Diante deste quadro, a Pastoral da Juventude (PJ) e a equipe de articulação da Pastoral Afro Brasileira (PAB) publicaram uma carta contra o extermínio da juventude negra no território diocesano.

“A carta é um pedido para que todas as lideranças da arquidiocese não ignorem o ocorrido e somem as vozes em luta contra a violência e o extermínio da juventude negra. Nossa expectativa é que esse manifesto mobilize as pastorais e movimentos para que no próximo ano, com o tema da Campanha da Fraternidade, que será sobre violência, a gente consiga realizar novas ações para por fim na violência, principalmente, na violência contra a juventude negra.”, conta a representante da PJ, Edwiges Costa.

Leia a carta na íntegra:

PJ e PAB contra o extermínio da juventude negra

Os jovens e os negros da arquidiocese de Mariana estão de luto pela morte do ouropretano Igor Arcanjo Mendes. Igor, com apenas 20 anos de idade, teve sua vida interrompida após uma trágica abordagem policial.

O sentimento é de dor e revolta, mas infelizmente não podemos dizer que estamos surpresos. As estatísticas sobre a situação a que está submetida a juventude negra no Brasil revelam que essa parcela da população está ameaçada. O Índice de Vulnerabilidade à Violência e Desigualdade Racial, pesquisa realizada em parceria com a Secretaria Nacional de Juventude da Presidência da República, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Ministério da Justiça e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), publicada em 2014, apontam dados importantes. Segundo esse estudo, por exemplo, a chance de um jovem negro ser vítima de homicídio é 13,401 vezes maior que de um jovem branco em algumas regiões brasileiras, a taxa de homicídios, comparando estes dois grupos, é 155% maior para o primeiro e a taxa de mortalidade 6,53 vezes maior. Os jovens negros são vítimas, não algozes, da situação de violência desse país.

Esta realidade é suficientemente grave para nos incomodar como cristãos, somando-se a ela mais um homicídio de um jovem negro de nossa arquidiocese, há diante de nós um desafio dos mais difíceis. Esta Igreja e seus serviços pastorais devem, urgentemente, se valerem da mística do Bom Samaritano e acolherem, com solidariedade e compromisso, os nossos irmãos que caem atingidos pela presença e/ou ausência do Estado ou qualquer estrutura que permite a manifestação da violência em nosso meio.

A Pastoral da Juventude ergue sua voz em defesa da vida da juventude, tema sempre refletido em suas atividades, vale recorda sua Campanha Nacional contra a Violência e o Extermínio de Jovens. A comissão de articulação da Pastoral Afro Brasileira soma forças nessa discussão, tendo realizado em novembro de 2016, junto a outros coletivos, o Acampamento pelo Fim do Extermínio da Juventude Negra, que em seu relatório enfatiza:

“A violência sofrida pela juventude negra não pode ser desconsiderada, especialmente pelas instâncias da gestão pública, e nem pode ser tratada como uma questão menos importante. Pelo contrário, essa realidade deve ser entendida como pauta fundamental em qualquer governo, desde a política municipal até a federal, porque diz respeito ao extermínio de uma parcela significativa de nossa população. Essa realidade é ainda agravada pelo seu silenciamento quando nossa sociedade não se dispõe a refletir profundamente sobre esse extermínio de uma forma comprometida com a alteração desse duro e infeliz quadro social.”

Ontem foi o Danilo de Viçosa, o Jefferson de Conselheiro Lafaiete, a Tatiane de Rio Espera, a Poliana de Barbacena e o Igor de Ouro Preto. Muitos são os jovens que tiveram sua trajetória abruptamente interrompida, vítimas de homicídio em nosso território arquidiocesano. Hoje pode ser o Carlos, a Marcela, o Francisco. Amanhã poder ser eu ou até mesmo você.

Desta forma convidamos a todos os grupos de base da Pastoral da Juventude, agentes empenhados na articulação da Pastoral Afro Brasileira, grupos de reflexão, agentes de pastorais, irmandades, movimentos, enfim, toda a Igreja de Mariana, para que não ignore esta realidade. Certos de que estamos comprometidos com a superação de toda forma de violência, em especial contra a juventude negra, pedimos a São José, Nossa Senhora da Assunção, São Luiz Gonzaga e Nossa Senhora Aparecida que interceda ao Pai em favor de nossa juventude e leve conforto aos familiares de Igor Arcanjo Mendes.


Voltar

Confira também: