A parábola dos dois irmãos

25/09/2017 às 11h01

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Dois irmãos diferentes e duas atitudes que merecem reflexão é o que Jesus apresenta numa de suas parábolas, todas elas tão ricas de ensinamentos (Mt 21,28-32. Um dos filhos a quem o pai mandou trabalhar na vinha disse que não queria ir, mas mudou de opinião e obedeceu à ordem recebida. Na atitude humana diante de Deus há sempre ocasião de uma conversão, ou seja, uma metanoia, um arrependimento. Aí está um dos temas centrais de todo o Evangelho. Para todos os seres humanos há um tempo para mudar de mentalidade e fazer a vontade divina e não a própria pretensão. Num momento de reflexão é possível vislumbrar uma perspectiva diversa do próprio egoísmo que barra a adesão ao que Deus quer. Os recados do Senhor de tudo estão sempre envoltos em amabilidade, ternura. Como o Pai da parábola, ele diz suavemente: “Filho, vai trabalhar na vinha”. Esta é uma realidade sublime, ser filho predileto do Ser Supremo. São João proclamou magnificamente: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus” (1 Jo 3,1); Se assim é, cumpre agir em consequência, pois tal pai nunca ordena algo que vá prejudicar aquele que ele ama tão ternamente. É necessário sempre uma filiação responsável que conduza inclusive a uma mudança de atitude errônea. A ordem de Deus é dirigida individualmente, como se pode notar nesta parábola, na qual o Pai se dirige a cada um dos dois filhos. Havia premência na obediência à determinação dada: “Vai hoje trabalhar na vinha”. Há urgência no trabalho na vinha do Senhor, ou seja, na evangelização, na divulgação das mensagens deixadas por Cristo, visando a conversão dos que se acham longe dele. A vinha na Bíblia é a humanidade e cada um individualmente. Deus quer que haja empenho na construção do ser humano para que este se envolva na paz, na alegria estando apto a possuir a vida divina. É levar a esperança àquele que está desesperando, infeliz por andar em caminhos tortuosos. Todos são chamados para o Reino de Deus, mas é preciso que haja quem trabalhe na vinha do Senhor, como fez o jovem da parábola que pensou e atendeu a decisão do pai. O outro filho disse que ia trabalhar e não foi. Deste procedimento fluem também lições preciosas. Diante do bem a ser feito é mais fácil querer do que fazer, falar do que agir. Este segundo filho desejou ir, mas não obedeceu ao pai. Deu um sim e não atuou de acordo com o que dissera. Queria praticar o bem, obedecendo, mas o mal estava junto dele e ele desobedeceu ao pai. Não basta na vida do cristão a boa vontade e isto é uma dificuldade bem real. São os que não contemplam claramente a felicidade de seguir em tudo a vontade de Deus e são, por vezes, agitados, tentados por uma legião de demônios. É dramático não acatar os desígnios de Deus, dizendo a Ele na prática um não definitivo que é a porta aberta para perda da felicidade eterna. Trata-se de uma situação crítica que pode se tornar irreversível. É verdadeiramente problemático quando alguém recusa o elã de vida que Deus propõe. Nesta parábola o filho que disse não e se arrependeu foi trabalhar na vinha e isto sem outras intenções egoísticas. O trabalho na vinha do Senhor não pode ser motivado por temor, mas precisa ser fruto do amor de quem é chamado de filho bem amado do pai. A recompensa, a eternidade feliz, é uma consequência e não a razão última da obediência à lei de Deus. É preciso sempre total coerência na existência do cristão que não deve viver de aparências. A fé interior de cada um não pode ser guiada por interesses pessoais, mas por um profundo amor ao Pai celeste. Não basta parecer cristão, mas sim ser verdadeiramente cristão. Deus não pede nunca o impossível. Na imagem do filho que pensou, voltou atrás e foi trabalhar na vinha Deus mostra que o retorno é possível. Ele não fecha nunca a porta para as almas, mesmo num momento de rebeldia. Se alguém quer retornar a Deus e mudar de vida pode fazê-lo e Deus o acolherá sempre de braços abertos. Somos o que praticamos. Deste modo, nosso amor se mostra de acordo com o cumprimento de sua vontade santíssima. É isto que a cada instante define e retrata seu verdadeiro filho. É arrepender-se e se esforçar por fazer esta sua vontade sapiente de Deus. O obediente sempre cantará vitórias.

* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


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