Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A parábola do banquete nupcial narrada por Cristo apresenta o drama da aliança divina no Antigo Testamento (Mt 22,1-14). Através dos séculos Deus convidou seu povo escolhido a entrar em união com Ele, a partilhar seu amor misericordioso. Este chamamento está figurado pelo convite ao banquete das núpcias, festim celebrado entre seu Filho e a humanidade que ele viera redimir. A resposta humana foi tantas vezes a indiferença, o desprezo e até a rejeição dos profetas. O apelo, contudo, para a participação no ágape, oferecido e recusado, permitiu que Deus estendesse o convite a um número maior de convivas. Trata-se então da abertura das núpcias da Nova Aliança, à qual todos seriam atraídos, motivo de um mais profundo reconhecido à generosidade divina. Apesar da alegria que a liberalidade de Deus comunica, a expulsão daquele que não trazia o traje nupcial é um alerta de Cristo sobre como deve ser a atitude de cada um. Ele foi claro: “Muitos os chamados e poucos os escolhidos”. Sem a vestimenta da graça santificante ninguém pode se aproximar da mesa eucarística e nem entrará na glória eterna do céu. Nas trevas exteriores “choro e ranger de dentes”. É o que está simbolizado na condenação severa do rei ao homem que entrou sem ter vestes adequadas para a celebração das núpcias. O cristão deve então exprimir exteriormente o que acolheu interiormente através da fé. A permanência no estado de graça supõe inclusive a prática contínua das boas obras, a fuga corajosa de toda ocasião de pecado, tudo envolvendo num grande amor a Deus. Esta imagem da veste nupcial se encontra também no livro do Apocalipse que fala na vestimenta de linho da qual estão revestidos os santos com suas ações louváveis (Ap 19,8). São Jerônimo ao comentar a parábola do Evangelho de hoje mostrou que quem foi expulso do banquete personifica todo aquele que está impregnado do mal. A veste nupcial, diz São Jerônimo, consiste na observância dos preceitos de Deus, nas obras feitas segundo os Mandamentos e o Evangelho. Tudo isto, conclui São Jerônimo “é a veste do homem novo”. Entretanto, não basta que o cristão cuide de sua vida espiritual para poder permanecer no convívio divino. É preciso trazer aqueles que estão fora para usufruir as delícias da refeição preparada por Deus, na festa das núpcias do Filho do rei, do Filho bem amado do Pai, as bodas de Cristo, esposo da humanidade. O Senhor quer da parte de todos os cristãos uma resposta total. Aqueles que participam do baquete da Eucaristia precisam revestir seu coração de ternura, de bondade, de humildade, de doçura e paciência, pois deste modo arrastarão muitos para o festim de Jesus, ajustados à grandeza daquele que é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Tudo isto é então uma extensão magnífica da vida nova recebida no dia do Batismo. Responder ao convite do Pai significa assim corresponder à altura de tal consideração do Criador em cuja misericórdia se deve confiar, dado que ninguém é totalmente digno de estar em união com Ele. Eis porque ir à mesa eucarística supõe uma preparação contínua de uma vida repleta das virtudes. A comunhão do Corpo de Cristo suscita então a comunhão com os irmãos na Igreja e na comunidade na qual se vive. A participação no banquete do Reino de Deus, na eternidade e neste mundo na Eucaristia, está intimamente ligada a uma maneira de viver nos fios dos dias concedidos a cada um, para se tecer continuamente a vestimenta com a qual se pode permanecer no festim celestial nesta terra e, um dia, por todo sempre lá no céu. Todo cuidado é pouco para corresponder ao convite de Deus. Este convite é feito não por merecimento próprio, mas como um dom precioso, um presente vindo do Alto. No momento da Comunhão o fiel sempre repete: “Senhor eu não sou digno de que entreis em minha alma, mas dizei uma palavra e serei salvo”. O mesmo se diga do céu, onde ninguém é digno de entrar para gozar da visão beatífica, mas isto será possível enquanto dom, dádiva maravilhosa do Deus misericordioso. A entrada lá no banquete do céu deve ser um pensamento contínuo do cristão e daí o conselho de um grande santo: “Operai com temor e tremor a própria salvação eterna”. Trata-se de conservar sempre a amizade com Deus. Donde o esforço ininterrupto para agradar a Deus e viver em sua graça, pois não se sabe nem o dia nem a hora na qual se dará o convite derradeiro. O banquete do céu custou a paixão e morte de Cristo e, deste modo, seria uma ingratidão sem limites recusar este dom do ingresso na Casa do Pai. Nada neste mundo deve impedir a entrada de cada um na festa das núpcias do Cordeiro Imolado. Diante do pensamento do céu, pequeninos se tornam os sofrimentos neste vale de lágrimas, pois o apelo de Deus deve ajudar a superar todas as fraquezas humanas.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.