Uma caminhada pelas ruas de Mariana e uma celebração na igreja de Nossa Senhora do Carmo marcaram a luta dos atingidos, dois ano depois rompimento da Barragem de Fundão, nesse domingo (5). Tragédia que matou 20 pessoas, destruiu comunidades, memórias, e a bacia do Rio Doce. A missa foi presidida pelo arcebispo de Mariana, Dom Geraldo Lyrio Rocha.
“Nossos irmãos morreram e tem tanta gente sofrendo por causa do ídolo do dinheiro. É a fome desenfreada de lucro que leva a uma situação como essa que estamos vivendo. Desde o primeiro momento, quando chegou a notícia do rompimento da barragem em minha casa, eu fui logo dizendo, isso aqui não é uma catástrofe da natureza. Por trás disso há responsáveis, que causaram este tremendo e vergonhoso crime que atingiu a vida humana, dos animais, das plantas, da natureza, até o oceano atlântico. Tanta gente sofrendo, isso se opõem ao reino de Deus”, disse o arcebispo.
Durante a celebração, cruzes com os nomes das vítimas foram colocadas no altar. Na homilia, Dom Geraldo ressaltou que não existe dinheiro que pague uma vida perdida. “Tendo perdido a vida com a lama assassina que veio da barragem que rompeu. Gente que estava no trabalho, pessoas que estavam cuidando de sua vida, lá se foram e não voltam mais. Por isso, aos que dizem ‘vão ressarcir, vão repor, vão pagar’, quem vai pagar o que não tem preço? A vida não tem preço, vale tanto, que não há dinheiro que pague”, disse o arcebispo.
Para Luzia Queiroz de Paracatu de Baixo esse ato mostra a união dos atingidos. “Essa caminhada é para mostrar aos nossos governantes que eles precisam olhar para nós. Olhar para a nossa realidade. Essa manifestação é nossa, mas contamos com alguns apoios para fortalecer a nossa luta. Estávamos em um barco a deriva, mas nós encontramos os trilhos da salvação. Hoje somos um coletivo, somos fortes. A empresa pensa com um cofre no coração, mas nós temos alma e lutamos por justiça e iremos resistir”, disse
A celebração e a caminhada contaram com a presença de atingidos de Bento Rodrigues, Paracatu, Resplendor, Aimorés e militantes do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB). Ao longo do dia outras celebrações foram realizadas nas comunidades atingidas para reafirmar a luta pelos direitos. Ao final da missa foi lida a Declaração dos bispos das dioceses da Bacia Hidrográfica do Rio Doce.