Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A Parábola das dez virgens oferece importantes reflexões as quais afloram dos diversos detalhes da narrativa proposta por Cristo (Mt 25,1-13). Cumpre atinar com o significado do óleo e também aprofundar o tema da vantagem de não se saber a hora precisa na qual o ser humano deixará este mundo, entrando na ultravida. Disto resulta o sábio emprego do tempo, tendo em vista a salvação eterna, para não se ficar excluído do banquete nupcial. O fato das virgens prudentes não poderem ajudar as imprevidentes mostra bem que à chegada do esposo divino há certo isolamento metafísico, dado que a partilha do óleo não é uma simples questão de quantidade, mas de um amor que ultrapassou limites materiais. Não se pode então amar no lugar do outro. Há um momento no qual cada um deverá demonstrar até onde foi seu empenho para poder ingressar no festim eterno. Durante a trajetória neste mundo a ajuda mútua é sumamente necessária, mas finaliza no instante no qual começa a decisão individual última concernente à comunidade dos eleitos. O tempo de preparação é concedido e nele a ajuda mútua é decisiva, mas na hora da morte cada um estará sozinho com sua esperança, seu amor, suas boas obras acumuladas no seu cotidiano. O zelo pela salvação dos outros leva exatamente a fazer crescer em cada um a expectativa de um lugar perene no reino de Cristo, a uma dileção sempre crescente do que resultam os frutos opimos para uma recompensa definitiva. Tudo isto exigindo uma vigilância contínua, mesmo porque toda desatenção poderá ser fatal. A preparação para o encontro final com Cristo, Deus que se fez homem, não deve ser superficial. Toda a vida do verdadeiro cristão é, deste modo, uma preparação para o ingresso no banquete preparado para os que forem dignos. O tempo presente é um dos dons mais preciosos oferecidos pelo Criador. Uma vez perdido, não se pode recuperá-lo. O momento da chegada do esposo é decisivo e a hora derradeira é o resumo de todas as horas vividas até o instante da morte. Daí o motivo porque a imprevisibilidade deste fato, o mais importante da existência humana, oferece oportunidade para que cada um esteja de prontidão, alerta à espera de seu Senhor Cada ato de fé, de amor a Deus e ao próximo, cada esforço para fazer em tudo a vontade divina estabelece uma relação íntima com Deus. Conhecê-lo mais, dia a dia, vivendo sob o radar do olhar divino é garantir a entrada na felicidade sem fim. Será uma tragédia alguém bater na porta do céu, pedir que ela lhe seja aberta e escutar a resposta de um Deus justo e que fora tão misericordioso: “Eu não vos conheço”! Ele reconhecerá apenas aquele cujo coração transformado pela água do batismo, continuamente arrependido de suas faltas, esteve imerso numa dileção sem limites para com Ele e para com o próximo. Eis aí o que significa o óleo desta parábola, isto é, representa as boas obras praticadas envoltas no afeto a Deus e aos semelhantes. Quem as tiver feito entrará no banquete nupcial e verídico é o refrão: “Tal vida, tal fim”. A vida deve ser uma preparação consciente para a morte. Aqueles que se apartaram renitentemente do Pai, no final de sua carreira, não entrarão no reino do céu, cuja porta lhes estará fechada. A morte para os que não seguiram a Cristo e não possuírem o óleo das virtudes é terrível, pois é uma vida que se acaba e uma eternidade infeliz que se inicia! Que aflição, que angústia para quem não correspondeu aos desígnios divinos e não cumpriu sua missão neste mundo! No momento da morte o que vai dar desgosto a cada um é o que ele buscou por seu próprio gosto e, muitas vezes, com tanto sacrifício inútil em busca de gozos passageiros e ilusórios Quantos gostariam de voltar no tempo para refazer seus atos, mas já é tarde. Só então se compreenderá como inutilizou a existência nesta terra, perdendo a felicidade perene. Entretanto, para quem cumpriu o seu dever, para quem fez de sua vida um hino de louvor a Deus e de serviço ao próximo, fechar-se-á a porta do tempo e logo se abrirão os as portas do céu. O que causou pena, mas foi suportado com afeto a Deus é que dará aquela alegria que tiveram as virgens prudentes da parábola de hoje. Toda vigilância é pouca para garantir a salvação eterna.
* Professor no Seminário de Marina durante 40 anos.