Atingidos pela mineração partilham suas realidades de luta e dor

08/11/2017 às 11h25

Uma roda de conversa sobre a realidade de povos atingidos pela mineração realizada nessa terça-feira (7), em Mariana, encerrou o encontro “Ecoteologia e atividade minerária; a espiritualidade, a resistência e as alternativas em defesa dos territórios”.  Atingidos de Bento Rodrigues, representantes dos povos Krenak e Yanomami, quilombolas, o bispo de Viana (MA), dom Sebastião Lima Duarte, o coordenador arquidiocesano de pastoral, padre Geraldo Martins, e lideranças participaram dessa partilha.

Segundo Moema Miranda, da organização do encontro, este momento é muito importante. “Nós viemos fazer o encontro de comunidades atingidas pela mineração, que lutam também com a força da Igreja. Então, o seminário Igreja e mineração tenta fazer essa aproximação dessa luta do povo, discutindo um pouco essas espiritualidades em disputa neste momento. E para nós estar aqui com o povo de Mariana, com o povo de Bento, com o povo atingido diretamente é parte do que nos inspira, nos motiva que maior do que a dor, maior do que a injustiça é a solidariedade e a força do povo unido”, ressalta.

Durante as falas dos atingidos uma mistura de dor, união e partilha da memória foi sendo vivida pelos presentes. O senhor José do Nascimento (Zezinho do Bento) falou da importância da ajuda das pessoas e lembrou o momento da tragédia. “Eu morava nas costas da igreja de São Bento. Se essa tragédia fosse de 18h para cima era muita gente que tinha morrido. Eu falo com muita tristeza, morreu só quatro de Bento, os outros eram da empresa ou que estava de visita na comunidade. Eu falo assim com o coração doendo, pois na hora que eu saí com a caminhonete na praça e olhei a lama vindo atrás de nós, eu tinha na minha mente que era gente demais que estava morrendo, mas Deus levou nós até lá em cima, a nossa união ajudou. E hoje a união está pouca, porque nós estamos separados, mas nós continuamos no coração de cada um”, disse.

O representante do povo Yanommi, Davi Kopenawa Yanomami, apresentou os problemas vividos pelo seu povo em Roraima. “Eu sou indígena de Roraima, a ponta do Brasil. A base da terra Yanomami também aconteceu à mesma coisa que aconteceu aqui. Entrou 40.000 garimpeiros na terra Yanomami de Roraima. Nosso rio, que passa na reserva, está destruído. 40.000 garimpeiros entraram nos igarapés pequenos. Mataram peixes, caranguejos e as nossas comunidades também ficaram contaminadas. Meu povo também está sofrendo tomando água suja. Não é só aqui que aconteceu, em todo o lugar do Brasil está acontecendo”, relatou Davi

Para o coordenador arquidiocesano de pastoral, padre Geraldo Martins, três viés na realidade dos atingidos precisam ser ressaltados. “Aqui nos temos uma omissão política, onde nós podemos perceber as opções políticas antes, durante e depois. Eles querem apoiar os atingidos e as empresas mineradoras. Temos o segundo viés no campo dos direitos humanos. Há em Mariana uma atuação grande do Ministério Público, que tem sem sido um parceiro dos atingidos. Toda a questão emergencial conseguida foi mediante as ações do Ministério Publico. A presença do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB) e da arquidiocese nessas discussões foram muito importante. Mas na área dos direitos humanos ainda há muito a fazer, pois a violação é muito grande. E temos o terceiro viés a natureza. Tudo o que foi destruído ainda não foi possível calcular”, explicou padre Geraldo,

Ecoteologia e atividade minerária

Promovido pela rede ‘Iglesias y Mineria’, o encontro “Ecoteologia e atividade minerária; a espiritualidade, a resistência e as alternativas em defesa dos territórios”, reuniu cerca de 40 agentes pastorais, ativistas que trabalham em áreas de extrativismo, representantes de povos indígenas e quilombolas, teólogos e estudiosos da questão minerária, em Mariana.

O teólogo, Afonso Murad, explica que a ecoteologia nasceu e se desenvolveu nos últimos 50 anos e ela ajuda a sociedade e a própria Igreja a fazerem um processo de conversão ecológica. “Nós dizemos que a teologia é a reflexão que os cristãos fazem da sua fé ou a partir de sua fé. Então, o assunto da teologia é a prática do bem, mas também pode ser outros temas humanos, como a justiça, a solidariedade, a terra, a justiça.Essa teologia ajuda a sociedade e a própria Igreja a fazerem um processo de conversão ecológica. Conversão essa citada pelo Papa Francisco na Encíclica Laudato Sì”, afirma Murad.

 


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