O maior crime socioambiental do Brasil completa dois anos no dia 5 de novembro e as vítimas continuam sem saber quando receberão devidamente a reparação, a indenização e a compensação a que têm direito. As mineradoras Samarco, Vale e BHP Billinton, proprietárias da barragem de Fundão, no distrito de Bento Rodrigues, município de Mariana, que rompeu nesse dia matando 20 pessoas (incluindo a criança que foi abortada e que a imprensa não conta), simplesmente delegaram para a Fundação Renova suas responsabilidades. Estrategicamente, esse nome vai se sobrepondo ao das empresas que, aos poucos, parecem dissociar-se da tragédia.
O que foi feito nesses dois anos da tragédia? Esta é a pergunta que mais se ouve da imprensa e de quem não mora em Mariana ou na bacia do Rio Doce. A resposta é clara e direta: muito pouco, considerando o muito que precisa ser feito. As famílias de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, no município de Mariana, e de Gesteira, município de Barra Longa, continuam apreensivas quanto ao seu reassentamento. Apenas Bento Rodrigues tem definido o terreno, mas isso pouco adiantou, uma vez que a Samarco conseguiu sequer o licenciamento para iniciar a terraplanagem. O terreno de Paracatu de Baixo ainda não está totalmente definido e Gesteira nem terreno possui ainda.
As negociações para aprovação do cadastro dos atingidos também têm sido difíceis. A situação estaria pior se tivessem concordado com o cadastro proposto pela Samarco que, na análise da assessoria técnica dos atingidos, trazia inúmeras impropriedades. Em Mariana, não fosse a ação firme dos atingidos, ancorados por sua assessoria técnica e pelo Ministério Público, esta batalha também estaria perdida.
Até hoje há atingidos que não são reconhecidos pela Samarco que, aliás, nunca usa a palavra atingido, mas sempre impactado, como um mantra, já assimilado por muitos. Isso também é estratégico. Foi necessária a intervenção da justiça em favor dos que pleiteavam da mineradora a verba de manutenção a que tinham direito. Contudo, nem todos tiveram, ainda, reconhecida sua condição de atingido.
A Arquidiocese de Mariana tem se mostrado solidária aos atingidos desde o primeiro momento, tanto na assistência espiritual quanto no acompanhamento das lutas em defesa de seus direitos. Em parceria com o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), tem procurado ajudar no discernimento de caminhos que fortaleçam a organização dos atingidos e animem sua esperança.
Os atingidos já percorreram um longo caminho. Em muitos se percebe cansaço e até desânimo. No entanto, o caminho a percorrer é ainda mais longo e nem sempre pode ser feito no ritmo que se deseja e espera. O momento é de intensificar nossa solidariedade aos atingidos e fortalecer sua esperança. É na união e na perseverança que alcançarão a vitória.
Pe. Geraldo Martins
Coordenador Arquidiocesano de Pastoral
Dom Geraldo Lyrio Rocha
Arcebispo de Mariana