Um Rei segundo o coração de Deus

21/11/2017 às 09h39

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Neste domingo no qual se festeja Cristo Rei do Universo o texto de São Mateus mostra que Jesus é um soberano bem diferente dos poderosos deste mundo (Mt 25,31-46). Ele está de tal modo próximo a seus súditos que Ele se identifica com todo aquele que padece nesta terra. O modo como cada um acolhe os pobres, os que sofrem, os marginalizados é o critério supremo para o julgamento final. O Senhor lembrará então que Ele estava presente nos excluídos que encontramos na trajetória terrena aos prestarmos o auxílio necessário. O Mestre divino deixou bem claro: “Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes” É importante, portanto que o cristão examine sua vida à luz das palavras desse Evangelho de hoje. Por toda parte e em todos os dias Cristo recebe, infelizmente, tantas vezes tratamentos intoleráveis em casa, nos lugares de trabalho ou de diversão, enfim em tantos setores das comunidades. Várias vezes se esquece que o próximo mais próximo é aquele com o qual se convive a toda hora. Jesus nos convida a reconhecê-lo através daquele que padece fome, frio e, sobretudo, que sofre por falta de amor. São todos aqueles que estão na categoria mais pobre da sociedade, mas também o próximo que, não estando na miséria corporal recebe no dia a dia o desprezo e a indiferença. Por palavras ou gestos agressivos, irônicos. Neste dia de Cristo Rei se deve ainda pensar nos milhões de desempregados no Brasil e no mundo afora, enquanto a riqueza, que deve pertencer a todos, está concentrada nas mãos de apenas dez por cento da sociedade. Esta exclusão precisa tocar o coração do cristão. Cristo-Rei está a irradiar misericórdia, bondade, compreensão. Ele não se impõe, mas propõe seu exemplo. Ele é um Rei-Pastor que se consagra inteiramente a cada um de seus discípulos que são suas ovelhas prediletas. Eis porque deixa bem patente que seu seguidor será julgado pelo modo como acolheu os outros. Por todos que suportam dificuldades o verdadeiro súdito de Cristo-Rei oferece preces e com eles sabe partilhar do pouco ou do muito que possui numa batalha contínua contra a pobreza. Todos engajados na construção do Reino de justiça e de paz desejado pelo Coração de Deus. O século XXI registra também um período de crise e exige ainda mais solidariedade, fraternidade. Os vicentinos, os líderes das diversas obras sociais estão sempre a lembrar os desígnios de Cristo-Rei. Ele quer vir ao encontro dos que curtem uma existência dramática, mas age através de cada um de nós. Um dos alertas deste Rei que não pode, outrossim, ser esquecido é que Ele está prisioneiro e desprezado. Prisioneiro por causa da escravidão do álcool, da droga, da imoralidade e precisa de libertação. Cumpre evitar sempre uma ortopraxis, uma teologia meramente política para realizar em plenitude obras de justiça e caridade. Trata-se da responsabilidade ativa e operosa dos vassalos de Cristo-Rei. Não há santidade possível sem o auxílio eficaz ao irmão oprimido ao qual se deve um serviço diligente. É desta maneira que Cristo-Rei se faz presente nas comunidades através dos tempos. Milhões reunidos, mundo todo, em seu nome e a repartir com os outros os sinais e atos de sua clemência sem limites Ele nos aponta os caminhos do mundo para neles encontrarmos aqueles que penam numa vida desumana. Ele quer transformar cada um de seus súditos em instrumentos de seu amor, fazendo-os construtores de seu Reino de misericórdia. O cristão verdadeiro não vê a infelicidade reinante como uma fatalidade que deva ser aceita passivamente, mas faz o que pode e como pode para ajudar, servir, socorrer. Disto deve estar consciente todo aquele que quer imitar a Cristo-Rei. Daí a repulsa às causas permanentes de violências e de ódio, de miséria e de dominação, de exploração, de indiferença ou de exclusão. Não basta o sonho de um mundo diferente, mas cumpre agir e influenciar onde quer que se esteja. O cristão necessita ser o sinal vivo do amor de Cristo-Rei. A liturgia de hoje lembra então que o Reino de Jesus é “um reino de vida e de verdade, de graça e de santidade, de justiça, de amor e de paz”

* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


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