Vigiai e orai

27/11/2017 às 15h12

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Durante o tempo do Advento a liturgia lança para os fiéis uma mensagem consoladora: Jesus veio, vem e virá. A preparação para o Natal é a recordação de que um dia Ele nasceu em Belém e o liame entre o Criador e suas criaturas racionais se estreitou ainda mais. Veio como o Redentor para redimir os pecadores arrependidos. Estes, pelo mistério de sua Encarnação, haveriam de se ajustar a Deus percorrendo os caminhos do Senhor. Entrando no dinamismo divino o ser humano se torna como a argila nas mãos do Grande Artista, como bem afirmou o Profeta Isaias (Is 64,7). Ele o oleiro que realiza uma obra admirável, pois tudo que sai de suas mãos é belo. Para que isto aconteça é preciso vigilância e oração afim de não se colocar obstáculo à ação divina. É que Jesus vem a cada hora, oferecendo sua amizade, seu Corpo e Sangue na Eucaristia e todas as riquezas de que fala São Paulo aos fiéis de Corinto (1 Cor,3-9). Daí a necessidade de estar vigilante para escutar o Redentor que chega até cada um através de seu Espírito, implorado na prece fervorosa. Então são conhecidos os dons divinos que santificam, purificando os corações. Advento é então propício para aumentar a firmeza e a coerência ao apelo e ao amor de Cristo. Como se recordará no Natal, Ele veio envolto na humildade de um presépio e vem ao íntimo de cada coração, fazendo resplandecer sua irradiante santidade. Deste modo, o seu seguidor, certo de que ele virá novamente um dia, acerca do qual ninguém nada sabe, redobra sua precaução e se imerge na oração. Pedagogo admirável, Jesus chama deste modo a atenção para a prudência nesta trajetória terrena, sustentada pela elevação da alma continuamente para Deus. Portanto, Filho de Deus veio, vem e virá é a proclamação solene do primeiro domingo do Advento. Deus quer que se esteja, mais do que nunca, em comunhão com seu Filho para que estas três vindas dele até nós surta todos os efeitos benéficos para a salvação eterna de cada um. Raia, portanto, uma esperança luminosa ao se aproximar o Natal. Brilha a precisão da fidelidade, do amor que deve ocupar os instantes da vida do cristão, preenchendo todos os espaços de seu viver. Eis porque o discípulo de Cristo não teme o dia do juízo final, porque naquele momento Jesus lhe dirá: “Você sempre viveu comigo e me aguardava na volta do fim dos tempos, entra agora no gozo do teu Senhor”. Assim sendo, o Advento se apresenta como uma ocasião de conversão, de aprimoramento espiritual, degustando-se antecipadamente as alegrias natalinas. A espera que caracteriza o Advento faz desta quadra do Ano Litúrgico não uma repetição dos Adventos precedentes. É que a espera da ação de Deus a cada instante, no mistério renovado de seu Natal e na sua nova vinda, um dia, para julgar os vivos e os mortos. supõe agi, tornando cada um mais ativo, vigilante, atento às inspirações celestes. Do contrário, o Advento se torna inútil e ilusório, como acontece com aqueles que não pensarão senão em ceias natalinas, confraternizações meramente sociais, ficando o Personagem principal obscurecido, dado que não foi aguardado numa alma bem preparada para O receber e honrar no 25 de dezembro. Esta é a hora de se pensar na preparação de uma fervorosa Comunhão Eucarística como o melhor presente a ser oferecido ao Menino Deus. A espera de Jesus precisa ser contemplativa e ativa. . Contemplativa pela esperança e ativa pela ornamentação do coração entregue à oração. Para o cristão a oração não é uma tranquilizante picada de morfina, mas o lugar de um combate e de uma plena comunhão com Jesus.. Num contexto secularizado mister ser faz reavivar o verdadeiro sentido do Natal, pois, de fato, temos necessidade não das coisas materiais, mas das riquezas espirituais. Este é o momento de se aquecer no fogo da fé, revitalizando um amor profundo para com Aquele que veio, vem e virá. Trata-se do desejo ardente de viver com Jesus desligando-se cada um das ilusões terrenas, dando à vida uma dimensão eterna Portanto, seguindo o conselho de Jesus, mais vigilância, mais. Oração.

* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos..


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