Todo final de ano, realiza-se a Assembleia da Pastoral Vocacional / Serviço de Animação Vocacional do Regional Leste II, da CNBB, em Belo Horizonte. Neste ano, aconteceu nos dias 17, 18 e 19 de novembro, a 38ª edição, na casa de Retiros São José, com a participação de várias dioceses. A assessoria foi do Pe. Paulo Sérgio Carrara, CSsR, que abordou o tema do discernimento vocacional, a partir do documento preparatório para o próximo Sínodo: os Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional.
Com o intuito de suscitar a reflexão, apresentamos, a seguir, um breve resumo do que foi tratado. O assessor fez um percurso, a partir do documento pré-sinodal, analisando as profundas mudanças pelas quais nossa sociedade tem passado.
As transformações ocorridas nos períodos: medieval, moderno e pós-moderno, no ocidente, são bastante significativas. No período da Cristandade, teocêntrica, a Igreja era única, ou pelo menos, a maior referência de sentido. O ser humano se compreendia referido ao sagrado. A realidade era envolta num mistério. Havia uma mentalidade muito intervencionista: Deus é a causa dos acontecimentos para os quais não temos explicação. O ser humano se define a partir de sua pertença à Igreja, ao grupo.
Com o advento da modernidade, há uma ruptura com a época que a precedeu. A descoberta das potencialidades da razão faz com que se comece a explicar o mundo sem precisar se referir constantemente a Deus. O ser humano torna-se o centro: nasce a razão científica. Surge, assim, a possibilidade do ateísmo e a Igreja deixa de ser referência única.
Já na pós-modernidade, há uma desconfiança da razão porque ela não cumpriu as suas promessas. Há então a emergência do subjetivismo. O ser humano não precisa mais de Deus e não confia cegamente na razão. Ou seja, ele é livre para construir seus próprios significados, a própria vida. O sujeito não é mais parceiro institucional, é parceiro de si mesmo, da sua subjetividade. Afrouxaram-se os laços sociais de pertença. Surgiu o tempo da hermenêutica, uma série infinita de interpretações, nada é perene. Não existe o imutável. A Igreja continua sendo uma referência de sentido, mas não a única. Neste momento, ainda há uma tendência muito religiosa das relações, porém menos institucional.
Diante disso, a evangelização que foi feita muitas vezes pela imposição, deve ser assumida como testemunho. O cristianismo cultural vai cedendo lugar a um cristianismo mais autêntico, não é mais o substrato da vida cultural, nem social.
Apesar de o quadro apresentar muitas dificuldades, o grande traço positivo da pós-modernidade é que a religião pertence a um universo plural de sentido. Uma Evangelização como proposta de sentido e não de imposição, faz toda a diferença. A Igreja deve então dialogar com as pessoas. Não podemos abrir mão de Jesus Cristo como Verdade, nem nos esquecermos de que o Espírito Santo age também fora da Igreja e está configurando tudo a Cristo e a seu Evangelho. Ainda estamos buscando a plenitude da verdade, por isso, devemos ser testemunhas da Verdade.
Foi neste contexto, a apresentação do documento preparatório para o Sínodo: os Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional, que acontecerá em 2018. O documento começa retratando situações de incertezas e apresenta uma análise de conjuntura bem feita sobre a juventude.
O objetivo da Pastoral Vocacional/Serviço de Animação Vocacional é justamente promover escolhas verdadeiramente livres e responsáveis. O discernimento é o principal instrumento que permite salvaguardar o espaço inviolável da consciência, afirma o documento. O caminho para isso é apresentar primeiro a vocação batismal e depois as outras, pois é a partir do batismo e da família, que vai se aprendendo a viver para Cristo e para a Igreja.
Ao final, o assessor apresentou as disposições humanas e psicológicas para o acompanhamento vocacional: compreensão, empatia: compreender o ponto de vista do outro; estima da “dignidade humana”; maturidade afetiva; capacidade de comunicação/relação; experiência eclesial de Deus; atitude de serviço aos irmãos; atitude de esperança cristã - confiar no outro, acreditar no Espírito Santo como agente das vocações na Igreja e compreensão da psicologia humana.
Além dessa reflexão, houve também trabalhos em grupos, momentos orantes e celebrativos que marcaram este encontro.
Mediante ao exposto, afirmamos que o momento é privilegiado para toda a Igreja compreender a relevância da temática do discernimento vocacional.
Pe. Thiago José Gomes
Assessor do SAV / Serviço de Animação Vocacional da Arquidiocese de Mariana