Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Maria de Nazaré, foi a humilde serva do Deus Altíssimo, mulher revestida de sol e coroada de doze estrelas, assim descrita por São João no Apocalipse. Esta transformação, porém, tem seu esclarecimento nas palavras de Isabel: “Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento das palavras que lhe foram ditas da parte do Senhor”. O Papa Francisco assim se expressou na sua Encíclica Lumen Fidei: “A Mãe do Senhor é o ícone perfeito da fé. [...] Na Mãe de Jesus, de fato, a fé trouxe todo o seu fruto”. A razão pela qual esta admirável fé teve efeito tão extraordinário foi dada pelo mesmo Papa: “Na plenitude dos tempos, a Palavra de Deus foi endereçada a Maria e ela a acolheu com todo o seu ser, no seu coração” Ela, realmente, se imergiu inteiramente na mensagem que o Arcanjo Gabriel lhe trouxera da parte de Deus (Lc 1,26-38). O “sim” de Maria foi sem condições e sem tergiversações, sem cláusulas restritivas, segundo alguns comentaristas foi um cheque em branco passado a Deus. A plenitude da fecundidade de sua fé se liga à culminância de sua adesão à vontade divina. Por isto grande é o júbilo que se apossa de todos os fiéis às vésperas do Natal ao contemplar a Virgem orante que se tornou a Mãe de Deus no dia da Anunciação do Anjo, assegurando-lhe que o Espírito Santo viria sobre ela e o santo que dela nasceria seria chamado Filho de Deus. Trata-se de um gaudio fundamentado nesta realidade sublime: a maternidade divina de Maria. . Como bem se expressou o Frei João-Alexandre do Cordeiro, isto foi fruto de uma livre resposta de fé à proposta vantajosa do Deus de amor! Este Deus, contudo, exige uma doação integral de todo o ser a Ele como ocorreu com Maria. Apenas assim a graça divina pode realizar maravilhas na vida dos cristãos, sendo tudo em todos. Todos modelados inteiramente pelo amor de Deus como aconteceu com a Virgem Santa. Esta é a mensagem fulcral da solenidade deste dia, convidando os fiéis a se deixarem transformar pela graça celeste sem óbices e dubiedades, sem qualquer indocilidade. Com coragem lutando pela justiça contra toda injustiça, levando ternura lá onde há incompreensão e violência, tudo dulcificando pelo afastamento do desprezo e da indiferença. Enfim, uma pugna constante contra o dragão do pecado sob todas as suas manifestações. É a batalha constante entre as forças da luz e as forças das trevas. De um lado os que temem a Deus, os humildes de coração como Maria,, os famintos das realidades espirituais e de outro lado os soberbos, os adoradores das riquezas, os opressores. O destino dos bons, porém, está traçado na solenidade de hoje, ou seja, a exemplo de Maria, sempre poder dizer a Deus: “Faça-se em mim segundo a tua palavra, Senhor”. Ela nos precedeu e a todos aguarda na outra margem da vida. Ela é o sinal de toda nossa esperança. A felicidade que Deus um dia deu a ela, por ela e com ela, Ele quer para todos os que Lhe são leais como esta Mulher Bendita. Nesta solenidade de hoje a fé fica reavivada, intensificado o liame com o divino Redentor e pulsa maior forte o anelo de caminhar com destemor para a Jerusalém celeste, pois foi para no salvar que o Filho de Deus nasceu em Belém. Como bem se expressou São Bernardo, Maria a irmã de Lázaro ofereceu a Jesus a hospitalidade sob seu teto, Maria a Mãe do Salvador, o albergou no apartamento nupcial de seu seio, podendo afirmar que “Aquele que me criou repousou no meu tabernáculo” (Ecl 24,12). Todas estas sublimes verdades nos são recordadas à véspera do Natal de Jesus. Amanhã devemos depositar no Presépio nossa resolução sincera de sermos sempre, a exemplo de Marias, servos constantes de Jesus, correspondendo a suas graças, a suas inspirações. Então, sim, o Natal será, de fato, abençoado tendo cada um entrado no significado profundo do mistério natalino que a Anunciação de Maria está a nos recordar.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.