A impressionante cena da transfiguração

19/02/2018 às 09h26

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

A Transfiguração de Jesus sobre a montanha é uma cena impressionante, porque nela Deus se mostra, Ele se revela (Mc 9,2-10). Nas passagens do Antigo Testamento também sobre um monte Ele se manifestou a Abraão, a Moisés, ao Profeta Elias. No Tabor, porém, há uma aparição trinitária. O Pai pede que se escute o seu Filho bem-amado e a nuvem representa o Espírito Santo. Foi um momento privilegiado para Pedro, Tiago e João. Uma experiência única que lhes fará perceber melhor o sentido de sua caminhada com Cristo com quem depois estariam no Horto das Oliveiras. Eles são o trio familiar de Jesus que os escolhe para serem testemunhas sobre instantes significativos de sua vida. No Tabor eles contemplam o Mestre numa iluminação tal que os envolve num êxtase sublime. O próprio Pai garante a identidade de Jesus, como seu Filho querido em cujo ensinamento devem seus seguidores se engajar. Dois grandes personagens da tradição de Israel ali estavam a conversar com Jesus: Moisés e Elias, representando a Lei e os Profetas. Jesus dirá depois: “Eu não vim para anular a lei e os profetas, mas para cumprir” (Mt 8,17). Ele, deste modo, aperfeiçoara a lei moral, atuando os ideais proféticos e realizando em si mesmo suas predições, inculcando sua observância em toda sua pureza e integridade. Pedro, Tiago e João já haviam no Tabor sido introduzidos misteriosamente nos segredo do homem de Nazaré. Ficaram vivamente impressionados e envoltos em profunda felicidade a ponto de São Pedro exclamar: “É bom estarmos aqui”. A mesma beatitude cada cristão muitas vezes percebe nos momentos de uma prece que o leva à intimidade com Cristo. É preciso sempre subir à montanha da prece e da adoração, mas Jesus sempre dirá que é necessário carregar a cruz de cada dia, como Ele suportaria a sua até o Calvário. Nos instantes, porém, de obscuridade e lutas haverá a iluminação de sua graça que encorajará seu discípulo nos caminhos da vida até ao monte eterno da glória perene do céu. Pela fé o cristão nunca desanimará e escutará a voz do Mestre a guiá-lo nas veredas da perfeição. A fé tem uma resposta aos apelos divinos, sobretudo no tempo quaresmal. Como aos três apóstolos Cristo nos convida s subir a montanha para contemplá-lo glorioso no dia sua Páscoa. Trata-se de uma iniciativa divina à qual se deve corresponder com amor. A quaresma leva o seguidor de Cristo a descobrir ainda mais a dimensão no processo de sua salvação pessoal e da redenção de todos que se acham em seu derredor. O Pai ordenou que se escutasse Jesus e isto acontece no cotidiano de cada um. Seu Filho bem-amado quer se revelar plenamente para que o cristão, se santificando, possa levar aos outros mensagens tão sublimes. É deste modo que se capta a missão profética para levar muitos a bem se preparar para a Páscoa, passando pelo Calvário onde se contemplará o absoluto da generosidade divina que se imolou pela humanidade. Para isto é preciso uma entrega total a Deus como aconteceu com Moisés e Elias que consagraram toda sua existência à mensagem que lhes fora revelada e souberam transmiti-la aos outros. Recordar a transfiguração de Cristo é se dispor a levá-lo por toda parte. É preciso se santificar para que outros tenham um reencontro com Jesus neste tempo quaresmal. Tudo isto porque para Jesus a Transfiguração foi um momento de confirmação de sua divindade como Filho de Deus e seu ministério de Salvador da humanidade pela sua Cruz e Ressurreição. Para os três Apóstolos foi um acontecimento que, firmando sua fé em Jesus, os preparou para poder reconhecer a Glória do Transfigurado sob a visão desfigurada do Crucificado. Quantos através dos tempos desconhecem que Jesus é o Deus conosco sempre a lembrar a vocação de filhos bem amados destinados à glória eterna. Lá se contemplará beleza e a bondade de Deus em sua plenitude, porque Deus é luz. Felizes serão os que colocarem em prática o que o Pai recomendou no Tabor escutando sempre em suas vidas cotidianas seu Filho dileto. A palavra de Jesus transfigura, redime e salva. É preciso, contudo, uma disponibilidade total, maleabilidade integral às inspirações advindas de Cristo, que nos quer transfigurar à sua imagem. A experiência da transfiguração deve ser uma alegria contínua. O júbilo de poder viver cada instante de nossas vidas na comunhão com Jesus, na intimidade daquele no qual o Pai coloca o seu benquerer. Isto redinamiza a existência do cristão envolto na nuvem que no Tabor era a imagem do Espírito Santo. Então, sim, um dia lá no céu se poderá dizer verdadeiramente com São Pedro: “É bom estarmos aqui”.

* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


Voltar

Confira também: