Por ocasião do 2º Seminário do Laicato da Arquidiocese de Mariana, ajudei um pouco na reflexão sobre a periferia da pobreza, que é a prioridade assumida por nossa Igreja Particular na última Assembleia para este ano de 2018.
Refletimos sobre as razões que temos para assumir essa opção:
A primeira vem do coração. É fruto do sentimento de compaixão. Eu me importo com o outro. A segunda vem do próprio Deus, que sempre esteve do lado dos pobres. É o que encontramos tantas vezes na Bíblia Sagrada: “Eu vi, eu vi a aflição do meu povo. Eu ouvi o seu clamor. Eu conheço a sua aflição. Eu desci para libertá-lo” (Ex 3,7-8). “Ai daqueles que prejudicam o pobre e o fraco!” (cf. Is 10,1). “Quem oprime o pobre insulta seu Criador” (Pr 14,31).
A terceira razão é o próprio Jesus, que viveu e morreu pobre. É de família humilde, deixou tudo, não tinha onde reclinar a cabeça, foi para o meio dos pobres e excluídos, morreu sem nada. Começa sua vida pública e seu ensinamento se referindo aos pobres como felizes e destinatários da missão. “Enviou-me para anunciar a Boa-Nova aos pobres... para libertar os presos...” (Lc 4,18). “Bem-aventurados vós, os pobres” (Lc 6,30). E conclui: “Eu estava com fome...” (cf. Mt 25).
Os apóstolos e as primeiras comunidades também fazem essa opção. Colocavam tudo em comum, de modo que não havia necessitados entres eles (cf. At 2 e 4). Pedro, Tiago e João recomendam a Paulo somente que ele se lembrasse dos pobres (cf. Gl 2,10).
Outra inspiração vem de Nossa Senhora. Maria assume o compromisso com Deus de lutar para derrubar os poderosos dos seus tronos e elevar os humildes, saciar os famintos e despedir ricos de mãos vazias (Lc 1,52-53). Manifestando-se em Aparecida e Guadalupe, mostra o rosto materno de Deus que se faz solidário com os negros e com os índios.
Mas a nossa opção não pode se dar apenas naquela forma de caridade que humilha, que passa a impressão de que somos superiores. Como quem olha de cima. O pobre tem a mesma dignidade e é também protagonista. Tem uma riqueza imensa a nos oferecer. Muitos valores a nos ensinar. Precisa ser reconhecido na sua dignidade e grandeza.
Por isso, podemos dizer que há vários tipos de pobreza. Existe o pobre no sentido mais material, quando lhe falta o mínimo necessário a uma vida digna: comida, roupa, casa, acesso à saúde e educação... Precisa uma ajuda material urgente. O pobre no sentido mais social é a pessoa que é empobrecida por causa da injustiça social, da exploração. Exige a nossa luta por justiça social, pela inclusão. Há também uma pobreza no sentido de ascese, ligada à espiritualidade, quando a pessoa, mesmo tendo recursos, opta por ter apenas o necessário para uma vida digna. Vive de maneira sóbria, simples, desapegada. Sabe partilhar, supera o apego e qualquer ambição. O que é seu pertence também a quem precisa mais. É a pobreza evangélica, proposta de Jesus para todos nós.
Pe. José Antônio de Oliveira