Entre a beleza e a sobriedade

21/03/2018 às 16h05

No ano passado, por ocasião das celebrações da Semana Santa, as redes sociais pipocaram em críticas a um certo exibicionismo de padres, ministros, seminaristas, coroinhas, que espalhavam poses e selfies exibindo roupas coloridas e adereços de todos os tipos. Em muitos lugares, parecia desfile de moda. Cada um querendo exibir a veste mais ‘chique’ ou o figurino mais belo. Um festival de rendas e sedas...

A teóloga e formadora Solange do Carmo fez um desabafo: “Meu Deus, onde foi que erramos?” Isso rendeu inúmeros comentários. Gente que considera um absurdo toda essa exibição e outros que acham natural, porque a liturgia deve expressar a beleza e porque “Deus merece o melhor”.

Contudo, essa chamada “teologia dos panos e do incenso” realmente nos inquieta. E o que mais incomoda é que muita gente aplaude, curte e incentiva. Acham o máximo. Porém, a preocupação exagerada com as roupas, com o figurino, com o ouro e as pratarias fica muito distante daquilo que Jesus viveu entre nós e sonhou quando instituiu a Igreja. Certamente ele pensou em algo que fosse instrumento da construção do Reino de Deus, sinal vivo da sua presença e portadora da sua missão.

Portanto, a referência que temos é o próprio Jesus de Nazaré. E como foi Jesus? Como se vestiu? No meio de quem andava? Com quem se identificava?

Os Evangelhos dizem que ele nasceu na periferia, numa estrebaria, e foi envolto em faixas (cf. Lc 2,7). Durante sua vida não tinha onde reclinar a cabeça (cf. Mt 8,20). Morreu nu e foi enterrado num túmulo emprestado. Durante a última Ceia colocou um avental e assumiu o papel de servo. Ora, não faz sentido celebrar a Semana Santa ou a Eucaristia, memorial da vida e da entrega de Jesus, pobre e excluído, usando roupas finas, ouro, prata e tantas coisas mais. Destoa bastante. Mesmo que tenhamos o cuidado de organizar celebrações dignas e belas, preparar com carinho o ambiente celebrativo, caprichar na liturgia, tudo deve ser feito com sobriedade e simplicidade. Jamais com ostentação e exibicionismo. Seria trair o espírito da Paixão de Cristo e desviar o foco da nossa fé.

Pe. Francesco Sorrentino, que está lançando o livro “Dom Luciano Mendes de Almeida, servo de Deus, irmão dos pobres”, o define como um “padre de estola e avental”. E nos disse que se inspirou para isso em um bispo italiano, Don Tonino Bello, que dizia: a única veste que Jesus colocou para celebrar a primeira missa foi um avental. Sinal do serviço simples e humilde. E, por isso mesmo, é imperioso que a gente “abandone de vez todo sinal de poder, para assumir o poder dos sinais”.

Isso nos faz pensar: o nosso jeito de ser, de celebrar, de vestir... é sinal de quê?!

Pe. José Antonio de Oliveira.


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