Sermão da Soledade ressalta a dor vivida por muitas mães nos dias de hoje

29/03/2018 às 11h02

A quarta-feira santa (28), em Mariana, foi marcada pelo Sermão da Soledade, proferido pelo padre Euder Daniane, diretor do Seminário de Filosofia da Arquidiocese de Mariana, e o tradicional Ofício das Trevas na igreja de Nossa Senhora do Carmo.

O pregador iniciou sua fala destacando os tipos de vazio vividos pela sociedade. “O vazio pode ser experimentado por nós em dois níveis diferentes. No primeiro nível, sabemos que todos nós temos um vazio permanente a ser preenchido. Um vazio no qual fomos criados, a fim de sermos preenchidos pela presença e pela graça de Deus. Essa é uma dimensão que historicamente pertence a todo o ser humano. Todo ser humano está, portanto, em uma situação de destinação a graça, a amizade de Deus”, disse.

Segundo padre Euder, o vazio experimentado pelas criaturas é condição indispensável para receber a graça de Deus e realizar com Ele um profundo encontro de amor. “Esse vazio só poderá ser preenchido quando nós contemplarmos a face de Deus”.

Ao referir-se ao segundo nível do vazio, padre Euder explicou que ele é experimentado constantemente pela humanidade em suas lutas diárias contra o mal. “Naquela falsa impressão de ter sido abandonada por Deus ou mesmo que Ele esteja morto e não seja mais capaz de escutar as preces do povo. Trata-se do vazio que, normalmente, mais se manifesta entre nós por causa do pecado ou das consequências do pecado na vida da pessoa que peca ou dos irmãos que são afetados pela maldade do pecado. Quanta dor podemos experimentar na ausência de Deus. Quanta dor e vazio nas vidas que erram o alvo e não se deixam preencher pelo amor de Deus”, afirmou.

Olhando para a imagem da Senhora das Dores, na sua soledade, sem seu filho nos braços, padre Euder ressaltou a dor de inúmeras mães que perdem seus filhos por causa da violência, do tráfico e da corrupção. “Somos convidados a nos recordar de tantas mães que perdem os seus filhos para os diversos tipos de violências, que encontramos em nossa realidade. Violência social, da falta de cuidado e fruto da corrupção sistémica e pessoal, que provoca a dor de tantas mães, que perdem seus filhos e filhas nas filas de hospitais. As mães que tem seus filhos presos, além de ter que sofrer com o preconceito da população, sofrem na pele a quase certeza de que seus filhos, na atual política penitenciaria, tendem fatalmente a perseverarem no crime ou mesmo perderem a suas vidas.  A violência no trânsito ou em nossas cidades, que provem do tráfico de drogas e da dependência química, através da qual muitas mães continuam padecendo a perda e a ausência de seus filhos”, explicou padre Euder.

O pregador também chamou a atenção para os vários cristãos que se sentem no direito de julgar os outros de modo agressivo, especialmente nas redes sociais, repetindo assim um discurso de dor e intolerância.

Padre Euder sublinhou os ensinamentos que a dor e o vazio de Maria deixam às pessoas. “Maria nos ensina que a dor do vazio não tem a última palavra sobre nós. Em momento algum Maria se desesperou e blasfemou contra Deus, mesmo frente a tamanha dor, foi o contrário, uma mulher forte, que jamais se deixou abater pela opressão do pecado e da morte. Jamais deixou de lutar pela causa de seu filho. Em tudo manteve a humildade, a serenidade, mesmo quando tudo parecia contraditório. Maria sempre soube que se o medo do vazio nos domina, a coragem de lutar e arriscar se perdem. Ela se manteve firme, embora com seu coração muito humano despedaçado pela dor. Maria nos ensina que não podemos em nossas vidas, em nossa missão, temer o vazio das perdas”, finalizou.

Após o sermão, os fiéis rezaram o tradicional Ofício das Trevas. Em clima de piedade, eles meditaram sobre os sofrimentos de Paixão e Morte na Cruz de Jesus.

                                                                 


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