Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Ao aparecer aos apóstolos antes de sua ascensão, estes ficaram atônitos e cheios de medo. Jesus indagou-lhes: “Porque estais perturbados?” (Luc 24,35-48). A realidade das manifestações do Divino Ressuscitado afasta qualquer hipótese de uma ilusão por parte dos seus discípulos, como fruto de um anseio profundo de rever o Mestre amado. Jesus se fez diversas vezes presente como e quando quis. Era natural que os onze, como narrou São Lucas, fossem tomados de enorme alegria e ficassem estupefatos. A experiência espiritual dos cristãos através dos tempos lhes ofereceria instantes inefáveis de uma proximidade de Jesus como ocorreu com os Apóstolos. Muitas vezes, porém, falta a capacidade de crer. Para aumentar o merecimento de cada um nem sempre há evidências imediatas. Mesmo diante de Cristo Eucarístico a impressão de sua ausência pode se dar, porque o sacramento visível é sinal de uma realidade invisível. Aí é que entra o ato de fé e almas piedosas percebem então o recado de Jesus: “Não fiqueis perturbados. Eu estou convosco”. No caso dos discípulos, como mostra o Evangelho de hoje, houve certa dúvida, mas Jesus os ajudou e lhes mostrou as mãos e os pés e até se alimentou com um pedaço de peixe à vista deles. O que Ele queria deixar claro era que Ele, Jesus de Nazaré, estava vivo, ressuscitara dos mortos. Nunca se deve esquecer o que está na Carta aos Hebreus: “Jesus Cristo é sempre o mesmo, hoje, amanhã e por todos os séculos” (Hb 13,8). Daí o fascínio que Ele continua a exercer através dos tempos, sobretudo, naqueles que nele creem. O reconhecimento do Ressuscitado leva então o cristão ao perceber sua presença contínua a irradiar esperanças por entre as aflições naturais de um exílio terreno. É quando, assim como aconteceu com os Apóstolos, ele abre os corações que podem nele deparar toda consolação e amparo. Cabe, deste modo, ao seu verdadeiro seguidor ser dele testemunha. Cumpre, de fato, mostrar por toda parte que Jesus está presente na sua Igreja, chamando a todos para a conversão necessária, para o perdão de Deus e para uma vida autênticmante cristã. Testemunhas, no mundo e para o mundo, que Jesus crucificado ressuscitou e afirmou: “Eu estou convosco todos os dias até a consumação dos tempos”. Nada, pois, de perturbações, mesmo porque nada mais paradoxal do que um cristão triste, aflito, entregue a todo tipo de depressão. Jesus quer a todos libertar de qualquer fobia e temores ilusórios. Ele oferece paz, imperturbabilidade, serenidade. É preciso crer no seu amor. Deixar o coração se iluminar com a certeza de sua presença. É preciso passar sempre do temor à fé. O cristão deve tirar todas as consequências teológicas e espirituais das narrativas das aparições de Jesus ressuscitado aos Apóstolos. A morte foi vencida pelo amor de um Deus que se sacrificou pela humanidade. A ressurreição de Jesus foi obra do amor do Pai a fim de que Jesus mostrasse o caminho para a vida eterna, vivendo numa atitude de confiança e amor às realidades sobrenaturais. A Ressurreição de Cristo deve a todos envolver na mais fulgurante esperança. A esperança de que a vida se abre para todos os de boa vontade. Trata-se de segurar na mão de Deus e caminhar corajosamente rumo à pátria definitiva. Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos nos ressuscitará também para a vida eterna. Ao comungar Jesus na Eucaristia o fiel recebe o germe da própria vitória sobre a morte e disto deve cada um ser testemunha. O cristão precisa ser um continuador da fé naquele que foi crucificado, mas ressurgiu dos mortos imortal e impassível. Um detalhe na narrativa de São Lucas merece então ser fixado, pois Jesus lembra aos Apóstolos “O Messias devia sofrer e ressuscitar dos mortos”. A Bíblia deixa sempre claro que a glória só virá após muitas tribulações, assim com ocorreu com Cristo. Este foi taxativo: ”Bem-aventurados os que choram, eles serão consolados”. Apenas quem compreende o significado das tribulações terrenas pode entrar na dimensão da ressurreição. São Paulo explicou: “Não há proporção alguma entre os sofrimentos deste mundo e a glória que um dia se manifestará em nós” (Rm 8,18). Assim, a ressurreição de Jesus ilumina as dores da trajetória neste mundo, porque é sempre a vida que triunfa em todas as situações até mesmo sobre a morte, como ocorreu com o divino Redentor.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.