Sobretudo neste Ano da Misericórdia as três parábolas que patenteiam a clemência divina merecem atenção especial (Luc 15, 1-31. Elas manifestam, através de três imagens, a grande dileção de Deus para com os homens. Este Deus se interessa por suas criaturas, as aguarda sem cessar. Na sua passagem por esta terra Jesus acolhia os pecadores e causava espanto aos fariseus hipócritas. A eles com sabedoria celestial Cristo cabalmente responde. Alegria do pastor que encontra a ovelha perdida. Gaudio da mulher que depara a dracma que desaparecera, a qual cuidadosamente procurava por toda a casa. Júbilo do pai com o retorno do filho desavisado que abandonara o lar, mas que retorna arrependido. Tudo isto é o mesmo que acontece com Deus e as comparações são claras e sugestivas. Sobretudo a parábola do Filho Pródigo sempre causou impressão profunda naqueles que refletem na sublimidade do perdão do pai que organiza um festim para comemorar o retorno daquele que se transviara e caíra em erros lamentáveis. O pecado é sempre uma injúria ao amor divino, mas o arrependimento tudo repara e merece ser festejado pela clemência paterna. Deus que não desampara os que lhe são fiéis e os cumula de benefícios maravilhosos, sabe, porém, perdoar e acolher o pecador arrependido. Muitos cristãos são como o filho mais velho, pois não apreendem a extensão do indulto divino. O pai é recriminado por anistiar aquele que havia dilapidado sua fortuna com as prostitutas numa vida desregrada. Tenta ele explicar, porém, que ele não se tratava de um estrangeiro, de um corrupto, mas de alguém que errou, tendo reconhecido sua iniquidade. O pai não se mostra então um juiz inexorável, um senhor desalmado. Ao dizer ao filho intransigente “tudo que é meu é teu” fez vibrar as cordas de sua bondade e cabia, isto sim, àquele que nunca o deixara saber usufruir dos bens da casa paterna. Se tal não estava ocorrendo, a culpa não era do pai, mas daquele que não se sentia filho e que naquele instante renegava seu irmão, que regressara confiante na absolvição daqueles que ele lamentavelmente largara, Lição magnífica de solidariedade é o que flui das palavras do pai que percebera a dependência vital do filho arrependido. Naquele momento o filho mais velho era quem mais necessiva da misericórdia do pai, pois se considerava um mero servo, um criado como outro qualquer e não como filho. O filho pródigo, porém, proclamava sua ligação filial, porque disse entristecido: “Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho”. Muitos são os que julgam o próximo e se consideram melhores do que os outros, exatamente por não terem uma noção exata da misericórdia do Pai do Céu, do qual todos somos filhos e, em consequência, somos irmãos. Vale a pena recordar as palavras de São Paulo: “Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores, o primeiro dos quais sou eu”. Isto, é evidente, não em ordem de tempo, mas, como explica Santo Agostinho, “pelo número e gravidade dos pecados” (1 Tm 1,15). Quem se julga isento de culpa é incapaz de olhar os outros com complacência. Quem serve a Deus reconhece o mar imenso de favores celestiais que recebe e não se julga merecedor de mais benefícios divinos. Obedecer a Deus é já uma grande graça, não é um fardo pesado. Nada de comparações com os outros que, possivelmente, têm muito mais merecimento diante de Deus. Ao olhar do amor misericordioso de Deus todos somos iguais, porque pecadores necessitados do perdão e da misericórdia divinas. Somente Deus é perfeito e santo. Assim sendo, nesta parábola, o filho mais idoso estava mais perdido do que o irmão mais novo arrependido. Agia como um justo, mas seu coração estava endurecido com relação aos outros. Era um insensível, tomado por um sentimento de inveja e não reconhecendo a dignidade de seu irmão. Criticou asperamente o direito que ele tinha de ser perdoado e amado pelo pai, Quem erra deve imitar o filho pródigo e ter sempre um arrependimento sincero das faltas cometidas. Jamais devemos ser como o filho mais velho que sabia simplesmente obedecer ao pai, mas não o amava, desconhecendo tantas maravilhas que estavam a seu derredor. Deus quer sempre a observância dos mandamentos, mas isto por amor filial a Ele e não por mero temor da perda da felicidade eterna.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.