O tempo passa e a lama fica

Quase um ano após a tragédia, atingidos pelo rompimento da barragem reivindicam direitos

05/09/2016 às 14h34

Dez meses após o rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, os atingidos pela lama realizaram atos, no final de semana, para denunciar e exigir o cumprimento das reivindicações feitas pelos moradores de Bento Rodrigues, Paracatu e outras áreas afetadas. No dia 3 agosto, mais de 500 pessoas participaram do “Encontro dos atingidos pela Samarco na Bacia do Rio Doce”, em Paracatu, e no domingo (4) o grupo se reuniu, em Bento Rodrigues, a fim de fortalecer a união em torno de um debate comum com o objetivo de restabelecer uma organização forte e consolidada.

Para a militante do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), Letícia Oliveira, o momento foi importante para questionar a falta de atitude da empresa em relação aos direitos dos atingidos, como a lentidão no processo de pagamento das indenizações, da compra dos novos terrenos e no reconhecimento de pessoas atingidas. “Além disso, o encontro foi uma forma de denunciar a construção do dique S4 e reforçar a insatisfação dos atingidos que não querem que a área de Bento Rodrigues seja alagada. O alagamento do subdistrito impede o acesso de seus moradores ao local, verdadeiros donos da comunidade e destrói um lugar de valor histórico e cultural para toda a região”, explicou Letícia.

Mauro Marcos da Silva, morador de Bento Rodrigues, participou dos atos e classificou o movimento como participativo, organizado e de grande porte. Lutando para ser reconhecido como atingido, ele reforçou a importância da união de todos na busca por direitos. “O encontro foi muito bom e positivo, pois soma forças e esforços para esclarecer a real situação dos atingidos e a postura da empresa. Tem gente que está com medo de perder o que já tem, mas com o tempo as pessoas vão entendendo e conscientizando que a luta tem que continuar para o bem comum. Eu nasci e fui criado no Bento e não sou considerado atingido, mesmo perdendo casa, carro e tendo vínculo com a comunidade”, afirmou.

Manifestações continuam

Como ato, em protesto ao atraso na reparação dos atingidos, no dia 31 de outubro a 2 de novembro espera-se cerca de 1000 pessoas para a realização da “Marcha de Regência à Mariana”. Em caminhada, os manifestantes seguirão o curso do Rio Doce da cidade de Regência até Mariana, onde, no dia 5 de novembro, um conjunto de ações pretendem relembrar um ano do rompimento e questionar sobre o que foi feito ou não desde então. Segundo o pároco da paróquia do Sagrado Coração de Jesus, em Mariana, padre Geraldo Barbosa, a marcha tem como objetivo mostrar a situação dos atingidos atualmente e envolver organismos, entidades, movimentos populares, moradores da Bacia do Rio Doce e atingidos pela lama. “A inciativa é importante para continuar a luta e as reivindicações dos direitos que até agora não foram contemplados”, ressaltou.

Demissões

No dia 31 de agosto aconteceu, em Mariana, uma audiência pública para cobrar uma postura da Samarco em relação às demissões em massa que ocorreram na Região dos Inconfidentes. Com a participação do sindicato Metabase e autoridades públicas, a reunião teve como objetivo exigir a garantia de emprego de cerda de 12 mil pessoas que estão desempregadas. “O processo de demissões precisa ser revisto e as pessoas precisam ser readmitidas, são todos atingidos”, afirmou o padre Geraldo Barbosa.


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