No dia 1º de maio, por ocasião da Romaria dos Trabalhadores, em Congonhas, Dom Geraldo Lyrio Rocha fez a seguinte homilia:
MINERAÇÃO PARA QUÊ E PARA QUEM?
No dia 1º de maio, a Igreja celebra a festa de São José Operário. Como sabemos, o pai adotivo de Jesus era um trabalhador, um carpinteiro. Essa também foi a profissão do próprio Jesus: “Não é ele o filho do carpinteiro?” perguntavam admirados seus conterrâneos diante de sua sabedoria e dos milagres que operava (cf. Mt 13, 55). Hoje, de modo especial, “louvamos a Deus porque na beleza da criação, que é obra de suas mãos, resplandece o sentido do trabalho como participação na sua tarefa criadora e como serviço aos irmãos e irmãs. Jesus, o carpinteiro (cf. Mc 6,3), dignificou o trabalho e o trabalhador, e recorda que o trabalho não é mero apêndice da vida, mas, constitui uma dimensão fundamental da existência do ser humano na terra, pela qual o homem e a mulher se realizam como pessoas humanas. O trabalho garante a dignidade e a liberdade do ser humano, e é provavelmente a chave essencial de toda a questão social” como afirmou o Papa João Paulo II, em sua Encíclica Sobre o Trabalho Humano” (LE 3).
Na festa do Bom Jesus, em Congonhas, no ano de 2012, apresentei uma DECLARAÇÃO DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA, DIANTE DOS IMPACTOS DA ATIVIDADE MINERADORA, nesta cidade e em outras partes de nossa Arquidiocese. O que disse naquela ocasião, passados seis anos, torna-se ainda mais atual e urgente, porque de lá para cá a situação se agravou ainda mais. A pergunta continua de pé: MINERAÇÃO PARA QUÊ E PARA QUEM?
Neste 1º de Maio, dirijo-me aos trabalhadores(as), às autoridades, aos empresários e a todos os cidadãos comprometidos com o bem comum, reafirmando, à luz dos princípios éticos e cristãos, a posição da Igreja em defesa da vida, em favor da preservação do meio ambiente e da conservação do nosso patrimônio histórico, artístico, cultural e religioso, tão ameaçado, especialmente aqui em Congonhas.
Não podemos ignorar os riscos dos impactos causados à qualidade de vida das pessoas, ao meio ambiente e à preservação de seu precioso patrimônio. Tais impactos são, muitas vezes, ignorados em nome de um falso e excludente desenvolvimento econômico. Em sua encíclica Populorum Progressio, dizia o Papa Paulo VI: “o desenvolvimento não se reduz a um simples crescimento econômico e, para ser autêntico, deve ser integral, isto é, deve promover o ser humano todo e todos os seres humanos” (cf. PP 14).
O progresso deve ser regulado não apenas pelas leis da economia e do mercado, mas também por princípios éticos e morais que permitam um desenvolvimento sustentável, com responsabilidade social. Toda atividade mineradora deve ter como parâmetro o bem estar da pessoa humana, buscando a superação dos impactos negativos sobre a vida em todas as suas formas e a preservação do planeta, com respeito ao meio ambiente, à biodiversidade e ao uso responsável das riquezas naturais. É preciso empregar todos os esforços para manter viva a natureza, preservar os mananciais e as nascentes, garantir o habitat dos seres vivos e defender as espécies ameaçadas de extinção. Com sabedoria ensina-nos o Papa São João Paulo II: “A programação do desenvolvimento econômico deve considerar atentamente a necessidade de respeitar a integridade e os ritmos da natureza, já que os recursos naturais são limitados e alguns não são renováveis” (cf. SRS, n. 26), como é o caso das riquezas minerais. Além da defesa do meio ambiente, é de fundamental importância que se promova a “ecologia humana”, conforme a expressão de São João Paulo II.
Diante dos grandes investimentos econômicos, os cidadãos, por meio de mecanismos de controle social, têm direito a reivindicar melhorias sociais e ambientais, a cobrar medidas eficazes que atendam às prioridades defendidas pela comunidade, a exigir que os impostos sejam devidamente aplicados em sua finalidade e a lutar por medidas que garantam o respeito à dignidade de todos, com especial atenção aos trabalhadores e suas famílias.
Disse o Papa Francisco em seu discurso aos participantes do Encontro Mundial dos Movimentos Populares, em Roma, no dia 28 de outubro de 2014: “Um sistema econômico centrado no deus dinheiro tem também necessidade de saquear a natureza; saquear a natureza para manter o ritmo frenético de consumo que lhe é próprio. A mudança climática, a perda da biodiversidade, o desmatamento já estão mostrando seus efeitos devastadores nas grandes catástrofes que assistimos” como foi o caso do rompimento da Barragem do Fundão, no município de Mariana. E continua o Papa Francisco; “Irmãos e irmãs, a criação não é uma propriedade da qual podemos dispor a nosso bel-prazer; e muito menos é uma propriedade só de alguns, de poucos. A criação é um dom, uma dádiva maravilhosa de Deus para que dela nos ocupemos e a utilizemos em benefício de todos, sempre com respeito e gratidão”.
Por intercessão de Nossa Senhora da Assunção e de São José, Padroeiros da Arquidiocese de Mariana, imploramos ao Senhor Bom Jesus que derrame suas bênçãos sobre todos nós e nos ajude a promover a vida, a preservar o meio ambiente, a proteger o patrimônio histórico, artístico, cultural e religioso desta bela e rica região do Estado de Minas Gerais, dom de Deus e obra da criação humana.