Uma coisa que sempre me chama a atenção e me fala muito são as mãos. De fato, elas falam... Expressam os mais variados sentimentos. Da carícia à indignação; do amor ao ódio. Tem a mão que ergue e a mão que humilha; a mão que fere e a que cura; a que abraça e a que afasta; a que aplaude e a que denuncia...
Na segunda Oração Eucarística sobre a reconciliação, nos dirigimos ao Pai com uma expressão muito linda: Jesus “é a mão que estendeis aos pecadores”. E é verdade. Aliás, em toda a bíblia encontraremos inúmeras passagens que nos falam da mão de Deus que nos acompanha.
Por isso, a novena de preparação para a solenidade de Pentecostes deste ano, que se une à semana de oração pela unidade cristã, traz como lema uma frase muito forte e significativa: “A mão de Deus nos renova, nos une e nos liberta”. A inspiração para o lema e a reflexão vem do hino cantado por Moisés e todo o povo de Israel, logo após a travessia do Mar Vermelho. Estavam radiantes pela vitória sobre os inimigos, que representavam a escravidão, a subvida, e já vislumbravam o horizonte da liberdade e da dignidade. Mas todos tinham plena consciência de que a vitória só foi possível porque a mão poderosa do Senhor, a sua direita, estava com eles (cf. Ex 15). Mão que liberta, encoraja, abençoa, protege, aponta o caminho...
Foi essa mesma mão que acompanhou e abençoou a vida e a missão de todos os profetas. Ela estava sobre Elias (cf. 1Rs 18,46) e seu discípulo Eliseu (cf. 2Rs 3,15). Ezequiel vai afirmar: “A mão do Senhor pousou sobre mim e ele me disse: ‘Levanta-te e sai para a planície! Lá eu falarei contigo’” (Ez 3,22). É a mão que nos alenta e nos empurra para a frente, como aconteceu com Esdras: “Como a mão do Senhor me protegia, eu me animei...” (Esd 7,28). É também a mão que reúne e une pessoas diferentes e dispersas: “Em Judá, a mão de Deus operou, unindo-os num só coração” (2Cr 30,12).
João Batista, precursor do Messias, causou admiração em todos que o conheceram, desde o seu nascimento, porque “a mão do Senhor estava com ele” (Lc 1,66). Enfim, quando os discípulos e discípulas de Jesus deram início à obra da evangelização, apesar de todas as perseguições e reações contrárias, a missão foi um sucesso. Muitas pessoas acreditaram na Boa Nova, abraçaram a fé e se converteram porque “a mão do Senhor estava com eles” (At 11,21).
Essa mão do Senhor se estende também hoje sobre nós, por meio da sua graça, que revela a ação amorosa de Deus em nossa vida, por meio dos Sacramentos, da Palavra, dos dons do Espírito Santo... Por vezes nos sentimos um tanto perdidos, desorientados, cansados diante das crises que nos envolvem no mundo da politica e da própria Igreja. Porém, como aconteceu com o povo de Israel, encurralado entre o exército egípcio e o Mar Vermelho, Deus continua a nos repetir o que falou a Moisés: “Diga aos filhos de Israel que se ponham em marcha”. Às vezes nos assustamos com o mar revolto, nos angustiamos com as ondas gigantes da injustiça, da falta de ética, da irresponsabilidade de muitas lideranças, da ganância de alguns que, em sua ambição, geram miséria e sofrimento para tantos. Mas Jesus, como fez com Pedro, estende a mão e nos censura: por que duvidam?! (cf. Mt 14,31).
Pe. José Antonio de Oliveira