Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Na comemoração da Ascensão de Jesus ao céu contemplamo-lo, também enquanto homem, reinando junto do trono de Deus (Mc 16,15-20). Flui para a humanidade uma mensagem de serenidade e esperança. Tranquilidade porque o Redentor completou sua obra e, embora ficando entre os seus seguidores na Eucaristia, é lá no céu o eterno intercessor dos que lhe são fiéis aqui na terra. Isso irradia esperança, dado que Ele quis multiplicar sua presença na história de seus discípulos com uma ininterrupta poderosa proteção, firmando a fidelidade dos que lhe pertencem. Através do divino Salvador os cristãos se tornam amigos de Deus e mensageiros de uma inefável expectativa após a trajetória terrena. A Ascensão de Cristo foi a consumação de um marco glorioso na vida do mundo e de cada ser humano que O acata. Eis porque não obstante se festejar uma partida de um Ente querido e bem amado lá para o céu, a alegria inunda os corações. Apesar, porém, deste júbilo o novo tempo da Igreja, após a elevação de seu Fundador para junto do Pai, exige um engajamento no serviço da evangelização. Com efeito, tal a ordem derradeira de Cristo aos apóstolos: “Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura”. Enorme responsabilidade que se tornou uma condição para um dia conhecer cada um sua ascensão para a Casa do Pai. O batizado que participa do múnus profético de Cristo é encarregado de obrar em seu nome numa catequese ininterrupta em casa, no trabalho, nos lugares de lazer. Isso por meio do testemunho de vida, da palavra e das orações pela conversão dos transviados. Tarefa difícil, mas justamente Jesus subiu aos céus para enviar o Espírito Santo que ajudaria seus seguidores nesta missão tão árdua quanto sublime de difundir o Evangelho. Trata-se de produzir os sinais e os frutos do Reino. Onde quer que esteja, o discípulo de Jesus deve irradiar justiça, caridade, liberdade, paz, júbilo e vida nova. Jesus, contudo, conta com cada um e trabalha com Ele nesta missão maravilhosa que estende a salvação séculos afora. Pregar o Evangelho encarnado na vida de cada um é a tarefa grandiosa de todo batizado, relembrada nesta solenidade da Ascensão. É uma renovação da consciência do dinamismo evangelizador confiado por aquele que se retirou e fez de seus fiéis embaixadores da Palavra que salva e redime. O cristão deve proclamar a Boa Nova, mostrando que a morte não é uma fatalidade, que a prática das virtudes é possível porque unidos a seu Senhor irradia sua doutrina salvífica. Aí está a razão pela qual se diz que o cristão é outro Cristo, dado que ele fala, em todas as situações, a linguagem de Jesus, linguagem nova que significa um sim dado à perfeição existencial e um não a todas as ilusões do mal. Não se trata de pregar uma teoria, mas de transmitir uma postura de quem está destinado a ir para o céu. É uma relação íntima com Jesus que produz a liberdade vencedora de todas as paixões deletérias. Ação transformadora, redentora que produz a mudança no coração do outro, resultado da Palavra anunciada por aquele que assume verdadeiramente o papel de lugar tenente do Filho de Deus. É salvar almas continuando a obra redentora de Cristo, operando maravilhas com sua graça onipotente. Muitos se engajam nas diversas pastorais de acordo com suas possibilidades, mas todos, em virtude de sua condição de batizados, pregam de acordo com seu perfil caracterológico a Palavra e lhe são fiéis. Eis por que o cristão é otimista com relação à vitória do bem sobre o mal por mais paradoxal que sejam as desordens que com estrondo é difundida pela mídia. Os que vivem segundo o espírito e não segundo a carne são muito mais numerosos dos que os filhos das trevas. Os espirituais de que fala São Paulo na Carta aos Romanos, vivificados pelo espírito, são os filhos de Deus destinados à companhia de Cristo na Jerusalém celeste e são os para-raios neste mundo (Rm,8). Grande honra do autêntico cristão ser testemunhas da vitória de Cristo e de seu Evangelho. Eis aí porque a fortaleza interior é a marca do discípulo de Jesus, apesar das inquietudes, das críticas, do aparente triunfo da perversidade. A Evangelização, apesar de tudo, vence as estreitezas e misérias humanas. Portanto, aí está a ordem de Cristo a cada um: “Ide e Evangelizai”. Ele realmente conta com cada um de nós. Não o decepcionemos nunca!
*Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.