Palavra de Dom Geraldo na 3ª Romaria da Terra e das Águas

04/06/2018 às 09h35

Palavra de Dom Geraldo Lyrio Rocha, na 3 ª Romaria da Terra e das Águas realizada nesse domingo (3), em Ponte Nova.

 

Nesta 3ª Romaria das Águas e da Terra, motivados pelo tema “BACIA DO RIO DOCE, NOSSA CASA COMUM” e pelo lema “CUIDANDO DA TERRA E PLANTANDO ÁGUA, COM JUSTIÇA E SOBERANIA POPULAR”, denunciamos a inversão dos valores que provoca danos às águas e à terra por causa da busca desordenada do lucro, amparada por políticas econômicas predatórias que destroem a natureza, desrespeita a vida e a dignidade humana. Não podemos silenciar diante de Governos em âmbito federal, estadual ou municipal e de órgãos públicos que se omitem em sua tarefa de fiscalizar os empreendimentos minerários, especialmente nesta região. Mais uma vez denunciamos o desrespeito aos direitos dos atingidos/as, pelo rompimento da barragem de Fundão, no distrito de Bento Rodrigues, município de Mariana e que causou graves danos às pessoas e ao meio ambiente em toda a extensão do Rio Doce.

Em sua declaração, os Bispos das Dioceses da Bacia Hidrográfica do Rio Doce afirmam: “O rompimento da barragem de Fundão tornou inadiável a reflexão crítica sobre a complexa questão da mineração. Essa tragédia revelou a fragilidade e a grave insuficiência dos critérios utilizados para a definição de novas áreas de mineração, dos métodos utilizados, das técnicas de produção e gestão de barragens, das tecnologias da engenharia de mineração. Além disso, a tragédia mostrou a vulnerabilidade da atual legislação socioambiental; a insuficiente fiscalização dos órgãos competentes; a baixa qualidade e a morosidade das ações emergenciais; o despreparo da sociedade e dos governos para planejar, discutir, condicionar, negociar e garantir as estratégias de desenvolvimento centradas na busca da sustentabilidade.

É preciso estender nosso olhar também para o impacto da mineração sobre a água. Trata-se de um bem que é finito e, ao mesmo tempo, essencial para a vida, por isso, de direito universal. A exploração insustentável das atividades mineradoras ameaça esse bem indispensável, prejudicando o meio ambiente, destruindo vegetações, provocando desequilíbrio no regime de circulação de águas superficiais e subterrâneas, modificando essencialmente o lençol freático, causando a destruição de inúmeras nascentes, levando à escassez desse bem precioso e gerando impactos prejudiciais à saúde, à produção de alimentos e à própria vida.

Na raiz dessa tragédia de dimensões incalculáveis, encontra-se a sede desenfreada de lucro a ser obtido a qualquer preço, mesmo causando danos à natureza e ao ser humano: “Isto acontece porque no centro desse sistema econômico está o deus dinheiro e não a pessoa humana. Sim, no centro de cada sistema social ou econômico deve estar a pessoa, imagem de Deus [...]. Quando a pessoa é deslocada e chega o deus dinheiro dá-se essa inversão de valores [...]. Um sistema econômico centrado no deus dinheiro tem também necessidade de saquear a natureza” diz o Papa Francisco, no Discurso aos participantes do Encontro Mundial dos Movimentos Populares, em Roma, no dia 28 de outubro de 2014.

O Papa é incisivo ao afirmar: “Os seres humanos e a natureza não devem estar a serviço do dinheiro. Digamos NÃO a uma economia de exclusão e desigualdade, onde o dinheiro reina em vez de servir. Esta economia mata. Esta economia exclui. Esta economia destrói a Mãe Terra [...]. A casa comum está sendo saqueada, devastada, vexada impunemente. A covardia em defendê-la é um pecado grave [...]. Pacífica, mas tenazmente, os povos e os seus movimentos são chamados a clamar, mobilizar-se, exigir a adoção urgente de medidas apropriadas. Peço-vos, em nome de Deus, que defendais a Mãe Terra” (Discurso em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, no dia 9 de julho de 2015).

Renovo o apelo dos Bispos das Dioceses da Bacia do Rio Doce: “Estimulem os que lutam em defesa da “casa comum” para que não desanimem diante dos obstáculos e da prepotência dos grandes e poderosos. Ajudem a salvar o Rio Doce, com tudo o que ele significa para tanta gente em Minas Gerais e no Espírito Santo. Perseverem na luta a favor da vida e da esperança, na certeza de que “a paz é fruto da justiça” (Is 32, 17).

 


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