Apresentação de Dom Geraldo na sessão de acolhida a Dom Airton

23/06/2018 às 10h56

Apresentação do Administrador Apostólico da Arquidiocese de Mariana, Dom Geraldo Lyrio Rocha, na sessão de acolhida a Dom Airton José dos Santos, nesta Igreja particular, realizada nessa sexta-feira (22), no Santuário de Nossa Senhora do Carmo, em Mariana.

 

Mariana, sede primacial de Minas

Dom Geraldo Lyrio Rocha

Aqui nasceu Minas Gerais. Aos 16 de julho de 1696 chegaram os bandeirantes, vindos de Taubaté – SP, e se localizaram às margens de um riacho a que denominaram Ribeirão do Carmo, por ser esse dia dedicado a Nossa Senhora do Carmo. Em 1711 o arraial torna-se a primeira vila de Minas Gerais que, em vista da criação da nova diocese, foi elevada à categoria de cidade, no dia 23 de abril de 1745, pelo rei Dom João V que lhe deu o nome de Mariana, em homenagem à sua esposa a rainha Maria Anna d’Áustria. Mariana é a primeira vila, primeira cidade, primeira capital e primeira diocese de Minas Gerais. Por isso é intitulada Primaz de Minas.

Em 1745, pela bula Candor lucis aeternae, o Papa Bento XIV criou a diocese de Mariana, desmembrada do Rio de Janeiro, juntamente com a diocese de São Paulo e as prelazias de Goiás e Cuiabá. É a primeira diocese do interior do Brasil, pois, a colonização portuguesa das terras brasileiras iniciou-se na costa. Foi o Conde de Assumar quem propôs a criação de uma diocese em Minas Gerais e outra em São Paulo. Essa proposta vinha ao encontro dos interesses geopolíticos de Portugal, pois, preparava o terreno para o reconhecimento papal da expansão portuguesa em direção ao Oeste, deslocando assim definitivamente a linha divisória do Tratado de Tordesilhas. Além disso, a criação das novas dioceses somava os interesses do expansionismo português com o projeto eclesiástico de constituir um clero nativo nas colônias ultramarinas1.

Os motivos da escolha de Mariana para sede do novo bispado foram apresentados pelo cronista do panegírico intitulado Áureo Trono Episcopal, elaborado por ocasião da entrada solene de Dom Frei Manuel da Cruz, primeiro bispo de Mariana. A primeira é de natureza cronológica, pois a vila de Nossa Senhora do Ribeirão do Carmo é a mais antiga povoação da região mineradora e aqui foi erguida a primeira capela. A segunda razão é de ordem política, talvez a mais determinante, pois a fidelidade para com a coroa portuguesa pode ter sido recompensada com o trono episcopal. A terceira razão é de ordem geográfica, pois a vila do Ribeirão do Carmo fica no meio, no coração do território da nova diocese2.

A igreja matriz dedicada a Nossa Senhora da Conceição foi elevada à categoria de catedral de Nossa Senhora da Assunção. A mudança do título se deve a um voto do rei de Portugal quando, em 1385, o reino português se encontrava ameaçado pelo reino de Castela. A razão era a sucessão ao trono de Portugal, ambicionado pelo rei de Castela que, através das complicadas linhas dinásticas, era um dos pretendentes. Os portugueses, comandados por aquele que seria D. João I, resistiram às pretensões de Castela. O momento decisivo da disputa se deu na manhã de 14 de agosto de 1385, na célebre batalha de Aljubarrota onde os portugueses, com um exército visivelmente inferior, venceram as armas de Castela, na véspera da festa da Assunção de Maria. Os lusitanos tomaram essa vitória como um verdadeiro milagre e o atribuíram a Nossa Senhora da Assunção. Para agradecer à Senhora, os benefícios e a salvação de Portugal nesse momento de tantos perigos, Dom João I determinou que de então em diante, todas as catedrais do Reino fossem consagradas a Nossa Senhora da Assunção3. Ao que tudo indica, D. João V, em 1745, fez cumprir esse voto em Mariana e São Paulo, as duas dioceses irmãs gêmeas, criadas pela mesma bula pontifícia.

Com seu inconfundível estilo, diz-nos Mons. Flávio Carneiro Rodrigues, Diretor do Arquivo Eclesiástico de Mariana: “O território coberto pela diocese primaz de Minas, que compreendia a região mineira então habitada (centro e sudeste), aproximadamente um quinto do Estado, hoje repartido entre sete províncias eclesiásticas, se subdividiu numa radiosa constelação de bispados: Diamantina, Pouso Alegre (parte), Campanha (parte), Belo Horizonte, Caratinga, Juiz de Fora, Luz (parte), Leopoldina, São João del Rei e Itabira-Fabriciano. A sua catedral tornou-se assim a mãe dadivosa de tantas outras catedrais”4.

Novo tempo na história da Igreja em Minas Gerais e no Brasil foi marcado com a criação da diocese de Mariana e a chegada de seu primeiro bispo. Dom Frei Manoel da Cruz, que se encontrava em São Luís do Maranhão, de onde saiu no dia 03 de agosto de 1747, e entrou solenemente em Mariana no dia 28 de novembro de 1748, após uma viagem de 1 ano e 3 meses.

Ao longo de 273 anos, ocuparam a cátedra marianense oito bispos: 1º. Dom Frei Manoel da Cruz (1748-1764), 2º. Dom Joaquim Borges de Figueroa (1772-1773), 3º. Dom Bartolomeu Manuel Mendes dos Reis (1773-1779), 4º. Dom Frei Domingos da Encarnação Pontével (1779-1793), 5º. Dom Frei Cipriano de São José (1798-1817), 6º. Dom Frei José da Santíssima Trindade (1820-1835), 7º. O Venerável Dom Antônio Ferreira Viçoso (1844-1875), 8º. Dom Antônio Maria Corrêa de Sá e Benevides (1877-1896), 9º. Dom Silvério Gomes Pimenta (1897-1906).

Elevada a Arquidiocese, juntamente com Belém do Pará, Mariana teve cinco arcebispos: 1º. Dom Silvério Gomes Pimenta (1906-1922), 2º. Dom Helvécio Gomes de Oliveira (1922-1960), 3º. Dom Oscar de Oliveira (1960-1988), 4º. O Servo de Deus Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida (1988 - 2006), 5º. Dom Geraldo Lyrio Rocha (2007-2018). Com grande júbilo, a Arquidiocese de Mariana recebe seu 6º. Arcebispo, Dom Airton José dos Santos a quem desejamos fecundo e longo pastoreio, ad multos multosque annos!

 

1 KANTOR, Iris – Pacto Festivo em Minas Colonial, São Paulo, 1996, p. 32

2 Id. Ib. p. 45

3 Cf. LIMA JÚNIOR, Augusto de – História de Nossa Senhora em Minas Gerais ,Imprensa Oficial, Belo Horizonte, 1965, p.105

4 CARNEIRO RODRIGUES, Flávio – Guia Geral da Arquidiocese de Mariana, Ed. Dom Viçoso, Mariana, 2008, p. 20


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