Discurso de padre Edmar José na acolhida a Dom Airton

23/06/2018 às 14h04

Discurso do representante dos presbíteros da arquidiocese, padre Edmar José dos Santos, na sessão de acolhida a Dom Airton José dos Santos, nesta Igreja particular, realizada nessa sexta-feira (22), no Santuário de Nossa Senhora do Carmo, em Mariana.

Exmo. e Revmo. Dom Geraldo Lyrio Rocha, queridos irmãos presbíteros e diáconos, distintas religiosas, estimados seminaristas e vocacionados, queridos irmãos e irmãs em Cristo Jesus. Exmo. Revmo. Dom Airton José dos Santos.

Como atual representante arquidiocesano dos presbíteros, coube a mim dirigir ao senhor essa saudação de acolhida em nome do nosso clero, o que faço com muita honra e sincera alegria. Repito hoje o que escrevi ao senhor, logo após a sua nomeação como Arcebispo de Mariana, pensando traduzir o sentimento dos nossos presbíteros e diáconos: “nós o acolhemos com espírito filial, desejosos de caminharmos sempre unidos na fé e na missão evangelizadora”.

Dom Airton, a nossa Arquidiocese de Mariana é constituída de 130 paróquias, 2 quase- paróquias, 2 reitorias e um curato. O nosso clero é composto de 204 sacerdotes, 22 diáconos permanentes e 7 jovens diáconos temporários. Estes últimos foram ordenados no dia 24 de fevereiro deste ano. Dos 204 sacerdotes, 182 pertencem ao clero Arquidiocesano e 22 ao clero regular, são religiosos. Dos 182 padres que pertencem ao clero Arquidiocesano, atualmente 169 atuam no território da nossa Igreja particular e 13 estão fora (alguns estão estudando, outros estão em experiências missionárias, outros estão prestando algum serviço em algum organismo da igreja ou em outra diocese).

Dom Airton, permita-me apresentar ao senhor algumas características do nosso clero, especialmente do nosso presbitério. A minha intenção não é fazer uma apresentação laudatória dos nossos presbíteros (neste caso, auto-laudatória, porque proferida por um ministro ordenado pertencente a este presbitério), mas oferecer ao senhor a oportunidade de conhecer previamente algumas das nossas virtudes, frutos da graça e da bondade de Deus. Isso não significa que não temos limitações. Estou consciente de que temos muitos limites e um longo caminho a percorrer na direção da santidade pessoal e comunitária e que, de agora em diante, trilharemos este caminho com o auxílio e as preciosas orientações do senhor.

Uma das características mais marcantes do nosso presbitério é que somos um presbitério autóctone. Quase todos nascemos, recebemos os sacramentos e fizemos nossas experiências de fé mais profundas nas Paróquias e comunidades da Arquidiocese de Mariana. Além disso, quase todos fomos formados no Seminário de Mariana, instituição de Ensino que completará este ano 268 anos de existência. Na prática, isso significa que todos nós amamos muito esta Igreja particular, nos sentimos identificados com ela e possuímos afinidade afetiva e existencial com esta porção do povo de Deus. Tudo isso, nos torna muito comprometidos com a nossa igreja particular e felizes em estarmos atuando ministerialmente nas suas diversas paróquias e comunidades. Além disso, isso reflete também no modo como vivemos a comunhão presbiteral. Apesar das pequenas divergências existentes, o que é comum em qualquer presbitério, há entre nós sentimentos de respeito e estima mútua, o que reflete positivamente no nosso trabalho pastoral e na vivência da comunhão presbiteral.

Dom Airton, creio também que outra bela características que marca a nossa vida, o nosso presbitério é a simplicidade no modo de ser e viver. Na sua grande maioria, os nossos padres são despojados e levam uma vida relativamente austera. No geral, não ostentam um estilo de vida muito distante da realidade do nosso povo.

Outra característica do nosso clero é o espírito de serviço. Dom Airton, posso garantir ao senhor que o nosso clero é muito trabalhador. Na sua imensa maioria, os padres e diáconos da nossa arquidiocese se desdobram para atender sacramentalmente e pastoralmente o povo de Deus. Temos algumas paróquias de extensão territorial muito grande, com número abundante de comunidades e que são atendidas apenas por um sacerdote, o que requer muito trabalho, muito zelo e sacrifício pessoal. Além disso, algumas comunidades são de difícil acesso (com estrada de terra: com sol, o padre enfrenta a poeira; com chuva, enfrenta o barro) e, nem por isso, estas comunidades ficam sem o atendimento adequado, dentro das possibilidades do padre ou do diácono. Alguns padres e diáconos até se descuidam de si mesmos, para dar atenção prioritária ao povo de Deus que lhe é confiado. Como membro deste clero, conhecendo outras realidades, confesso ao senhor que fico edificado com o testemunho dos meus irmãos presbíteros e diáconos, no que se refere a este consumir-se em prol do Reino de Deus.

Dom Airton, outra característica do nosso clero, que vem se desenvolvendo progressivamente ao longo dos últimos anos, é o crescimento da consciência e do compromisso missionário. Antes mesmo do Papa Francisco insistir neste aspecto fundamental da vida eclesial, muitos irmãos presbíteros se dispuseram a fazer experiências missionárias em lugares distantes e exigentes do Brasil. Isso se deve também ao impulso missionário inaugurado por Dom Luciano Mendes na nossa Arquidiocese e fomentado pelo nosso querido Dom Geraldo.

Caro Dom Airton, outra característica marcante do nosso presbitério é a docilidade. Docilidade para acolher o que o Espirito de Deus vai apontando para a nossa Igreja particular, ao longo dos anos, através dos nossos pastores. O senhor vai perceber que o nosso presbitério (também o diacônio) é muito respeitoso na relação com o bispo e procura manter a comunhão com os sucessores dos apóstolos, acolhendo suas orientações e sendo obedientes ao que recebem como dom. E é neste espírito de docilidade, solicitude e obediência que acolhemos o senhor entre nós.

Dom Airton, o senhor sabe que toda mudança traz consigo temores, inseguranças, desinstala, reacende sentimentos que, por força do hábito e do costume, estavam adormecidos. Porém, a novidade traz também esperança, possibilidade de recomeço, sonhos novos. Esta é a realidade que nós, padres e diáconos da Arquidiocese de Mariana, estamos experimentando com a chegada do nosso novo arcebispo. Mas creio também que sejam estes os sentimentos que estão no coração do Senhor, nosso novo pastor. Para além de uma leitura na perspectiva psicológica (dos sentimentos), somos sobretudo homens de fé, e sabemos que Deus conduz a Igreja com ternura e carinho. Portanto, não nos restam dúvidas de que o Espírito Santo de Deus o escolheu para nos guiar ao longo dos próximos anos. E nós, estamos de coração e braços abertos para acolher o dom que o Espírito de Deus nos enviou. Como disse Dom Geraldo ontem, Bendito o que vem em nome do Senhor!. Não nos restam dúvidas de que o senhor será um grande dom de Deus para esta Igreja particular de Mariana, especialmente para aqueles que serão seus colaboradores mais próximos, padres e diáconos desta Arquidiocese.

Dom Airton, se por um lado o senhor é um dom de Deus para nós, por outro, queremos lhe oferecer os dons que o Espírito Santo já suscitou em nossa igreja particular, nos últimos anos, através do ministério dos três últimos pastores que o precederam na condução desta Arquidiocese. São eles: Dom Oscar de Oliveira, Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida e Dom Geraldo Lyrio Rocha.

De Dom Oscar recebemos o apreço e o zelo pela cultura, a valorização da nossa história, a preservação do patrimônio artístico, a promoção das devoções populares como mecanismo de evangelização. De Dom Luciano recebemos o precioso tesouro do compromisso na defesa da vida, na promoção social, a presença da igreja nos diversos setores e segmentos da sociedade, a organização pastoral em vista de uma evangelização que conjugue a fé e a vida. E de Dom Geraldo recebemos dentre os diversos dons, o espírito de colegialidade, o fortalecimento dos conselhos, uma igreja estruturada a partir da comunhão, promovendo a participação. Tudo isso queremos partilhar com o senhor, como dons recebidos de Deus, na certeza de que também o senhor, o mais novo dom de Deus para nós, enriquecerá esta abençoada arquidiocese, a primaz das Minas Gerais.

Dom Airton, neste dia em que nos apresentamos mutuamente, quero assegurar ao senhor o nosso afeto e a nossa oração pelo senhor e pelo seu ministério episcopal. Como seus fiéis colaboradores na ordem episcopal, colocamo-nos à sua disposição e manifestamos a nossa obediência e a nossa estima filial. Que Nossa Senhora da Assunção e São José, padroeiros da nossa Arquidiocese, abençoem o senhor e a todos nós. Seja muito bem-vindo!

Pe. Edmar José da Silva

Representante Arquidiocesano dos presbíteros


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