A Liturgia e a dignidade da palavra Deus

13/09/2016 às 15h16

Para exprimir a realidade da comunicação entre Deus e a assembleia celebrante, não são indiferentes o “espaço litúrgico”, as palavras e gestos que acompanham, pois, nos ajudam viver internamente e de forma plena os vários momentos da celebração, por isso deverão ser respeitados. Infelizmente, com o objetivo de livrar a liturgia do “ritualismo”, produzimos uma destruição ou abstenção da “ação ritual” essencial, sem a qual esvazia a liturgia transformando-a num mero discurso intelectual. Por isso, para melhor celebrar, o ritual que circunda a proclamação da Palavra deve, ainda hoje, atrair a atenção da Pastoral Litúrgica.

Espaço e os objetos litúrgicos são revestidos de sacramentalidade. Na Liturgia da Palavra é muito importante o fato de que “ambão” ou “mesa da Palavra”, seja revestido de dignidade, pois, é um sinal permanente da presença da Palavra de Deus. Deve manter uma unidade com o altar do sacrifício, isto se manifesta na matéria utilizada, cores e forma e ser construído com o mesmo material do altar. Existe apenas uma mesa da Palavra (caso seja muito necessário, utilizem uma estante não ornamentada o animador) e sua localização deve ser visível. Alguns liturgistas defendem que, como nas igrejas de origem siríaca, que tiveram forte influência da sinagoga, ele poderia ser colocado no lado oposto ao altar.

Por sua dignidade, o ambão exige que a ele suba somente o ministro da Palavra. É em nome do Senhor que a Palavra de Deus é proclamada nas leituras. A Tradição Apostólica de Justino, fala-nos do leitor como função estável (ministério) instituída pelo bispo, com a entrega do livro. Do ambão são proferidas somente: As Leituras, o Salmo reponsorial, o Precônio Pascal, também dele, pode proferir a homilia e a oração universal (Cf. IGMR 309).

A IGMR, nos n. 34 e 25, versa sobre o ofício de leitor na celebração, com normas precisas sobre este ponto. Deve-se ter presente também o que diz SC 28. Cada qual, no seu ofício, limite-se a desempenhar a sua função e nada mais do que isto. O presidente não pode absorver, como durante muito temo aconteceu, as funções de todos os outros ministros.

Devemos observar o fato de adquirirmos os livros litúrgicos, pois, são eles (não folhetos!) destinados à proclamação e devem ter uma particular dignidade. “Não se faça a proclamação das leituras em um folheto ou algo semelhante”. (Orientações e Normas para os Sacramentos Arquidiocese de Mariana, n. 71).

Os gestos revestem a ação ritual de um significado simbólico, que na pastoral é difícil não valorizar. Por exemplo: a chegada lenta e processional do Diácono e do Evangeliário ao ambão, o fato que ele seja conduzido ao ambão, circundado por velas e precedido pelo incenso, não constituem um inútil exagero rubrical. Também os vários gestos, como o de ficar de pé, durante a proclamação do Evangelho, incutem veneração pela Palavra de Deus, a fim de que dela possamos haurir aquela força especifica que possui. O mesmo acontece com o rito da proclamação do Evangelho, em que o diácono pede a benção do presidente e, portanto, a sua delegação para o anúncio da Boa Nova. Também o beijo ao Evangeliário, que é preciso evitar fazer de modo furtivo e quase secreto.

Termino este artigo, com um belíssimo trecho da nota da comissão Episcopal Pastoral para Liturgia (CELP) aos redatores de “folhetos litúrgicos” a respeito das monições (comentários) antes da Liturgia da Palavra (CNBB, Liturgia em Mutirão II: Subsídios para formação. Brasília: Edições CNBB. Páginas 234-236):

“A assembleia litúrgica não é apenas destinatária da ação litúrgica, mas é protagonista, povo sacerdotal, não dependendo de “palavras de ordem” para participar. A liturgia não é apenas “palavra” mas uma ação ritual-simbólico-sacramental. Por isso, muito mais do que um “comentário”, é a atitude do leitor, do salmista, do diácono ou do presidente da assembleia que vai ajudar para que a Palavra seja ouvida e acolhida.

Os “comentários” não têm a finalidade de dar informações catequéticas ou moralistas, mas devem ser mistagógicos, isto é, conduzir a assembleia à plena participação da ação litúrgica. Devem ser convites de cunho espiritual, sempre discretos, orantes, a serviço do diálogo entre Deus e seu povo reunido, portanto, sem interrupção do fluxo do rito. Vale lembrar um dos princípios na ação litúrgica: “que nossas palavras na Liturgia não neguem a Palavra, mas a sirvam”.

Seria interessante retomar tudo o que o Missal Romano prevê para a celebração da Liturgia da Palavra, com destaque aos momentos de silêncio após cada leitura (Cf. IGMR, 128-134). Neste contexto, uma frutuosa proclamação e acolhida da Palavra, adquirem muita importância o ambão, sua localização e sua ornamentação; um bom microfone; a veste litúrgica própria dos leitores, um refrão orante”.

Padre Luiz Cláudio


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