Jesus, mestre e incansável apóstolo

17/07/2018 às 14h52

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Três aspectos da vida dos Apóstolos e de Jesus foram registrados com precisão por São Marcos: pregação, repouso e a missão que devia continuar (Mc 6,30-34), Com efeito, os discípulos que Cristo havia mandado pregar nas localidades da Galileia retornaram e contaram-lhe “tudo que haviam feito e ensinado”. Foi um momento oportuno para receberem uma grande lição. Jesus lhes diz: “Vinde vós sozinhos para um lugar apartado e descansai um pouco”. Tomaram um barco e foram para a outra margem do lago. Eis aí algo que merece atenção. Aquela travessia era um momento de reflexão e de silêncio restaurador. Isto que leva a se ter sempre um olhar do mundo segundo os desígnios divinos. Por entre a turbulência cotidiana é bom estar com Jesus num instante de uma meditação sobre todas as atividades profissionais, familiares, apostólicas. Os discípulos atendendo as inúmeras pessoas que vinham até o Mestre, “nem sequer tinham tempo para comer”. Escutaram então Jesus a lhes dizer: “Vinde e descansai um pouco”. Muitos cristãos não se concentram na oração porque se esquecem deste repouso espiritual. A todos Cristo convida: “Vinde a mim todos vós que penais sob o peso do fardo e eu vos darei o descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,28-29). As forças humanas têm limite e é preciso reconfortar a fraqueza na união profunda com o divino Salvador. Aliás, apenas assim, é que o trabalho missionário pode frutificar. Este repouso junto dele não deve ser banal, uma simples parada na qual se esquecem todo o cuidado e toda aflição. Deve ser um instante para se escutar as inspirações celestes e, confiadamente, entregar a Deus todas as preocupações. Foi o que os Apóstolos escutaram: “Descansai um pouco”. Logo em seguida, recomeça, porém, a missão. Vindos a pé de toda a região, doentes e pobres, na outra margem do lago, já esperavam Jesus e seus discípulos. Queriam, inclusive, também ouvir o Mestre falar do Reino de Deus. Jesus se pôs, imediatamente, a os instruir longamente, como registrou São Marcos. Ele era o incansável pregador e legava assim outro exemplo magnífico. Muitos deixam de atender a seus deveres comunitários por comodismo e ficam bloqueados pela acídia, pela incúria ou pelas ações inúteis, roubando o tempo que deve ser destinado à evangelização, às manifestações de carinho ao próximo em casa, no trabalho e onde quer que se esteja. Jesus se compadeceu da multidão porque ”eram como ovelhas sem pastor”. Não tinham quem as guiasse, promovesse sua felicidade e organizasse seus esforços e ajudassem a pensar no seu futuro. O cristão deve ser para as pessoas com as quais convive um pastor cuidadoso e desvelado que irradia imensa esperança através de uma palavra oportuna, de um gesto de solidariedade, de amizade sincera. O autêntico seguidor de Cristo precisa irradiar por toda parte otimismo, alegria, conforto, consolação. Eis aí uma tarefa gratificante, mas urgente, sobretudo dentro dos lares, num serviço fraterno intensivo, fortificado pelo exemplo de Cristo e dos apóstolos. É deste modo que deve ser ritmada a existência cristã em cada instante do dia, afastando crises existenciais. Como Jesus oferecer aos outros um caminho de liberdade, de compreensão. Trata-se da aventura coletiva de fazer chegar ao próximo a paz que cada um deve possuir lá dentro de seu coração. Jesus sempre mostrou que nunca se está só neste mundo e, por isto se interessava por todos que vinham pressurosos a Ele. A ajuda deve ser oferecida a todos a toda hora. As ocasiões se multiplicam, pois neste mundo quem não sofre e não necessita de amparo? A atenção, a misericórdia, a piedade se tornam a ocasião propícia na qual se pode abrir o coração ao outro que clama por adjutório. Foi o que sempre fez Jesus numa disponibilidade admirável. Transformava todo sofrimento em frutos de serenidade, de liberdade. A obra de Deus, contudo, não acaba nunca e prossegue através dos que Lhe são fiéis e, noite e dia, espalham a mensagem do Reino que nesta terra seu divino Filho instalou. Felizes aqueles que Deus faz brilhar aos olhos das multidões que procuram o verdadeiro pastor, para ganhar a todos para a misericórdia infinita do Deus de amor. Surge então um universo mais fraterno, pois os seguidores de Jesus são o fogo e são o sal pelos quais Deus chama a todos à sua Aliança num hino constante de ação de graças. Então muitos passam a compreender que a dileção divina é maior que os céus e sua verdade mais alta que as nuvens. Pelo batismo o cristão está revestido de um sublime ministério de vida e santidade, dado que precisa levar por toda parte com sabedoria e perseverança as mensagens salvíficas de Jesus.

* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


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