O Papa João Paulo II, quando se referia à missão evangelizadora da Igreja no mundo, afirmava que o maior desafio da Igreja não está fora dela, mas no seu interior, precisando, portanto de uma conversão. A Igreja no Brasil, no documento 100 – Comunidade de Comunidades: uma nova Paróquia, apresenta a conversão pastoral como uma urgência que supõe um processo de transformação permanente e integral, o que implica o abandono de um caminho e escolha de outro. Ser apegado a algo é parte do ser humano. Assim existe também o apego pastoral de continuar com caminhos que foram suficientes para determinadas épocas, mas que não se adéquam ao momento histórico que estamos vivendo.
Para uma ação pastora frutuosa é necessário buscar a radicalidade da conversão e enfrentar os desafios que encontramos.
O primeiro desafio a vencer são as estruturas paroquiais e comunitárias ultrapassadas. A paróquia ainda continua centralizada na Matriz, no Pároco e nos sacramentos. Há séculos, a evangelização da Igreja gira em torno da estrutura paroquial. As paróquias surgiram como espaços menores de evangelização, como pequenas comunidades, em vista da dimensão territorial da igreja. Porém, diversas reformas, ao longo do tempo, acabaram por reduzir a paróquia a uma estrutura burocrático-administrativa. Ela enrijeceu, parecendo-se realmente um algo sem vida, incapaz de provocar mudança na vida das pessoas. Isso não quer dizer que tenha perdido a sua importância na ação evangelizadora da Igreja, mas é preciso rever esta estrutura e transformá-la, por uma conversão pastoral, em um polo de irradiação da vida cristã de nossas comunidades.
É necessário superar o modelo de Paróquia centralizado no padre e nos sacramentos, recuperando a Centralidade da Palavra e dinamizado a Paróquia pela evangelização. “O problema, hoje, é passar da paróquia centrada nos sacramentos, na matriz e no padre, onde se atende a massa dos fiéis, para a multiplicidade de comunidades menores, esparramadas pelo meio do povo, onde seja possível o processo de discipulado. Na Paróquia tradicional, o referencial são os sacramentos e o padre. Nas comunidades, com ou sem o padre, o povo se reúne em torno da Palavra” (Torres-Londoño – Paróquia e Comunidade no Brasil).
O segundo desafio é resgatar o verdadeiro sentido de comunidade. Nosso povo não foi evangelizado. Para muitos, ser cristão ainda é apenas ser batizado, frequentar as missas e receber os outros sacramentos. Falta uma verdadeira adesão a Cristo e ao seu projeto. Há séculos, são queimadas as etapas de crescimento na fé, deixando de lado os passos da iniciação cristã. Falta uma verdadeira compreensão da fé, que leve ao encontro pessoal com Jesus Cristo e à consciência de pertença à comunidade cristã. As pessoas são batizadas, mas não têm consciência de que estão inseridas numa comunidade. Não aderem a Jesus, porque não foram evangelizadas; não aderem à comunidade porque não foram treinadas.
Num terceiro momento, podemos pensar na necessidade de formação para o exercício dos Ministérios leigos, dentro da comunidade. Há entre nós muitas reclamações de que o povo só se reúne, quando o padre vai para celebrar a missa. O problema não reside tanto no povo, mas na preparação daqueles que presidem as celebrações na comunidade. A descentralização em nossas Paróquias deve levar em conta uma sólida formação de leigos e leigas, coordenadores de comunidades, líderes de pastorais, catequistas e ministros.
Só com essa consciência da necessidade de mudar as estruturas caducas, valorizando as pequenas comunidades e oferecendo formação adequada que leve a uma conversão pastoral e a ser uma “igreja em saída”, é possível falar de uma verdadeira ação pastoral transformadora.
PARA REFLETIR
1. As pessoas que vivem em sua comunidade têm consciência do que é ser e viver em comunidade?
2. Quais os grandes desafios que sua comunidade enfrenta para ter uma verdadeira ação pastoral transformadora, sendo uma igreja em saída ao encontro dos outros?
Padre José Geraldo de Oliveira