Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Diante da multidão que viera ter com Ele do outro lado do mar da Galileia, Jesus disse a Filipe: “Onde compremos pães para que esses tenham o que comer?” (Jo 6,1-15). As soluções humanas eram precárias e deu-se então a multiplicação dos pães e dos peixes. Uma primeira reflexão que esse episódio oferece é que a religião de Cristo não é um vago idealismo, um espiritualismo desencarnado. Há no cristianismo uma estreita relação entre Deus e todo o ser humano, corpo e espírito. Através do alimento oferecido por Jesus a quase cinco mil pessoas, o divino Redentor mostrou a atenção para com a vida. A Ele não agrada nunca a fome de sua criatura. Deseja sempre uma existência venturosa por meio do uso adequado dos bens terrestres. Infelizmente nem todos sabem bem se aproveitar de tudo que o Criador lhes oferece, além do problema mundial de multidões em tantas regiões que morrem por não ter o que comer. É um desafio para todos os cristãos o desenvolvimento solidário. A Igreja nunca ficou indiferente perante aqueles que não têm um mínimo que é necessário para a manutenção da vida, ou seja, multidão de famintos constituída por crianças, mulheres, idosos, imigrantes, desempregados. Admirável a solicitude dos cristãos de todos os tempos testemunhando a seus irmãos necessitados o amor de Cristo dentro da lógica do Evangelho. Seguidores de Cristo sempre lutando contra a desigualdade social, fruto da ambição dos poderosos.
Felizmente, as obras sociais tão numerosas em todas as Paróquias fazem eco a esta ação misericordiosa e cada um de nós deve colaborar neste esforço para que atender aos mais carentes. Trata-se da força da partilha numa ação caritativa inteligente por intermédio daqueles que se organizam como fazem, por exemplo, os Vicentinos, para ir de encontro aos mais necessitados que precisam restaurar sua saúde, sua dignidade, sua vida. As obras sociais oferecem uma maneira de um doar consequente, ou seja, doação para aqueles que, realmente, passam por dificuldades e não se entregam à indolência. Trata-se de fazer o impossível com o possível de cada um, inclusive evitando gastos supérfluos para poder ajudar os outros. Deus quer ter necessidade de cada um de nós para agir em benefício do próximo. Ele não dispensa nunca a mediação humana e o menor dos gestos de caridade ajudam a transformar a comunidade na qual se vive. No episódio da multiplicação dos pães e dos peixes percebe-se a fecundidade da partilha. Diz o Evangelista que Jesus tomou cinco pães e dois peixes e os multiplicou para todos que ali se achavam e todos ficaram saciados. A cooperação com as obras sociais da Igreja não apenas permitem a muitos restaurar suas forças físicas, mas também engrandece a quem faz para isto suas ofertas generosas. É o que bem exprime do axioma: “Há mais alegria em ofertar do que em receber”. A partilha não é somente uma exigência vital para o próximo, mas o único caminho de uma fecundidade pessoal e coletiva, comunitária. Por isto nem se pode esquecer também o significado eucarístico do episódio do Evangelho de hoje. Jesus operou um grande milagre saciando a fome daquela multidão que se reunira em torno dele. Entretanto muito mais admirável através dos tempos é a multiplicação de seu corpo, sangue, alma e divindade através da Eucaristia visando saciar a fome espiritual de seus seguidores. Ele afirmaria: “Eu sou o pão da vida, Quem come deste pão viverá eternamente”. O que Ele afiançou se deu na última ceia, quando, tomando o pão em suas mãos deu esta ordem aos apóstolos e a todos os seus seguidores: “Tomai e comei, isto é o meu corpo”. Para os males espirituais, para a caminhada rumo à vida eterna o cristão se sustenta com este alimento celestial. Cumpre então a cada um ter fome de Deus. A Eucaristia é o pão para esta jornada terrestre rumo à Jerusalém celeste. Cumpre mentalizar o que diz um dos mais belos cânticos eucarísticos: “Se o homem deseja viver feliz, não deixe de ouvir o que a Igreja diz: procure sempre se aproximar do Deus feito pão para nos salvar. Quem come este pão sempre viverá, pois Deus nos convida a ressuscitar. Oh! Vinde todos, comei também o pão que encerra o sumo bem”
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.