Aprendendo com o esporte

27/07/2018 às 09h57

Em 2003, num jogo entre Dinamarca e Irã, o atleta iraniano, quase no final do jogo, confundiu um apito da torcida com o apito do Juiz e pegou a bola com a mão. O juiz marcou pênalti. A Dinamarca perdia por 1x0. O jogador Morten Hieghorst, encarregado de bater o pênalti, não quis fazer o gol. Depois de consultar seu técnico, foi lá e, propositalmente, chutou a bola para fora. Seu time perdeu por 1x0. Mas eles saíram de campo como se tivessem dado uma goleada.

Em 2012, durante uma maratona na Espanha, o atleta espanhol Ivan Fernandez Anaya, percebeu que o queniano Abel Mutai, que vencia com folga a maratona, diminuiu o ritmo na chegada, pensando já ter ultrapassado a marca. Em vez de se aproveitar da “bobeada” do concorrente, Ivan o alertou e o empurrou para que ultrapassasse a linha em primeiro lugar. Mário Sérgio Portela conta que, quando um repórter perguntou a Ivan, “por que você fez isso?”, ele respondeu: “fiz o quê?” Em sua mente essa era a única atitude a ser tomada. O repórter insistiu: - “Você poderia ter ganhado a corrida”. Então ele disse: “Se eu ganhasse desse modo qual seria o mérito da minha vitória? O que eu ia pensar de mim mesmo? Qual seria a honra? Se eu fizesse isso o que iria falar pra minha mãe?...”. Como quem diz: já pensou, a minha mãe ter vergonha de mim!!!

Ele não ganhou a medalha de primeiro lugar, mas voltou para casa como o grande vencedor.

Em 1970, a seleção brasileira de futebol foi tricampeã no México. Um dos jogadores de maior destaque foi Gerson, considerado como “cérebro” do time. Algum tempo depois, uma agência de publicidade o contratou para gravar um comercial de cigarros. Sua fala era a seguinte: “Eu gosto de levar vantagem em tudo. Leve vantagem você também”. A ideia era falar das vantagens daquela marca, mas o que Gerson não poderia imaginar é que essa expressão iria se encaixar como luva naquele “jeitinho brasileiro”, quase cultural, de querer sempre levar vantagem sobre o outro. A vergonhosa ‘cultura’ da corrupção, tão forte em nosso meio. E foi daí que surgiu a famosa “Lei de Gerson”: Levar vantagem em tudo.

Na teoria, somos quase todos avessos à corrupção. Defendemos que ela seja combatida e punida. Mas... na prática, quase todos nos deixamos corromper ou tentamos “levar vantagem”. Somos ótimos na teoria. Há algum tempo, fizeram no Brasil uma enquete com a pergunta: O que você considera mais importante, o futebol ou a educação? Os entrevistados foram unânimes. Todos responderam: é claro que é a educação. O entrevistador perguntou aos mesmos: Você sabe o nome do técnico da seleção? Todos acertaram. E depois: Você sabe o nome do Ministro da Educação? NENHUM soube responder.

Espalhamos muitas mensagens bonitas na internet e por onde passamos. Sempre defendendo a ética, o altruísmo, a honestidade. Aplaudimos gestos bonitos, como o do jogador Morten, da Dinamarca, ou como o do espanhol Ivan Fernandez. Mas, na prática, no dia a dia, muitos de nós nos deixamos levar pela tentação do “levar vantagem em tudo”. Mesmo que isso signifique prejudicar ou machucar alguém. É como dizia tão acertadamente Beto Guedes: “A lição sabemos de cor. Só nos resta aprender...”.

Pe. José Antonio de Oliveira


Voltar

Confira também: