Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
Após a multiplicação dos pães, quando a multidão saiu à procura de Jesus, Ele teve a oportunidade de falar sobre a teologia eucarística, afirmando: “que o pão de Deus é o que desce do céu e dá a vida ao mundo” (Jo 6,24-35). Tratava-se do “alimento que dura para a vida eterna”. Esse somente Ele poderia dar, pois “o pão de Deus é o que desce do céu e oferece a vida ao mundo”. Eis porque haveria a necessidade imperiosa de acreditar nele que fora enviado pelo Pai. Seria preciso uma fé profunda nele, fé enraizada no coração daquele que crê ser Ele o Filho do Eterno, o verdadeiro pão de Deus. Deste modo, Jesus levava seus ouvintes a penetrarem na sua pessoa divina e em seu mistério. Ele não seria apenas um maravilhoso ideal de homem, dado a seus irmãos e irmãs, não somente o Galileu a narrar parábolas que encantariam através dos tempos. Ele era, na verdade, aquele que o Pai “marcou com o seu sinal”. Ele unicamente quem podia dar “o alimento que permanece para a vida eterna”, conferindo aos homens o poder de atravessar a morte, uma vez que era o Filho Unigênito do Pai e com Ele o senhor da vida. Exige então uma confiança absoluta nele. Como outrora os ouvintes de Jesus pelos séculos afora inúmeros seriam os que pediriam a Jesus milagres como alicerce suplementar para crer em suas palavras e na sua missão divina. Provas suplementares não obstante a clareza de suas mensagens e as obras que realizara. Naquela oportunidade Jesus explicou a passagem do Êxodo com relação ao pão vindo do céu, ensinando que apenas o Pai, e não Moisés, dá o pão que permanece para a vida eterna. Jesus, então, mostra com clareza que Ele era este verdadeiro pão da vida. Isso porque sua palavra alimenta a fé de seu seguidor, firma sua esperança e porque Ele, somente Ele, é a revelação do Pai, que sacia no homem a fome de amar e ser amado. Na véspera de sua Paixão ao instituir o sacramento da Eucaristia rebrilharia para a humanidade a realidade sublime do que Ele acabava de falar. Não se tratava mais do maná perecível, mas do verdadeiro pão da nova Aliança dado aos que se dispusessem a nele crer. Não mais seria necessária uma escalada de prodígios, cumpria crer nele e usufruir das maravilhas de sua presença entre os seus seguidores, alimentados com o pão eucarístico. Uma prece deveria sempre ser dirigida a Jesus, a mesma registrada no Evangelho de hoje: “Senhor, dá-nos sempre deste pão”. É preciso então viver uma transformação que torne cada um capaz de nele acreditar, de segui-lo, para recebê-lo com ardente fé, podendo ser livre para viver a verdadeira vida transmitida pela união com Ele à hora da comunhão eucarística. É um engajamento operado por Deus, gerando uma situação que torna o fiel apto não para uma vida interminável neste mundo, mas para uma vida perene na eternidade. Isto o maná oferecido no tempo de Moisés não era capaz de operacionalizar. Ele o pão vivo descido do céu é que conferiria uma qualidade de vida que ultrapassaria os limites terrenos, vencida inteiramente a morte, porque transformação absoluta do ser humano. Jesus mais tarde dirá: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele”. O fiel assim unido a Ele, alimentado por Ele, é conduzido por Ele. Eis aí o efeito sublime de uma comunhão bem feita, preparada por um coração desapegado do pecado e das mazelas humanas. Este percebe sempre em si a plenitude do gozo eterno. Cristo sempre se manifestou um realista e suas palavras não foram lançadas às nuvens, mas realizam plenamente o que significam. Jesus vai sempre muito além dos ilusórios anseios humanos. Felizes os que fazem a experiência plena do contato com o Pão da Vida. O momento da comunhão é um instante de fato privilegiado que cumpre seja degustado na totalidade rica e complexa de uma fé profunda.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.