Pós Grito dos Excluídos

17/09/2016 às 09h18

Há pouco, fizemos realizar, em Congonhas, o 22º Grito dos Excluídos. Uma iniciativa, a partir da 2ª Semana Social Brasileira, que congrega, em todo o Brasil, as forças vivas, sobretudo sociais, num clamor por vida, justiça e participação.

A cada ano, sentimo-nos convocados, à luz da dimensão social da evangelização e do compromisso com a cidadania, a sair às ruas e reivindicar direitos, gritando por mudanças de mentalidade e de estruturas que dignifiquem a vida, a começar do pequeno, necessitado e excluído.

Acompanhamos, apreensivos, os rumos da democracia no Brasil. O país passa por momentos difíceis em sua economia, na política e no cuidado da casa comum. São problemas que têm uma matriz global, mas que precisam ser enfrentados com o compromisso de colocar a vida em primeiro lugar.

Com o Papa Francisco, em suas falas, encenações, caminhada e celebrações, a edição de mais este Grito dos Excluídos em nossa Arquidiocese denunciou que o nosso sistema econômico, político e socioambiental é insuportável, pois ele exclui, degrada e mata.

Queremos que este grito ecoe mais fortemente em nossos agentes das pastorais sociais e nas militâncias eclesiais, também junto às lideranças sociais dos movimentos populares e sociais, dos organismos e entidades e dos poderes públicos e chegue aos ouvidos dos poderosos para efetivarmos as políticas públicas que construam um modo de vida onde a dignidade esteja acima de todas as coisas e dos interesses escusos, de uns poucos.

É fundamental, nesse processo, que iniciativas como esta alimentem nossas lutas, “limpe as nossas vistas” para enxergarmos, mais profundamente, com os olhos de Deus, as realidades injustas e violentas que enfrentamos e discernirmos os passos a serem dados a serviço da vida e da esperança.

O trabalho de conscientização é fundamental para avançarmos na consciência de nossa cidadania, no combate à corrupção e empenho profético por um Brasil mais justo e igualitário, que respeite a democracia e dê passos significativos em vista de um verdadeiro progresso que não é só econômico, mas sobretudo social.

Precisamos nos organizar melhor em sociedade, valer-nos dos mecanismos constitucionais para cobrar das autoridades o empenho ético pela garantida dos direitos sociais; participar ativamente, na Igreja e na sociedade, de iniciativas que contemplem a defesa da vida, a dignidade do ser humano, a partir do pobre, e a promoção do bem comum; ampliar as iniciativas pastorais, a participação nos conselhos municipais de direitos; fiscalizar, com mecanismos controladores propugnados pela constituição brasileira, o poder público e suas ações; escolher bem nossos representantes, dando um voto de confiança aos que, com uma vida digna e de luta, se mostram comprometidos com as bandeiras sociais, a democracia e a participação.

Não podemos nos omitir e ser apenas meros expectadores de um sistema incapaz de garantir terra, teto e trabalho para todos; um sistema que fomenta a violência, o ódio entre as pessoas e ameaça a própria subsistência da Mãe terra. O mercado e o dinheiro não podem se converter como os únicos reguladores das relações humanas.

O papa Francisco, no segundo encontro com os movimentos populares na Bolívia, em 2015, afirmava: “Os seres humanos e a natureza não devem estar a serviço do dinheiro. Digamos não a uma economia de exclusão e desigualdade, na qual o dinheiro reina em vez de servir. Esta economia mata. Esta economia exclui. Esta economia destrói a mãe terra”.

Acolhamos sua palavra, temos muito o que fazer no pós Grito, sejamos semeadores e protagonistas nos grandes processos de mudança de nosso país. A missão começa em casa, começa perto, em nossas localidades e cidades. Mãos à obra!

Pe. Marcelo Moreira Santiago

 


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