O destino do rico e do pobre Lázaro

19/09/2016 às 14h49

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Duplo destino, dupla lição oferece a parábola do rico glutão e do justo Lázaro (Luc 16,19-31). Jesus não pretendia apresentar uma abordagem sócio espacial do outro mundo, mas oferecer um precioso ensinamento sobre uma questão fundamental no que tange ao que ocorre após a morte. Um dos personagens vivia impiamente, era egoísta, não se preocupava nem com Deus, nem com o próximo. Lázaro, porém, era um deserdado da sociedade, doente e faminto e subsistia com as migalhas dos poderosos e tinha um coração bom. Confiava na Providência divina, vivendo a definição de seu nome, pois Lázaro significa “Deus é meu socorro”. Ambos deixaram este mundo através da morte que é o limite absoluto de todos os mortais. Esta não faz distinção nem entre os se cobrem de vestimentas luxuosas, nem os que estão afetados por feridas e maltrapilhos. Ela sobe ao palácio dos ricos, desce ao tugúrio dos pobres, não tem dia nem hora, mas totaliza num instante tudo que alguém foi na sua passagem por esta terra. Diante de todos, porém, estará sempre o Senhor de tudo, justo Juiz, o qual com sabedoria e lucidez punirá a uns e recompensará a outros. Tudo dependerá da condição da existência de cada um, da qualidade do seu coração. Há entre os lugares onde se encontrará o ímpio e onde estará o justo “um grande abismo”, ou seja, trata-se de uma situação irreversível, que ninguém poderá alterar. Aqui na terra, sim, há sempre oportunidade de conversão e a misericórdia de Deus é sem limites. Uma fonte inestimável de merecimentos é exatamente o temor de Deus e a ajuda aos mais necessitados numa louvável solidariedade. Para quem tem fé a esperança abre caminhos luminosos para a prática das mais belas virtudes. Este é o tempo oportuno para se escutar a Palavra revelada pelo Ser Supremo, para colocar em prática as inspirações vindas do alto, para corresponder às exigências da Lei do Senhor. O apelo de Deus é um clamor à dileção, à compaixão, à sinceridade, à verdade em sua plenitude. Um coração arrependido, desolado nunca fica sem a resposta divina e, assim, o homem se dispõe a evitar a fatalidade de uma punição eterna. Deus reina apenas no interior dos que estão repletos de amor. Quando alguém se escraviza a suas riquezas, a suas ideias, a seus valores humanos, a suas convicções errôneas, a seus falsos ídolos, este Deus está longe de seu coração. O rico da parábola era incapaz de contemplar o sofrimento de Lázaro, porque vivia atrás do tapume de seu orgulho, de sua ilusória segurança. Não entendia o essencial da verdadeira felicidade e se mergulhava numa supérfluo e estapafúrdio luxo e na glutoneria. As chamas que o atormentavam eram o sinal de seu profundo remorso pelos erros que cometera e dos quais não se arrependera. Agora por entre as labaredas nas quais estava envolvido é que se lembrava de seus cinco irmãos os quais ele deveria ter advertido em vida, mas já era tarde demais. Está escrito no livro de Isaías o que disse o Senhor a respeito dos que se rebelaram contra Ele: “Seu verme não morrerá jamais” (Is 66,24). Imagem viva da pena eterna dos condenados. É o mesmo que se acha no livro de Judite: "O Senhor os punirá no dia do juízo, entregando ao fogo e aos vermes suas carnes e chorarão, penando eternamente” (Jud. 16,17). Assim sendo, esta parábola narrada por Cristo é um alerta. São Paulo então nos adverte: “Não nos cansemos na prática do bem, pois, se agora não desfalecermos, no tempo oportuno colheremos. Portanto, enquanto para isso temos tempo, façamos o bem a todos, máxime aos nossos irmãos de fé” (Gl 6, 9-11). Lázaro na outra vida encontrava consolação, paz, felicidade duradoura. Neste Ano da Misericórdia divina cumpre saber usufruir da compaixão imensa de Deus numa correção completa de todos os erros, pois na outra vida a sorte de cada um é irreversível e, por isso, imutável. É preciso viver todos os ensinamentos do Evangelho de hoje, para que, trilhando os caminhos das virtudes, se possa atingir a ventura perene da Casa do Pai, onde Cristo está à espera de cada um de nós.

* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


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