Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A saudação de Isabel a Maria repercutiria através dos tempos: “Bendita és tu entre todas as mulheres e bendito o fruto de teu ventre” (Lc 1,39-56). A Assunção da Mãe de Jesus aos céus é recordada com fervor porque este acontecimento envolve o orbe católico em profunda alegria por contemplá-la já de corpo e alma junto do trono de Deus. Dogma de fé proclamado por Pio XII a primeiro de novembro de 1950 já era uma verdade professada desde os primórdios do cristianismo. Maria vai para junto da Fonte da Vida, ela que concebeu o Filho do Deus vivo. Pelas suas preces protege seus filhos que ainda estão nesta terra de exílio. Ela não conheceu a agonia da morte por uma graça especial. A exemplo de seu divino Filho, provavelmente morreu, mas não conheceu a corrupção do túmulo, nem seu corpo ficou no sepulcro até o dia do juízo universal. Seu último instante nesta terra foi qual êxtase celestial, um adeus dito a este mundo, um suave sono do qual se levantou gloriosa para passar do tempo à eternidade, entrando triunfalmente nos tabernáculos eternos. A Virgem Imaculada, preservada por Deus de toda mancha do pecado original, tendo cumprido o curso de sua vida terrestre, foi elevada de corpo e alma para a glória do céu e exaltada pelo Senhor como a Rainha do Universo. Eis o que ensina a Igreja. A Assunção de Maria é a participação singular na ressurreição de Cristo. É a antecipação do destino de todos os cristãos. Ela foi beneficiada com este privilégio porque preservada do pecado original em vista da missão à qual foi destinada como Mãe do Redentor. Ela cumpriu plenamente esta tarefa durante toda sua existência terrena e, assim, no término de sua vida, mereceu ser elevada ao céu de corpo e alma. A Assunção de Maria é o sinal definitivo da vitória sobre o pecado e a morte. Por parte daqueles que temem o Senhor de tudo. Grande o júbilo dos cristãos ao recordar este fato que lembra o destino daqueles que cumprem seus deveres nesta trajetória terrena. Maria foi a primeira dos redimidos a mostrar a todos o caminho do triunfo que tem seu fundamento na fé em tudo que Deus revelou. Essa fé se apoia na confiança de que Deus é fiel em suas promessas. Jesus foi claro: “Eu vim para que todos tenham a vida e a tenham em abundância”. Deus quer a salvação de todos que nele creem. Maria se tornou admirável pela obediência à vontade divina e nela se deu a realização mais perfeita da obediência pela fé. Esta crença inabalável a levou até o Calvário, jamais desfaleceu e recapitulou nela toda a fé do Antigo Testamento e toda fé da Igreja de Cristo pelos séculos afora. Teve morto nos braços o seu Filho dileto, mas acreditava com uma certeza absoluta que Ele ressuscitaria dos mortos. Eis porque ela pode e quer ajudar a cada um a crescer numa fé fortificada. Isto quer dizer que temos lá o céu uma poderosa advogada que intercede continuamente por seus filhos, para que nunca desfaleçam na caminhada rumo à casa do Pai. Sua solicitude por eles é imensa. Está a clamar para que todos penetrem profundamente no mistério de Deus, não se deixando prender às ilusões terrenas afim de, um dia, com ela participar da plenitude da visão beatífica. É preciso, porém, invocá-la continuamente, tendo-a sempre presente, sobretudo, nos momentos mais aflitivos. Ela além de ser a grande protetora é o modelo da mulher fiel e está associada a salvação de todos. Grande é o combate contra as forças do mal, mas através dela nos vem a luz resplandecente da graça divina. Para que isto ocorra é necessário captar o sentido profundo das lições do hino que ela recitou diante do elogio feita a ela por Isabel: “Ditosa aquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor”. O cântico de Maria, o “Magnificat”, não é a exaltação da riqueza, da soberba e do poder. Através dele Maria mostrou que o Todo Poderoso, o qual fez nela grandes coisas, glorifica o pobre, olha os humildes, alimenta os famintos. Ela quer que compreendamos a vitória de Deus sobre as forças da morte e da destruição por meio da abertura do coração para receber a salvação que vem da misericórdia a qual Ele mesmo já predissera em favor de Abraão e de sua descendência para sempre. Essa fidelidade radical que Deus assume e que Maria nos recorda comunica a plenitude da esperança. Vivemos, trabalhamos, lutamos rumo a um destino definitivo. Esse foi bem descrito por São Paulo “Não há proporção alguma entre as tribulações deste mundo e a glória que um dia se revelará em nós”! Uma vida que é uma luta contínua, mas nunca o cristão se sente desamparado. Amparado pela Rainha poderosa a cada vitória o fiel pode repetir: “O Onipotente faz por mim maravilhas, santo é o seu nome”. Diante de tantas lições se torna ainda mais vibrante nosso brado: ”Bendita é tu, ó Maria, elevada ao céu pelo poder de Deus. Nós em ti confiamos!”
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.