O Instituto “José Luiz Ferreira”, conhecido por Instituto Bom Pastor, em Barbacena (MG), Região Pastoral Mariana Sul, está celebrando os seus 70 anos de serviço. As comemorações iniciaram-se nesse domingo (16) com uma missa.
Nesta segunda-feira (17) será realizada a abertura da Exposição dos 15 anos do Projeto “De Volta Pra Casa”. Às 14h o médico e professor da UFRJ, Emerson Elias Mehry, apresenta a palestra “Reforma Psiquiátrica: uma história a contar”. Em seguida acontece uma Mesa Redonda com Emerson Mehry, a psicóloga Flávia Denise Barbosa Vasques Silva, o secretário municipal de Saúde, José Orleans da Costa, e o pároco da Paróquia Bom Pastor e presidente do Instituto, padre Luiz Cláudio Vieira.
Fundado pela Congregação do Bom Pastor, com ajuda do Senhor Sabino, em 18 de janeiro de 1948, o Instituto desenvolveu por muitos anos um trabalho social, abrigando em regime de internato, meninas a partir de cinco anos de idade. Em 21 de fevereiro de 2002, por decisão da Assembleia Extraordinária, ele passou a ser gerido pela Paróquia do Bom Pastor de Barbacena.
Segundo o pároco, padre Luiz Cláudio, é uma grande alegria o Instituto receber o nome de José Luiz Ferreira, um dos filhos do ilustre cidadão Barbacenense, Sabino José Ferreira, nascido no dia 11 de julho de 1891. “De origem pobre, na primeira metade do século passado, o senhor Sabino teve poucas oportunidades nesta cidade, pelo fato de ser negro, intuo. Empreendedor, inteligente e trabalhador, migrou para Belo Horizonte, onde se estabeleceu no ramo da construção civil, através de sua empresa denominada Sabino & Cia LTDA, adquirindo um patrimônio considerável. Católico fervoroso, devoto da Imaculada Conceição, o senhor Sabino preocupou-se com o bem estar de seus conterrâneos, engajando-se em diversas iniciativas sociais, ajudando a organizar e construir diversas instituições, com o objetivo de minorar o sofrimento dos mais pobres e possibilitar-lhes um futuro melhor. Recebeu do Papa Pio XII o título de “Cavalheiro da Ordem de São Silvestre”. São diversas obras em Barbacena que o Senhor Sabino ajudou a construir”, disse.
O Instituto Bom Pastor é uma entidade filantrópica, sem fins lucrativos, que desde o início teve por objetivo prestar serviços de natureza exclusivamente da assistência social no atendimento de pessoas carentes, vulnerabilizadas pela pobreza e em situação de risco social ou pessoal, de modo mais específico, executando programas e ações voltados à promoção humana e social das pessoas excluídas, proporcionando-lhes o exercício pleno de cidadania.
Trabalho de ressocialização
Diante da Lei da Reforma Psiquiátrica, Lei 10.216 de 2001, onde surge as Residências Terapêuticas e do número de pessoas que tinham nos hospitais psiquiátricos de Barbacena sua principal referência de tratamento, o Instituto foi chamado para assumir um novo projeto em 2003. “Padre Ronaldo Gomes Chaves, então pároco da paróquia Bom Pastor, num encontro com Dom Luciano, expôs a situação e ele prontamente o incentivou para que o Instituto abraçasse esta causa. Estamos comemorando 15 anos de atividades junto à Saúde Mental”, explica padre Luiz Cláudio.
A instituição firmou com a Prefeitura Municipal de Barbacena um convênio, através do qual realiza o atendimento de egressos de hospitais psiquiátricos da cidade, de acordo com a política pública da reforma psiquiátrica brasileira, devolvendo-lhes uma vida normal e digna e lhes proporcionando ressocialização. Trata-se de um trabalho reconhecido pelo Ministério da Saúde, que estabeleceu o projeto em Barbacena como referência nacional, tornando-se polo de capacitação para vários estados brasileiros.
“Nosso trabalho é desenvolvido em estreita parceria com a Equipe de Saúde Mental do Município que é a responsável pelo cuidado numa abordagem psicossocial dos moradores, além da capacitação e treinamento dos profissionais envolvidos no trabalho das residências. Na prática, o projeto consiste na montagem, manutenção e administração das residências onde moram os egressos dos hospitais psiquiátricos, denominadas Residências Terapêuticas, recebendo não mais pacientes, mas moradores, dentro de uma proposta de ressocialização e integração dessas pessoas a comunidade”, ressalta padre Luiz Cláudio.
Atualmente o Instituto é presidido pelo padre Luiz Cláudio Vieira e Helena Maria Milagres Belo, conta com uma estrutura de 197 funcionários, que trabalham para atender as vinte nove Residências Terapêuticas. “A principal preocupação do Instituto tem sido a de proporcionar qualidade de vida digna aos moradores, visando sua cidadania plena e dando-lhes acessibilidade às oportunidades e direitos que lhes foram negadas pelo sistema de segregação vivido por eles durante décadas”, acrescenta padre Luiz Cláudio.
O presidente do Instituto ressalta, que passados 18 anos da lei “antimanicomial”, este novo modelo de atenção à saúde mental é uma forma de superar a visão “hospitalocentrico” do passado, que olhava a pessoa com transtorno mental, como alguém perigosa e incapaz por natureza, indispunha a sociedade com o “enfermo/doente” mental, como se falava. “Muito me alegra a intuição de Dom Luciano, que nos levou a abraçar esta luta defendendo as concepções associadas ao modelo de atendimento deste projeto, no qual não se carece mais a internação hospitalar prolongada”, finaliza.
Colaborou: Padre Luiz Cláudio Vieira
