Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
No contexto atual o trecho do Evangelho de São Marcos, que oferece preciosos ensinamentos do Mestre divino, pode ser melhor ainda compreendido (Mc 9,38-48). Igualmente o que se lê no Livro dos Números (Nm 11,25-29). Com efeito, com o crescimento populacional não apenas nas Metrópoles, mas nas cidades em geral, numerosas são as Paróquias e nelas surgem diversas comunidades com suas particularidades. A grande mensagem é então que nunca se deve invejar o bem espiritual dos irmãos na fé, mas se rejubilar com isto fazendo crescer o Reino de Deus. Há, é certo, diretrizes pastorais, arquidiocesanas e paroquiais. que devem ser sempre observadas, mas as comunidades têm características próprias advindas de diversos fatores sociais e também das lideranças corretas que vão surgindo. Não se pode impedir que o Espírito Santo atue onde e como Ele quer. O Bispo ou o Pároco têm o discernimento suficiente, a graça específica que lhes é concedida do Alto, para verificar se é, de fato, ação de Deus ou do espírito das trevas o que se passa nestas comunidades. No tempo de Moisés surgiu o caso de Eldad e Médad. João foi reclamar com Jesus a atuação de alguns que agiam em nome do Mestre divino e não eram seguidores deste Apóstolo. A resposta de Cristo mostrou que ninguém tem o monopólio dos dons divinos e afirmou: “Quem não é contra nós é por nós”. Magnífico apostolado operam aqueles que rezam. Os Grupos de Oração, por exemplo, atraem graças admiráveis para conversão dos pecadores, para consolação dos tristes, dos desanimados. Curas são obtidas pela fé com que preces são feitas pelos doentes. O Arcebispo de Mariana Dom Oscar de Oliveira, ao voltar de suas fatigosas Visitas Pastorais, costumava dizer que Ele ficava encantado com almas simples, que nunca tinham estudado teologia, mas que falavam maravilhas sobre Deus e a religião em geral. Em todas as comunidades há fiéis generosos em acolher, partilhar e catequizar. Nunca se deve esquecer que todo ato de bondade, mesmo o mais simples, abre a porta do céu e atrai bênçãos para toda a terra.
O grande desejo de Deus é que todos estejam unidos, solidários uns com os outros sem qualquer laivo de invídia. Condenável seria se aparecessem aqueles que não obedecessem às orientações da Igreja ou que quisessem dominar os irmãos na fé, impondo seu modo de ver e de ser, o que, por vezes, pode ocorrer. Além de tudo isto, Jesus mostra para todos os seus seguidores o caminho da conversão. Condena todo e qualquer escândalo, sobretudo os maus exemplos que tanto mal espiritual podem causar ás crianças. Acrescentou uma norma de conduta para os que lhe são fiéis: cortar e arrancar. Não se trata de mutilação física, mas ética. Condena então as mãos do avarento que quer tudo para si e nada para os outros como bem explicou a carta de São Tiago (Tg 5,1-6). Os pés jamais devem conduzir um fiel para os caminhos do pecado, eles representam a liberdade humana, mas esta não pode ser confundida com a libertinagem. Andar, isto sim, nos caminhos de Jesus. Ninguém deve arrancar os olhos, mas pode, muito bem, desligar a televisão, a internet, diante de programas depravados e evitar olhares pecaminosos atinentes ao sexto e ao nono mandamentos. Eva ficou olhando o fruto proibido do Paraíso e desgraçou toda a humanidade. Foi o olhar impudico de Davi ao contemplar Bethsabé que o tornou assassino e adúltero. As seduções mais perniciosas veem exatamente dos olhares incautos. Estes suscitam os mais perniciosos desejos e levam à pratica dos maiores desvarios. Enfim, o que Jesus está a ensinar é a supressão corajosa, destemida, perseverante de toda ocasião de pecado. Fuga de tudo que pode afastar alguém de seu Senhor e levar para a geena onde o fogo não se extingue num castigo eterno. É preciso não recusar a radicalidade da mudança de vida, da metanoia, que é a transformação de uma mentalidade mundana para uma visão espiritual. Mãos erguidas para louvar a Deus, pés sempre nas veredas do bem, olhos voltados para as coisas do alto e não para as coisas da terra. Quem deseja a glória da Ressureição e quer escapar do castigo perene, necessita viver este programa estabelecido por Jesus. Todos concordes, unidos na mesma fé, caminhando alegres para a eternidade feliz junto de Deus. Com a graça divina é possível a todos viabilizar sua salvação eterna vivendo de acordo com os preciosos ensinamentos de Cristo, hoje recordados.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.