Como obter a vida eterna

08/10/2018 às 09h35

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

 

Eis a questão que um jovem rico apresentou a Jesus: “Que devo fazer para obter a vida eterna?” (Mc 10, 17-2). Ele observava os mandamentos, mas, no seu caso específico, cumpria-lhe se desfazer de seus bens, vendendo-os e dando tudo aos pobres. O Apóstolo Pedro por sua vez disse a Jesus que eles, os apóstolos, tinham deixado tudo para O seguirem.  Cristo lhes afiançou uma grande recompensa nesta vida, apesar dos sofrimentos, e no futuro a vida eterna (Mc 10 27-30). O cerne da mensagem de Cristo, válida para todos os cristãos, contida nessas suas respostas era o desapego dos bens materiais. Ele não estava estabelecendo norma universal para todos que O seguissem. Não queria dizer que cada fiel teria o mesmo apelo e a mesma vocação. Com efeito, a relação do cristão quanto às riquezas, à família, à sociedade variaria segundo sua missão dada por Deus. Uma é a vocação daqueles que fazem votos de pobreza absoluta; outra a de um chefe de família e do profissional nas mais diversas profissões. A todos seria indistintamente necessário não endeusar a riqueza, os bens materiais em si mesmos.

O Concílio Vaticano II ensinou com razão que a vocação à santidade é universal e que ela pode se realizar seja qual for a situação de cada um neste mundo. Está claro no capítulo quinto da Constituição sobre a Igreja promulgada em 1964: “Todos os fiéis, portanto, se santificarão mais cada dia na sua condição, nos deveres de seu estado ou nas circunstâncias de sua vida [...] com a condição de tudo acolher com fé da mão do Pai celeste e de cooperar com a vontade divina, manifestando a todos no cumprimento de sua tarefa temporal o amor com que Deus amou o mundo”. O apelo de Jesus ao desapego e à radicalidade exigida do homem rico e dos apóstolos tratava-se de um ideal que não podia se separar da vocação particular que o próprio Deus confiaria a cada um neste mundo e nas circunstâncias peculiares do exercício desta vocação. O principal seria nunca endeusar a fortuna ou qualquer bem material. Grande a responsabilidade com que a vocação pessoal deve ser exercida, mas tendo sempre o foco na vida eterna a ser alcançada com as boas obras, na observância total dos dez mandamentos. A todos, porém, Ele diz “Vem e segue-me”, seja qual for a vocação de cada um. Deveria em qualquer caso haver uma observância total, sem exceção, de tudo que Ele ensinou como condição para entrar na vida eterna.

É preciso que o seguidor de Cristo examine sempre como tem sido fiel ao Evangelho, tomando a cruz de cada dia e seguindo os passos do Mestre divino. O cristão deve ser realista, vivendo em plenitude o ideal estabelecido pelo Filho de Deus, cuidando seriamente de sua salvação eterna. Todos conscientes de que tudo passa neste mundo e não se deve apegar a nada que é passageiro e transitório. Cumprir com os deveres de cada dia com muito amor a Deus e ao próximo numa visão espiritual consistente, numa evangelização constante por palavras e ações. Cuidar da própria salvação eterna aqui e agora. Agir com sabedoria cristã em tudo e examinar se as intenções são sempre retas no pensar, no falar e no agir. Ser incondicionalmente cristão sem restrições, afastando tudo que impeça seguir de fato a Cristo. Seguir continuamente as boas inspirações do Espírito Santo que levam ao aperfeiçoamento espiritual. Por vezes precisamos nos desinstalar de nossos hábitos meramente humanos e modificar o sistema de vida por causa dos bens futuros. É preciso ao cristão viver intensamente as oito Bem-aventuranças e todos os conselhos legados por Jesus no Evangelho. É imprescindível muitas vezes a mortificação diante de um conforto inútil, de exigências tolas de uma cultura moldada pelos meios de comunicação social. Ter independência da manipulação da mídia para ater-se a um esquema santificador que valoriza a existência de cada um para a eternidade. Coração aberto para as misérias do próximo sem jamais fechá-lo para as inspirações vindas de Deus.  Jesus dirá que o caminho que leva à vida eterna é estreito, isento de ilusões terrenas, de prazeres condenáveis e de uma autonomia desenfreada. A todos, portanto, é possível ser santos, pois Jesus afirmou: “Para Deus nada é impossível”.

* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


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