Dar Glória a Deus

03/10/2016 às 08h26

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

Dez leprosos foram curados por Jesus e apenas um repleto de alegria e com o coração extravasando gratidão soube gratular a graça recebida (Lc 17,11-19). São Lucas, na sua narrativa, descreveu o gesto do samaritano, dizendo que um deles, vendo que se tinha curado, voltou, louvando a Deus em alta voz e lançou-se aos pés de seu Benfeitor com a face em terra, agradecendo-lhe. Cristo não passou recibo na ingratidão dos outros miraculados e pedagogicamente indagou “Não foram limpos os dez? Onde estão os outros nove? Entretanto, apenas aquele que pertencia ao povo natural da região de Samaria, inimigos dos judeus ortodoxos da época, havia voltado para render graças. Mereceu o elogio de Jesus: “Levanta-te e vai; a tua fé te salvou”. Na azáfama do dia a dia nem sempre todos se lembram de agradecer a Deus seus inúmeros benefícios, os quais se multiplicam a cada instante. É certo que a Missa dominical oferece oportunidade para manifestar o louvor gratulatório, dado que se participa da Eucaristia que é ação de graças. Após uma semana na qual Deus multiplicou os seus dons o cristão retorna à Casa do Senhor para lhe agradecer. Uma das características mais importantes da religião é a gratidão a Deus. Inúmeros versículos da Bíblia patenteiam o valor de ser grato por tudo ao Criador. Jesus exaltou a conduta do décimo leproso curado, mostrando o quanto isto lhe foi agradável. Durante a semana, como ensinou Santo Inácio de Loyola, cumpre ao cristão fazer, sobretudo no fim do dia, uma releitura de tantos dons outorgados pela bondade divina, ou seja, os traços de Deus na vida de cada um, não obstante tantas infidelidades pessoais. Este comportamento multiplica a generosidade do Senhor de tudo. É a chave de ouro de que fala o Pe. Antônio Vieira, a qual abre a arca dos tesouros celestes. Agradecer com toda simplicidade e total confiança, aliadas a uma humildade de quem sabe que não merece tantas graças, mas que se mostra reconhecido Disto resulta notável purificação interior porque flui da fé que reina lá no interior do coração. A gratidão é, sem dúvida, uma das armas espirituais mais eficazes para atrair as bênçãos de Deus. Nem se deve deixar de agradecer a este Deus a graça de se estar livre da lepra do pecado. Infelizes aqueles que deixam esta terrível moléstia instalar em sua vida. Felizes, porém, aqueles que, a exemplo dos dez leprosos, procuram Jesus, o Médico divino. Este no Sacramento da Confissão cura a doença do pecado. Para evitar esta moléstia espiritual o cristão se vale do tripé sagrado: a penitência, a prece e a caridade para com o próximo. Meios seguros para combater o mal em sua raiz. Nos nossos dias a epidemia do Aedes Aegipti e suas horrípilas consequências urgiram medidas imediatas e a moda se tornou o repelente contra este mosquito que se tornou tristemente famoso como o mosquito da zika, da dengue e da chikungunya. Muitas vezes as doenças transmitidas por este vírus se tornam mortais, como à morte estavam destinados os leprosos na época de Cristo. Dez foram audaciosos e, não obstante todos os interditos legais, se aproximaram de Jesus. Hoje os impedimentos são as armadilhas dos meios de comunicação social que afastam de Deus e obstaculizam alcançar a vida alma. A lepra do pecado gangrena as ações humanas, infeccionando toda uma existência. Apenas o poder divino pode sanar e restituir a graça santificante que é a participação da vida da Trindade Santa. É preciso se deixar tocar pelo amor de Cristo, porque o pecado, lepra da alma, desfigura e é a maior desgraça que pode acontecer a quem tem fé e crê na vida eterna. A melhor maneira para não se deixar contaminar com esta doença espiritual é a fuga corajosa das ocasiões que levam a ofender a Deus. A Bíblia é clara: “Quem ama o perigo nele perecerá” (Ecl 3,27). É preciso, porém, sempre se lembrar de que “um coração contrito e humilhado Deus não despreza” (Os 51,19). Jesus nunca deixará de dizer ao pecador arrependido: “Vai, a tua fé de te salvou”.

* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.


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