Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
A cura do cego de Jericó é um episódio que patenteia o poder miraculoso de Jesus e inocula uma confiança absoluta nele (Mc 10,46-52). Naquele mendigo à beira do caminho por onde passa o Redentor rumo a Jerusalém contemplamos três aspectos essenciais do seguidor de Cristo: o pensamento, a palavra e ação. Com efeito, o filho de Bartimeu pensou que chegara sua hora para obter a grande graça do divino Taumaturgo. Não se calou, apesar das invectivas dos que acompanhavam o poderoso Rabi da Galileia. Agiu, pois foram lhe dizer: “Coragem! Levanta-te, Ele te chama”. Não se acomodou e logo ele foi até Jesus. Todo aquele que crê precisa sempre examinar com diligência seus pensamentos, suas palavras e ações e julgar se cada um desses atos tende para Cristo. Nisto está a perfeição da vida cristã como ensinou São Gregório de Nissa. Pensar em Jesus, levar-lhe súplicas confiantes e segui-lo como fez Bar Timeu. Esse era um cego dependente dos outros, era mendigo e se pôs gritar, incomodando a todos que por ali passavam. Ontem, hoje, amanhã e sempre há aqueles que estão a clamar em suas necessidades físicas e espirituais. Nem sempre são ouvidos por causa das barreiras culturais, sociais e suas sequelas. Através da história quantos homens e mulheres se acham à beira do caminho e ouvem passar cristãos e estendem as mãos e lançam súplicas, pois querem um pouco de amizade, um olhar de complacência, um momento de diálogo como fazia Jesus. Este é o momento do cristão vencer o egoísmo, o comodismo para ajudar nas enfermidades do corpo e da alma aquele que padece e quer o privilégio de um auxílio oportuno. O verdadeiro seguidor de Cristo é sempre um portador de esperanças e salvação. Muitas vezes também cada um se identifica com aquele cego de Jericó e essa é a hora de com ele clamar: “Filho de Davi, Jesus tenha piedade de mim”! Surge uma chance na vida do cristão para melhor espiritualmente enxergar o projeto de Deus. Todo reencontro profundo com Cristo é um momento intenso de graça. A resposta de Jesus é imediata: “Vai, tua fé te salvou”. Então o cristão passa sentir o amor do Mestre divino e lhe retribui com total fidelidade na vida comunitária, familiar e pessoal. Aqueles que eram cegos para ver as coisas do céu, por só enxergarem as falsas mensagens dos meios de comunicação social, passam a contemplar as maravilhas de Deus, vendo o seu amor e se dispondo a trabalhar na Igreja, com a Igreja, pela Igreja, para a Igreja e a salvação do mundo. É que então se terá escutado a. ordem de Jesus: “Vai, tua fé te salvou”, agora salva os teus irmãos e irmãs que estiverem na passividade, na marginalidade social, na dependência dos outros para subsistir, na escravidão dos vício. A eles é preciso também dizer: “Confiança”! Levanta-te, Jesus te chama”. Inúmeros então como Bartimeu lançarão fora o seu manto para abandonar sem hesitação sua cegueira espiritual. Dá-se dessa maneira o abandono do velho homem, o desprezo de tudo que constituía ilusões terrenas e surge uma segurança absoluta, porque olhos são abertos para a eternidade. Cristo perguntou ao cego: “Que queres que eu te faça?” Isto mostra que Deus quer sempre uma relação pessoal com quem O invoca. Ele solicita a liberdade de cada um e suscita uma resposta imediata. O encontro individual com Jesus é uma experiência de salvação. O miraculado, recuperada a vista, como registrou o Evangelista, se pôs a seguir Jesus. Este estava a caminho de Jerusalém onde carregaria uma cruz na qual morreria para a salvação da humanidade. Ser discípulo de Cristo é acompanhá-lo na caminhada até o Calvário, carregando cada um a sua própria cruz. Para todos este episódio da cura de Bartimeu leva, deste modo, a uma revisão de seu itinerário seguindo Jesus com perseverança apesar das amarguras desta peregrinação terrena. Não se pode esquecer de que o grupo dos que seguem a Cristo não pode ser um grupo fechado, mas uma comunidade em movimento, continuamente disponível a agregar novos membros ou trazendo de volta os que se transviaram. Este apostolado supõe reflexão, discernimento e o respeito à liberdade das pessoas, mas exige perseverança e muita dedicação. Há discípulos em potencial a serem autênticos seguidores de Cristo, mas é preciso que haja aqueles que lhes digam: “Coragem! Levanta-te, Jesus te chama”. Abre-se desta forma o caminho da conversão, da cura espiritual. O dever do verdadeiro cristão exige que ele se esforce por tirar da cegueira os que não enxergam a autêntica face de Cristo, para que possam usufruir plenamente dos frutos de seu preciosíssimo sangue. É belo ser apóstolo e atrair outros para junto do Mestre divino, como fizeram aqueles que levaram o cego até Jesus.
*Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.