O Regional Leste 2 (Minas Gerais e Espírito Santo) da Conferência Nacional dos Bispso do Brasil, por meio do Conselho Episcopal de Pastoral, realizou nos dias 13 a 15 de novembro, na Casa de Retiros São José, em Belo Horizonte, (MG), a Assembleia Regional de Pastoral. O evento reuniu cerca de 140 participantes que refletiram sobre o tema “Uma Igreja em saída frente aos desafios e esperanças do mundo urbano”. Ao final do encontro, foi divulgada um mensagem. Leia a íntegra:
MENSAGEM FINAL DA ASSEMBLEIA REGIONAL DE PASTORAL DO LESTE 2
“O Reino de Deus está entre vós!” (Lc 17,21)
Amados irmãos e irmãs,
Paz em Cristo Jesus!
1. Nós, (arce)bispos, padres, coordenadores diocesanos de pastoral, coordenadores regionais de pastorais, cristãos leigos e leigas, do Regional Leste 2 da CNBB, que compreende os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, estivemos reunidos em Belo Horizonte, de 13 a 15 de novembro, para aprofundar nossa caminhada de evangelização. Conduzidos pelo tema “Uma Igreja em saída frente aos desafios e esperanças do mundo urbano”, pudemos refletir elementos que inspiram o anúncio do Evangelho em contextos diversos e desafiadores, como são os ambientes das cidades e grandes metrópoles.
2. Olhar as cidades contemporâneas não é tarefa fácil. Elas são diversas, complexas, com arranjos variados. Estima-se que 88% da população brasileira vivem nas cidades, imersas na profunda ambivalência entre centro e periferia, e marcadas pela elitização das áreas centrais e periferização da pobreza. Isto significa que a geografia de nossas cidades não esconde agudas divisões entre pobres e ricos.
3. Em geral, o modo de vida urbano é constituído pela diversidade de expressões, pela fragilidade dos laços sociais, pela grande mobilidade humana, tudo isto contagiado pelas redes sociais. O cristão é chamado, nesse contexto, a ver a cidade com o olhar de esperança, como lugar de missão, como horizonte pastoral, agindo criativamente na força do Espírito de Jesus, que nos interpela a anunciar o Reino principalmente em situações de injustiça.
4. O discípulo missionário de Jesus deve discernir as luzes e sombras do mundo e da cultura urbanos. A Palavra de Deus é que nos conduz neste discernimento. O horizonte das bem-aventuranças direciona nossos passos. No Sermão da Montanha (Cf. Mt 5-7), bem-aventurado para Jesus é aquele que está no caminho do Reino, que constrói a paz e a justiça na terra. Os justos, animados pela graça salvadora de Cristo, conduzem a construção da fraternidade. Por isso, “ter os mesmos sentimentos de Jesus” (Cf. Fl 2,5) é atitude fundamental do cristão, que o leva a enxergar a vida sempre no horizonte de um “reinar divino”, que não nos deixa cair na tentação de outros reinados.
5. Desse modo, nosso ponto de partida, nosso ângulo de visão para discernir o anúncio do Evangelho nas cidades é a periferia, a ótica dos mais pobres, os excluídos dos reinos que pensam somente no dinheiro e no mercado, que, com seu poder vinculado às mídias, manipulam as massas. Hoje, devemos tomar consciência da urgência de educar nossas comunidades para a fidelidade a Jesus Cristo, Palavra encarnada de Deus, que nos aponta um mundo melhor, a Cidade de Deus, na qual todos tenham vida, em busca da Nova Jerusalém, a Cidade Celeste, lugar da justiça e da paz.
6. Para um agir evangelizador, notamos que, nos grandes mosaicos de nossas cidades, a mobilidade de pessoas confronta com práticas pastorais arcaicas. Papa Francisco insiste, na Evangelii Gaudium, que devemos ter um olhar contemplativo, um olhar de fé, que penetre as cidades como lugar privilegiado da evangelização. Na multiculturalidade contemporânea, deve haver ousadia para anunciar o projeto de Jesus Cristo, aproveitando a sensibilidade espiritual das pessoas e dos grupos, sobretudo da piedade popular. O Papa ressalta, ainda, que “a cidade dá origem a uma espécie de ambivalência permanente, porque, ao mesmo tempo que oferece aos seus habitantes infinitas possibilidades, impõe numerosas dificuldades ao pleno desenvolvimento da vida de muitos” (EG, n. 74). No entanto, o mais importante é que a Igreja seja pobre para os pobres. “Ninguém pode se sentir exonerado da preocupação pelos pobres e pela justiça social” (EG, p. 201). Sem esse ponto de partida, qualquer método de evangelização, ainda que bem elaborado, perder-se-á nestes “tempos líquidos”.
7. Para tanto, a evangelização deve promover comunidades vivas, células em saída, que anunciam a alegria do Evangelho, vencendo o perigo e o pecado da autorreferencialidade. Um trabalho em rede, com parcerias criativas, promoverá a dignidade da pessoa, não a tratando como ser sem rosto na grande massa ou nas grandes celebrações. A evangelização não pode ser vítima de estilos narcisistas que se apresentam nas manifestações midiáticas, nas formas possessivas de lidar com nossas pastorais, posturas inférteis que se distanciam do poder-serviço ensinado por Jesus. Por isso, concluímos que a práxis pastoral deve recuperar as perspectivas do Vaticano II e das Conferências Episcopais Latinoamericanas, que incentivaram a formação de pequenas comunidades em rede e em espírito dialogal, de modo particular, nas periferias existenciais e geográficas de nossas cidades, para que nossa Igreja seja fermento na massa e não religião de mercado, que não leva a uma experiência pessoal e profunda de Jesus Cristo.
8. Louvamos a Deus pelo testemunho de fé e fraternidade de cada cristão em lugares tão distintos de nossas cidades, grandes ou pequenas. Que o Magnificat mariano, poesia dos pobres, seja nossa inspiração cotidiana, no anúncio do Evangelho, alegria, verdade e sentido para nossa vida singular e coletiva.
Belo Horizonte, 15 de novembro de 2018, festa de Santo Alberto Magno