Pe. Geraldo Martins
Desde que iniciou seu pontificado, há pouco mais de cinco anos, o papa Francisco testemunha seu predileto amor pelos pobres, lembrando que a fidelidade da Igreja a Jesus Cristo passa pela opção pelos pobres. Na Evangelii Gaudium, ele nos recorda que “para a Igreja, a opção pelos pobres é mais uma categoria teológica que cultural, sociológica, política ou filosófica”. Recorre a Bento XVI para reafirmar que “esta opção está implícita na fé cristológica naquele Deus que Se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com sua pobreza”. Por isso, deixa claro que seu desejo é “uma Igreja pobre para os pobres” (EG 198).
Para ajudar a Igreja a viver seu amor pelos pobres e, ao mesmo tempo, chamar a atenção do mundo para a realidade dos pobres, o papa instituiu, em 2016, ao término do Ano da Misericórdia, o Dia Mundial dos Pobres, celebrado pela primeira vez no ano passado. Diz o papa: “quis oferecer à Igreja o Dia Mundial dos Pobres, para que as comunidades cristãs se tornem, em todo o mundo, cada vez mais e melhor sinal concreto da caridade de Cristo pelos últimos e os mais carentes”.
Esse diafoiinstituído para “estimular, em primeiro lugar, os crentes, para que reajam à cultura do descarte e do desperdício, assumindo a cultura do encontro”. Porém, todos, “independentemente da sua pertença religiosa”, são convidados a se abrirem “à partilha com os pobres em todas as formas de solidariedade, como sinal concreto de fraternidade”.
Esta inspiração do papa Francisco é profética e nos desafia na vivência de nossa fé. Governados por uma economia que coloca o mercado e o lucro no centro, em detrimento da pessoa humana, somos tentados ao consumismo que nos torna egoístas e gananciosos, indiferentes ao grito dos pobres e excluídos. No Brasil, segundo o IBGE, no final de 2017, havia 14,8 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. Em contrapartida, o 1% mais rico do país abocanhava 27% da renda nacional, de acordo com os pesquisadores franceses Thomas Piketty e Lucas Chancel.
Na mensagem para o Dia do Pobre deste ano, Francisco toma o Salmo 34 para lembrar que Deus escuta o clamor dos pobres. “O Senhor escuta todos os que são espezinhados na sua dignidade e, apesar disso, têm a força de levantar o olhar para o Alto a fim de receber luz e conforto. Escuta os que se veem perseguidos em nome de uma falsa justiça, oprimidos por políticas indignas deste nome e intimidados pela violência”.
Deus quer se servir de nós, hoje, para continuar escutando os pobres que clamam a Ele. O que podemos fazer, individualmente e em comunidade, para ser o ouvido de Deus a escutar o grito dos pobres?