Juntos na luta e na esperança

30/11/2018 às 08h35

Uma das grandes marcas da nossa Igreja é a comunhão. Palavra que significa muito mais do que união. Trata-se da corresponsabilidade, do assumir juntos a vida e a missão da Igreja. O papa Francisco tem insistido muito nesse espírito de ‘sinodalidade’, que quer dizer “caminhar juntos”. E é para garantir esse espírito que, em nossas comunidades eclesiais, se formam os conselhos e se realizam assembleias.

No Brasil, os rumos da ação pastoral e evangelizadora da Igreja são apontados pela CNBB, em sintonia com o Magistério da Igreja e a partir da realidade do povo, sobretudo por meio de suas Assembleias Gerais e das Diretrizes que delas brotam. Contudo, por mais que os bispos sejam pastores, representem o povo de Deus, ouçam as bases, parece que esse jeito de organizar fica meio manco, limitado. Falta um envolvimento maior de outras expressões.

Esse foi, certamente, um dos motivos pelos quais, em 1991, começou a ser gestada uma ideia muito oportuna, uma verdadeira inspiração divina. Justamente no período em que nosso querido Dom Luciano era presidente da CNBB. E a proposta era de organizar um espaço em que todas as expressões da Igreja ministerial se reunissem em assembleia. Seria uma experiência de buscar a unidade e a integração de todas as vocações e todas as forças vivas da Igreja: leigos(as), religiosos(as), consagrados(as), ministros ordenados (diáconos, padres e bispos).

E foi assim que surgiu a “Assembleia dos Organismos do Povo de Deus”. Sua inspiração, no dizer do próprio Dom Luciano, é a eclesiologia do Corpo de Cristo, tão bem expressa nas Cartas de Paulo aos Coríntios e aos Romanos, e o Vaticano II, sobretudo na Lumen Gentium.

Infelizmente, muitos da hierarquia não reconhecem ou não valorizam essa expressão tão rica e bonita da Igreja no Brasil. Por isso, sobretudo o laicato, mas também alguns diáconos e consagrados, encontram muita dificuldade, sobretudo econômica, para participar dessas assembleias e dar a sua contribuição. É que eles não têm a estrutura que a hierarquia possui.

Por essas e outras razões, a Assembleia dos Organismos ficou por nove anos sem acontecer. Agora, marcando o encerramento/culminância do Ano do Laicato, ela voltou. De 22 a 25 de novembro, em Aparecida, representantes de todos os organismos da Igreja estiveram reunidos para aprofundar o tema da sinodalidade da Igreja e do protagonismo dos cristãos leigos e leigas.

Em sua mensagem final, os participantes lembraram o que diz São João Paulo II: “Todos os estados de vida, tanto no seu conjunto, como cada um deles, estão a serviço do crescimento da igreja. São modalidades diferentes que profundamente se unem no mistério de comunhão da Igreja e que dinamicamente se coordenam na sua única missão”(CfL, n. 55). E, se somos o Corpo de Cristo, “quando um membro sofre, todos os membros sofrem com ele. Se um membro é honrado, todos se alegram com ele” (1Cor 12,26). Ou seja, urge cada vez uma atuação corajosa e profética de toda a Igreja na atual conjuntura em que vive o nosso País.

Assim, diante da crise política e doesvaziamento da ética, quando crescem a cada dia a incerteza com relação ao futuro, a pobreza, o desemprego, a violência, o olhar excludente em relação às minorias e aos movimentos sociais, somos convocados a assumir atitudes proféticas e articular iniciativas para a construção de uma sociedade justa, humana e fraterna.

E concluem: Nossa esperança e missão se fundamentam na afirmação de Jesus: “No mundo tereis aflições, mas tende coragem, eu venci o mundo!” (Jo 16,33).

Pe. José Antonio de Oliveira


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