Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*
A solenidade da Epifania mostra o divino Redentor a se revelar a todas as nações pagãs chamadas também elas a integrar o único povo messiânico. Admirável a atitude daqueles sábios que, tendo visto uma nova estrela deixaram seu país, seu conforto, suas riquezas, interpretando naquele astro um sinal de uma manifestação de Deus. Sem conhecerem as Escrituras e os tesouros da revelação bíblica corajosamente partiram rumo a algo desconhecido, patenteando uma total disponibilidade na busca da verdade inerente ao Ser Supremo. Este, de fato, através de diversos meios chama a todos para o júbilo do encontro com sua presença. Aqueles estudiosos da ciência dos astros, astrônomos perspicazes, receberam um impulso de uma estrela usada pelo Espírito da Verdade que os levaria a uma pobre casa de um carpinteiro, onde estava uma criancinha com Maria sua mãe. Com a visita dos magos, porém, reacendeu o ânimo perverso do tirano Herodes que logo intentou assassinar aquele que salvaria não apenas o povo de Israel, mas toda a humanidade. Herodes o cruel, temeroso pelo seu poder, forçaria a fuga da Sagrada Família para o Egito. Felizes, contudo, foram os Magos que com perseverança chegaram até o Redentor. Pela fé descobriram sob a aparência de um menino a majestade daquele que era o Deus feito homem e lhe ofereceram ouro. Prestaram também suas homenagens bem simbolizadas no incenso e anteviram as perseguições que sofreria representadas na mirra. Decodificaram magnificamente o significado teológico daquele encontro. Eis porque avisados em sonho, não mais por uma estrela, mas por um anjo, não regressaram a Herodes e retornaram por outro caminho para sua terra. Deixaram, entretanto, a magna lição de que a salvação que aquela criança ofereceria seria universal e eles abriam o caminho de todos aqueles que se converteriam. Através deles era igualmente o mundo da ciência que se colocava em marcha para Cristo, o Messias. Este mais tarde, elevado na Cruz atrairia a Ele inúmeros seguidores de todas as raças e nações, iluminando-os com a luz do Evangelho. O conteúdo messiânico de todos estes fatos envolvendo a visita dos Magos ficou bem ressaltado pela referência que os grão-sacerdotes e os escribas do povo haviam relatado a Herodes atinente à profecia de Miquéias (Miq 5,1-3). Esse predissera que seria de Belém que sairia um Príncipe que haveria de reger o povo de Israel. A chegada dos Magos em Belém marcou o cumprimento das promessas da antiga aliança e, ao mesmo tempo, anunciou a missão de Cristo, o Pastor do Povo de Deus, Aquele que traria a paz a todo o mundo. Entre muitos judeus reinaria a descrença com relação ao mistério de Jesus, como foi o caso do ambicioso Herodes. Os escribas conheciam a fundo as Escrituras e nelas as profecias messiânicas, mas não captaram sua realização naquele instante histórico. Para muitos Cristo seria sempre um sinal de contradição. Quanto a nós é preciso que penetremos fundo nas mensagens da Epifania, vendo nela uma catequese bíblica sobre o papel que Jesus deve exercer em nossas vidas e tal é o seu apelo, ou seja, que tenhamos uma fé adulta como tiveram os Magos, Maria e José. Estes foram os notáveis atores do episódio hoje recordado, protagonistas de uma atitude de fé e de muito amor ao divino Infante. Cumpre aceitar a esperança que vem a este mundo através da pobreza do Filho de Deus. Os Magos não se acomodaram quando perderam o contato com a estrela. Com efeito, procuraram, indagaram, se alegraram com o reaparecimento do sinal celeste e tiveram o júbilo de um final feliz de todos os seus esforços. Jesus recém-nascido oferecia ensinamentos de desapego de bens materiais, de humildade e, um dia, lá no Calvário seria reconhecido como Rei dos Judeus. Além disso, milhares por toda parte em todos os séculos viveriam em função dele, praticando seus ensinamentos. Maria e José que receberam os Magos continuam através dos tempos a recepcionar os que acatam Jesus como seu Salvador, abrindo a inteligência e o coração dos que procuram com sinceridade o sentido mais profundo do mistério redentor.
* Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.