Constância na prece

10/10/2016 às 08h49

Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho*

O objetivo de Cristo ao narrar a parábola do juiz iníquo e a viúva injustiçada foi mostrado claramente por São Lucas, ou seja, ensinar a seus discípulos que é preciso rezar sempre sem desanimar (Lc 18,1-8). A perseverança é de suma importância, sobretudo na prece de súplica. Se perante um magistrado injusto uma pessoa pobre e desamparada conseguiu aquilo que com razão pleiteava, conclui Jesus que Deus faz justiça aos que nele confiam e continuamente a Ele clamam. A prece tenaz deparará sempre a resposta favorável da parte do Onipotente. Este, contudo, deseja, pedagogicamente, que se persevere na solicitação que o fiel vislumbra como imprescindível para si ou para o próximo. Deus quer a fidelidade de um diálogo, de uma oração iluminada por uma fé inabalável no seu poder sem limites e na sua bondade infinita. Ele não é um senhor desalmado como o juiz da parábola, nem um juiz indiferente, passivo, silencioso, mas quer ser tratado como um pai amoroso. Este pai, porém, diagnostica na constância do pedido que lhe é dirigido o que se passa lá no íntimo do suplicante. Trata-se do impetrante que passa então a reconhecer que de si nada pode, mas firma sua dependência ontológica daquele que é rico em comiseração. A pobreza do coração faz aflorar a necessidade do auxílio divino e leva ao reconhecimento da capacidade divina de atender o que se pede. Rezar assim e amar a este Deus é uma abertura interior de si mesmo, um dom precioso para pode receber deste Deus a graça solicitada. Não se trata, portanto, de se forçar a bondade do Ser Supremo ao qual se demonstra, contudo, uma confiança absoluta. Há algo maravilhoso na atitude do suplicante, pois este não lança clamores no vazio. Sua oração não é um brado sem possibilidade de ser acolhido por quem pode e quer ajudar, atender, consolar. O cristão, entretanto, nunca se esquece do que Jesus também ensinou, mostrando que se deve sempre dizer ao Pai do Céu: “Seja feita a tua vontade”. Muitas vezes o que se suplica na oração não pode ser atendido por muitas razões que Deus sabe melhor do que o ser humano com sua visão limitada. Numa prece humilde está, assim, implícito que o Senhor Poderoso atenderá quando for oportuno. Ele saberá dar algo muito melhor para aquele que reza ou para as pessoas pelas quais se desejam graças especiais, dado que uma prece nunca fica sem resposta da parte do Criadora o narrar a Parábola da viúva injustiçada Jesus, Mestre da Oração, ensina a todos os seus seguidores a procurarem sempre a justiça e a jamais quererem se vingar de seus malfeitores. Para estes se deve pedir o perdão divino como ocorreu com Santo Estevão, o qual ao morrer apedrejado pedia a Deus que não castigasse seus perseguidores. Está registrado no Livro “Atos dos Apóstolos": “Senhor, não lhes impute este pecado” (Atos 8,60). O protomártir imitava Jesus que, martirizado, no alto da Cruz suplicava: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem" (Lc 23, 46). Diante, porém, das iniquidades que se cometem pelo mundo afora muitos se esquecem de que Deus é paciente, porque é eterno, e quer dar oportunidade a todos de se arrependerem, e possam reparar seus crimes e, assim, poderem obter a vida eterna. Como bem se expressou São Pedro, "Ele não quer que alguns pereçam, mas que todos cheguem à conversão”. A longanimidade divina O leva a suportar os erros humanos, oferecendo oportunidade para que haja um arrependimento do pecador e este se converta e viva. Adite-se que mesmo os bons quando oram e suplicam devem estar certos de que Deus é fiel e sempre levará em conta suas preces. Por vezes Ele prova a persistência do orante. É que Deus usa com sabedoria sua paciência. É preciso também que o fiel se examine se está pedindo dentro do tripé sagrado, ou seja, pedindo bona, bene, boni. Isto significa que se deve suplicar sempre coisas boas, necessárias a si e aos outros, com muita fé e confiança e sendo bons, estando na graça divina e unidos a Deus em todos os instantes de sua existência. Nunca se deve suplicar coisas más ~mala; duvidando do poder de Deus de maneira má- male, e sendo maus - mali. Os grandes intercessores foram sempre os santos que viveram ou vivem de acordo com os desígnios divinos Eles têm o poder da prece eivada de uma fé inabalável, alicerçada numa vivência agradabilíssima a seu Senhor que logo os atende. Têm a chave dos tesouros do Deus justo e fiel! A exemplo deles tenhamos coragem e a audácia na prece e seremos atendidos como foi a viúva da Parábola de hoje, não por um juiz iníquo, mas por um Deus que é Pai de misericórdia infinita. *

Professor no Seminário de Mariana, durante 40 anos.


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